quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A maternidade e a Volta ao Trabalho

Essa semana conversava com uma grande amiga minha que está vivendo um conflito comum a muitas mulheres modernas: o desafio de conciliar a maternidade e a volta à vida profissional. Já perdi as contas de quantas vezes esse foi o assunto de conversas com outras amigas que também passaram pela mesma situação... e eu mesma já vivi (e vivo!) a experiência na pele com as minhas duas filhas. Escrevo hoje para responder a essa amiga, que passa por um momento de decisão sobre sua carreira profissional, e pediu abertamente minha opinião a respeito.

Minha intenção ao escrever sobre o assunto não é dizer o que está certo ou errado. Longe disso. Só pretendo instigar as mães (e as que estão planejando!) a refletirem com muito carinho sobre o assunto, e não tomarem decisões iguais a todo mundo sem pensar seriamente. Ninguém é mais mãe ou menos mãe pelo fato de concordar ou discordar das minhas ideias, este texto reflete apenas minha OPINIÃO PESSOAL. Baseada nestes argumentos, tomei a decisão de deixar meu trabalho quando minhas filhas nasceram, e ficar com elas o tempo que eu senti que foi necessário para o seu desenvolvimento saudável. Acredito que fiz uma escolha bem pensada, depois de pesar os prós e os contras. Assumi as consequências da minha decisão, e hoje colho os frutos do que plantei. Pra mim, frutos doces e recompensadores.

Diferenças entre os gêneros

A mulher não é igual ao homem. Graças a Deus, a complementaridade entre os gêneros surge justamente das diferenças. Os bons estudos científicos apontam que até mesmo o funcionamento cerebral é diferente entre nós e eles. A mulher é muito mais sensitiva, usa mais o lado emocional do cérebro em tudo o que faz. Os relatos da pré-história já indicavam que era o homem que saia para caçar e pescar, enquanto a mulher se dedicava aos filhos e à agricultura. Só para exemplificar, é exatamente essa nossa sensibilidade apurada que nos torna capazes de perceber quando algo não anda bem só pelo olhar que o filho chegou em casa. Fomos desenhadas e criadas para sermos o Coração da casa. E que maravilha quando uma mulher assume com alegria esse papel! Os seus braços se tornam o refúgio, o lugar seguro pra onde os filhos e até o marido podem se aconchegar.

O homem foi projetado para ser a Cabeça da casa. Foi dotado de qualidades que o tornam forte para prover o sustento da casa e estar preparado para direcionar a família nos momentos de dificuldade. É capaz de agir mais racionalmente e focar um objetivo, uma meta, para a qual guiará seus passos. Se ele agisse guiado pelas emoções, como a mulher, certamente se fragilizaria com mais facilidade diante dos desafios que estão diariamente presentes na vida de qualquer família normal.

Como Mulher, não vejo essa diferença com maus olhos. Não nos torna inferiores nem merecedoras de menos respeito. Não somos melhores e nem piores. Acredito que é justamente aí que reside a complementaridade do casal. Precisamos um do outro, acrescentamos um ao outro, e isso é realmente maravilhoso e engrandecedor, se bem compreendido. Se cada um desempenhar bem o seu papel, pode-se alcançar o tão almejado equilíbrio familiar.

A “vocação” da mulher moderna

Nós fomos educadas de forma muito diferente que as nossas avós. Elas eram preparadas desde cedo para assumirem com carinho os cuidados com a casa e os filhos, e cresciam acreditando que encontrar um bom marido e com ele ter os seus filhos era sinônimo de realização plena. Felicidade certa.

Em algum momento da nossa história da humanidade (aqui não cabem todas as discussões acerca deste tema!), isso já não foi mais suficiente. A mulher precisava ser igual ao homem, em todos os sentidos. Precisava ter os mesmos direitos, e graças a Deus tivemos inúmeras conquistas nesse vasto campo da desigualdade de gêneros. E, para que a mulher fosse realmente “ igual” ao homem, ela também poderia (e deveria) estar inserida no mercado de trabalho tanto quanto ele.

Claro que nenhuma mudança se faz sem algumas perdas. Se, por um lado, foi muito bom para a mulher poder escolher uma profissão, estudar, contribuir com a renda familiar e seguir a carreira dos seus sonhos, por outro lado, a família tem padecido. Como bem explica o pediatra Dr. José Martins Filho, nossas crianças têm sido “terceirizadas”. Os primeiros anos da infância, aqueles que comprovadamente definem a personalidade que nossos filhos terão na vida adulta, tem sido entregues nas mãos de outros cuidadores.
Não tenho dúvidas que qualquer mãe que preze seu papel pensa muito bem antes de deixar seu filho com um desconhecido. Algumas vezes, essa é a única opção para que não falte o mínimo necessário para a sobrevivência. E tenho pra mim que essas mães guerreiras hão de receber uma recompensa proporcional d’Aquele que as designou para tal tarefa.

Novamente, não estou falando das mães que não tem outra opção. Quando não há outra possibilidade, quando o sustento da casa depende da contribuição financeira da mãe, infelizmente, é o que é possível. Não há que se discutir. E acredito que essas mães são tão mães quanto qualquer outra (ou talvez até melhores!).
O fato é que tenho visto muitas mães deixarem seus filhos pequenos (bebês de colo) para trabalhar sem pensar seriamente se isso é mesmo necessário. Se tornou tão comum ver escolinhas lotadas de bebês com 4 meses ou menos que nos parece seguro, inofensivo e até adequado. Se todo mundo faz, que mal tem que o meu bebê também fique na escolinha? (algumas vezes, o dia todo...)

Quanto mais nossa sociedade se modernizou, mais acreditamos que, para sermos felizes, precisamos ter dinheiro para consumir. Se eu não posso comprar, gastar, comprar o que é necessário (e o que não é também), então não sou uma pessoa bem sucedida na vida. Agora, a mulher também precisava trabalhar, sem deixar de lado suas outras tarefas (casa e filhos). Desde pequenas, ouvimos nossos pais nos dizerem que deveríamos estudar, trabalhar, ter uma carreira bem sucedida e uma conta bancária bem gorda, para não dependermos financeiramente do nosso cônjuge e não precisarmos ficar em casa cuidando da casa e dos filhos. Nos ensinaram que é assim que seríamos felizes (Ou foi só na minha casa???).

Aí é que nasce o problema. Nossa natureza continua sendo feminina. Quando a mulher precisa assumir o papel de ser Cabeça, junto com o marido, pode acontecer que deixemos esquecida parte da nossa essência feminina.  A preocupação com o sustento da casa e a necessidade de tornar-mo-nos “fortes” para enfrentar as dificuldades financeiras acabam forçando nossa sensibilidade a transformar-se em dureza, firmeza, fortaleza. Não raro aparecem as dores de cabeça, as cólicas menstruais, mastites...

A decisão de deixar o trabalho

Lembro até hoje de quando fui levada a pensar seriamente sobre esse assunto. A Fernanda, minha primeira filha, já tinha quase um aninho, eu havia deixado meus 2 empregos pra ficar com ela em casa, mas no fundo já estava inquieta por me sentir “ fracassada” profissionalmente. Ao mesmo tempo que meu coração de mãe pulava de alegria por estar com ela em casa, acompanhando cada nova conquista, quando alguém perguntava se eu estava trabalhando, eu dizia que não, e lá dentro a minha mulher do século XXI reclamava, dizendo que essa não era a vida que eu deveria estar levando. Eu queria ficar em casa, queria maternar, mas não estava em paz.

No casamento de um amigo encontrei a Juliana, que é uma amiga muito querida, uma mulher de Deus e uma mãe exemplar (pra mim!). Ela estava com seu caçulinha de 40 dias no colo, o Gabriel, e me contou que havia parado de trabalhar quando o seu filho mais velho nasceu e que iria ficar em casa com os meninos até que o mais novo completasse  4 anos.
Juliana e eu

Confesso que fiquei “chocada” na hora: 4 anos? Afinal, eu já estava há quase um ano em casa e estava achando que era grande coisa (já que todas as minhas amigas haviam voltado ao ritmo normal de trabalho pouco tempo depois de se tornarem mães). Mas sabe quando dá um “click”? Alguma coisa mudou dentro de mim, e comecei a me questionar: o que é mais importante?? Será que vai fazer tanta falta assim se eu não trabalhar?

Depois desse dia, passei a observar as histórias de outras mulheres que também haviam decidido dedicar-se à maternidade, e aos poucos aquela inquietação que eu tinha foi se esclarecendo. Essa virada dentro de mim me tranquilizou, me acalmou, e me fez repensar muita coisa. Senti que não deveria voltar ainda a trabalhar em tempo integral.

A volta ao trabalho

Quando a Fernanda tinha 1 ano e 4 meses me chamaram na UNIOESTE (havia participado de um processo seletivo para dar aulas para o curso de Fisioterapia), com uma carga horária que tomaria cerca de 20 horas semanais. Pensei, conversei com meu marido e senti que daria conta de conciliar essa quantidade de trabalho com o tempo que queria dedicar pra minha pequena. Organizei os horários das aulas pra que coincidissem em sua maioria com os horários das sonecas dela (no comecinho da manhã e após o almoço), e deu certo. Quando ela acordava eu era dela. Deixava todas as minhas aulas pra preparar à noite, depois que ela dormisse (e isso às vezes ia madrugada afora), pra poder sobrar mais tempo durante o dia. Fomos muito no quintal, lemos muitas historinhas, passeamos muito...

Quando resolvi que ela já estava pronta pra ir à escola (com 2 anos e meio), mudei novamente meus horários de trabalho para o período da tarde. Assim, as manhãs eram pra ela, à tarde ela ia pra escola e eu ia trabalhar (das 13:30 às 17:30h), e depois disso estávamos juntas novamente. Lembro que a professora dela comentou que, mesmo trabalhando há anos com a educação infantil, nunca tinha visto uma criança tão bem preparada para a escola. A adaptação foi ótima, e eu estava tranquila por ter dado o que ela precisava no momento certo.

Continuei trabalhando meio período, até que veio a Alice. Aqui cabe uma observação: quando a Fernanda nasceu, foi fácil largar dos 2 empregos, porque o que eu ganhava não era assim tão compensador, e acabaria dando só pra pagar uma escolinha pra deixar ela. Então, se era pra trabalhar só pra pagar a escola, era melhor eu mesma cuidar. Mas dessa vez foi diferente. Nessa época, meu emprego como professora era muito melhor financeiramente. A Alice nasceria no fim do meu contrato (que era por 2 anos), eu tive a oportunidade de me inscrever novamente para o teste seletivo, e certamente seria aprovada. Mas isso implicaria em retornar ao trabalho com um bebê de 2 meses em casa (o estado oferece os 6 meses de licença, mas como meu contrato era por prazo determinado, pra ser recontratada eu teria que abrir mão da licença). Não pensei duas vezes: simplesmente não me inscrevi para a prova.

Meu marido concordava comigo a respeito da minha maneira de educar a Fer, sobre o meu desejo de dedicar meu tempo e atenção pra ela, mas nessa hora o financeiro estava pesando mais. Ele tem um bom trabalho, graças a Deus, mas só com ele trabalhando, não daria pra guardarmos dinheiro para a entrada de um financiamento de uma casa. Nós já temos 6 anos de casados e ainda moramos em uma casa alugada, até hoje, porque decidimos que o melhor investimento seria eu ficar em casa com a Alice. Ele me apoiou mesmo com um pouco de receio no momento, mas hoje concorda que escolhemos o melhor caminho. Temos o resto da vida pra comprar uma casa, tenho o resto da vida pra trabalhar, mas os primeiros anos da vida das nossas pequenas não vão voltar.

Os bons estudos já mostraram que a personalidade da pessoa se forma até os 6-7 anos de idade. E justamente nessa idade, muitas pessoas acreditam que não há problema algum em deixá-las sob os cuidados de um terceiro, ou de uma escola, que não tem com a criança o mesmo vínculo que os pais. Não se trata simplesmente de encontrar alguém que alimente, dê banho e tome conta dos nossos filhos.

Fiquei em casa com a Alice, curti cada instante da maternidade, aproveitei pra ficar com a Fernanda durante a manhã também (ela estuda à tarde), e não me arrependo nem um pouquinho da decisão que tomei. E dessa vez, pra mim, estive em paz. Minha cabeça já era outra, e eu sabia que a melhor coisa a fazer neste momento era ser MÃE, com todas as letras. Acabei nem ganhando a licença maternidade, porque meu contrato encerrou assim que a Alice nasceu, mas nos organizamos em casa de forma que não fez falta. Passamos nós mesmos a fazer o serviço da casa, passei a acordar mais cedo pra lavar roupa, mas não dá pra descrever o sentimento de realização cada vez que estava com as meninas, dando o que de mais importante eu poderia dar pra elas: nem brinquedos novos, nem roupas caras, nem uma festinha de aniversário que me custaria um olho da cara. Estava dando EU MESMA.

Nesse ano eu avanço um passo nessa minha caminhada. A Alice está com 1 ano e 8 meses, e eu novamente vou voltar a dar aulas, um período por dia. Acredito que vá conseguir organizar meus horários na faculdade no início da tarde, quando ela dorme bastante (umas 3 horas seguidas!), de forma que ela não vai sentir tanto a minha falta. Continuarei em casa pelas manhãs, tendo tempo pra brincar no quintal com as duas quando elas acordarem. Sinto meu coração tranquilo, e não, não estou frustrada profissionalmente. Não “parei” a minha vida para cuidar das minhas filhas. Minha vida mudou quando elas chegaram, e hoje minha vida são elas! Minha prioridade são elas.

Dificuldades

Já ouvi inúmeros comentários no sentido de que a mulher não deve deixar de trabalhar para não se sentir frustrada, por abandonar sua carreira profissional, e quem sabe um dia ainda ficar depressiva, pois depois que os filhos crescerem e forem embora ela ficaria sozinha e sem sentido pra sua vida. Respeito essa opinião, mas pra mim ela não é verdadeira. Não acho que a mulher deva ABANDONAR sua vida profissional, mas tenho certeza de que faz toda a diferença se ela REDUZIR seu ritmo de trabalho, pelo menos nos primeiros anos da criança. A meu ver, seria perfeito se toda mãe pudesse ficar em casa no primeiro ano de vida de seu filho, e depois disso pudesse trabalhar em tempo parcial, tendo ainda um tempo pra dedicar atenção até que a criança já esteja maior (até que idade? Ainda não sei, não cheguei nessa fase ainda! Minha primogênita só tem 4 anos! Rs!). E, quando for a hora, a mulher pode voltar ao seu ritmo anterior de trabalho... Acredito que a realização pessoal da mulher não consiste apenas em ter uma carreira bem sucedida. Passa por ela, é claro, mas também em saber que ocupou sua vida para cumprir sua missão primeira, que é a Maternidade.

Tá, eu sei, pode parecer utópico. Vivemos num país no qual muitas famílias realmente PRECISAM da renda da mulher, e não há outra escolha. As mães que NÃO TEM outra opção, certamente serão recompensadas por Deus... Ele há de amparar esses pequenos que precisam ficar longe das suas mães. Mas nem sempre é assim, às vezes a mulher tem a escolha de enxugar o orçamento e ficar em casa, mas não o faz pelo simples fato de nunca ter pensado seriamente a respeito! Outra situação para a qual eu não tenho uma resposta é quando a mãe é funcionária concursada, e tem necessariamente que voltar ao trabalho após a licença, para não perder o emprego. Quem sou eu para dizer que essas mulheres devem deixar sua estabilidade? Cada mulher deve avaliar sua real necessidade, e fazer o que está dentro da sua possibilidade.

Aqui cabe também um comentário sobre o que definimos como “necessidade”. Esse assunto é uma questão de prioridades: preciso trabalhar para garantir o sustento da casa, ou porque eu preciso comprar todo mês uma roupa ou um sapato novo? Será que precisamos mesmo trocar de carro ou de celular todo ano? Será que precisamos ficar longe das nossas crianças quando são ainda tão pequenas, para ter dinheiro e poder comprar os brinquedos caros que eles nos pedem, com os quais nunca teremos tempo pra sentar e brincar com eles? O consumismo da nossa sociedade nos convenceu de que precisamos sempre de mais alguma coisa, nunca temos o suficiente. E isso é sério... Será que dinheiro é sinônimo de felicidade? Meu marido sempre me conta com alegria os fatos da sua infância, mesmo tendo passado muita necessidade. O pai, que era carpinteiro, trabalhava sozinho para garantir o sustento da casa, enquanto a mãe ficou em casa para cuidar dos cinco filhos. Não tinham nada além do essencial para viver, mas tinham o mais importante... e eram felizes! Não quero dizer com isso que esse é o modelo correto de família, mas que é possível ajustar o padrão de vida temporariamente para dedicar-se ao que é mais importante... Você já pensou sobre isso?

Chego hoje à conclusão de que é muito bom “permitir-se” mudar de ideia. Eu mesma tinha outros conceitos, outra ideia de como viveria minha vida depois dos filhos, mas fui aos poucos moldando o que hoje considero como melhor. Quem quiser saber mais sobre o assunto, um autor que me ajudou muito nesse processo de mudança e de amadurecimento foi o Dr. José Martins Filho, pediatra que admiro e respeito como profissional que busca incentivar um novo (será novo?) modelo de família moderna. Seu livro “Crianças Terceirizadas” é maravilhoso, assim como os demais, e aqui e aqui você encontra links para duas palestras dele que gosto muito.

Que cada uma de nós saiba avaliar com amor e sabedoria as decisões que tomar. Que nossa Maternidade seja consciente, pensada, e sempre conduzida para o Amor!


Ajudando a mamãe a estender roupas

Café da manhã na casinha


Bolinhas de sabão no quintal!

 
Princesas da minha vida!