quarta-feira, 30 de julho de 2014

Relato do nascimento do João Victor - parto natural domiciliar em Cascavel-PR

A Scheila sempre imaginou que ia fazer uma cesárea quando fosse ter um filho. Até ouvir histórias de partos naturais, que foram aos poucos mudando seus conceitos. Somos amigas desde 2003, e desde que me tornei doula (em 2010) sempre contei como aconteciam os partos que eu acompanhava, e ela foi se apaixonando. Quando ela engravidou, tinha certeza de que queria um parto natural. Começou a participar do GestaCascavel, apoiada pelo seu marido Nilson, que a incentivou e comprou a ideia junto com ela. Durante a gestação conversamos muito, falamos sobre o medo do parto, até que ele foi desaparecendo. Já com 8 meses, eles conheceram a enfermeira obstetra Honielly, e decidiram que o parto seria domiciliar.

Nas últimas semanas, bateu a ansiedade. Com 37 semanas ela já sentia bastante o peso na lombar, teve uma infecção no ouvido e uma crise alérgica muito forte, e sentiu vontade de desistir do parto. Pra que esperar mais??? Nessa hora, valeu muito o apoio das pessoas que estavam em volta. O marido, a mãe, o padrasto... todos lembraram-na do quanto ela havia se preparado para o parto, e do quanto ela queria que a hora do João fosse respeitada. Vale a pena esperar... Sim, vamos esperar!!

Com 39 semanas e 4 dias, às 20:20h da noite do dia 21/01/14, recebi a ligação tão esperada: a bolsa havia rompido!!!! =D As contrações ainda não haviam começado, então orientei ela a jantar, tomar um banho bem quentinho e ir deitar cedo, pra descansar, pois a qualquer momento o trabalho de parto iniciaria. Avisamos a Honielly, eu fui deitar, e disse que ela poderia me chamar assim que sentisse que precisava de ajuda. Mas quem disse que ela conseguiu dormir??? Rs! As contrações começaram por volta da 1:00h, ainda como cólicas, mas já desconfortáveis. Quando ela me ligou novamente eram 5:17am, ela ainda não tinha conseguido dormir. 


Cheguei junto com a Honi lá, as contrações ainda estavam espaçadas (a cada 4 minutos), e ela quis que fosse feito um toque: 3 cm de dilatação. Então, orientamos ela a se deitar e apagar a luz, pra tentar cochilar um pouco nos intervalos. O marido dela ficou com ela no quarto, e eu, a mãe dela, a Honi e a Heni fomos pra sala dormir (no sofá, coisa linda de ver! Rs!).

As contrações deram uma espaçada, o que foi ótimo, pois assim ela conseguiu descansar um pouco. Perto das 8h da manhã a mãe dela levantou pra fazer um café, eu fui comprar pão, e quando voltei, percebi que a Scheila estava novamente respirando mais forte durante as contrações, que tinham ritmado novamente. Fui no quarto, ela já estava sentada, dizendo que ficar deitada já estava ruim. Fomos pra mesa tomar um café da manhã, ela comeu, conversou, e se mostrava muito tranquila durante todo o tempo. Estava realmente feliz por estar em trabalho de parto... afinal, as contrações tão esperadas estavam acontecendo! Fomos sentar no quintal, ela ganhou massagem na lombar, curtiu o sol (que estava maravilhoso), e as contrações vinham suaves.

A Honielly fez um novo toque às 9h da manhã, e constatou que já havia 6 cm de dilatação no colo uterino. Porém... não sentia a fontanela posterior do João Victor (a “moleirinha”), sentia a testa, os olhos e o nariz! (aliás, nesse exame de toque, quando passou o dedo perto da boca do João ele MORDEU o dedo dela! Rs! Dá pra acreditar??). Significava que ele estava encaixado em uma posição não muito favorável para o nascimento, o que poderia prolongar muuuuito o trabalho de parto, ou até mesmo se tornar uma indicação de cesárea. Nesse primeiro momento, a Honi não quis assustar a Scheila, só falou pra ela que precisaríamos ajudar o João com algumas manobras, que facilitariam o encaixe e a descida dele. E assim fizemos.

Existem algumas manobras que auxiliam o bebê a “desencaixar” da pelve, o que abre uma possibilidade para que ele, ao encaixar novamente, o faça da maneira correta. Pra isso, a Scheila precisaria ficar uma hora em uma posição parecida com a de quatro apoios, mas com o peito encostado na cama, para que o quadril ficasse mais alto que o corpo, enquanto alternávamos movimentos no quadril nos intervalos entre as contrações. Se tudo desse certo, nas duas horas seguinte à manobra o João tentaria se encaixar novamente, agora do jeito certo.

Explicamos pra ela, ela concordou, e durante essa uma hora sentiu MESMO vontade de desistir, de não fazer mais manobra nenhuma. A posição não era a que ela queria naquele momento, mas ela fez um esforço graaaaaande pra conseguir ficar uma hora inteira. Quando terminamos a manobra já era quase uma hora, a Honi fez outro toque, e a dilatação e a apresentação do bebê continuavam iguais.

Nessa hora sentimos que o clima ficou tenso. Embora a apresentação de face seja muuuuuito rara (1 em cada 600 a 1200 nascimentos!), na semana anterior já tínhamos acompanhado outro caso semelhante, que acabou evoluindo pra uma cesárea. A Scheila conhecia a história da outra gestante, e sentiu tudo estava indo por água abaixo! Ela comeu alguma coisa e foi pro chuveiro, pediu pra ficar sozinha, e chorou. Depois ela me contou que viu um filme passar pela cabeça dela nessa hora... quantos planos já havia feito na vida, e sempre eles acabavam de um jeito diferente do que ela havia planejado!! Será que, MAIS UMA VEZ, ela ia sonhar com alguma coisa, e ia ter que se conformar com algo diferente??? (E, pra mim, foi nessa hora que o milagre aconteceu, hoje vejo isso!). Quando saiu do banho, com aquela expressão de desânimo, olhei bem firme nos olhos dela e disse que o caso dela era diferente: a apresentação o João estava folgada, ou seja, ele ainda tinha alguma chance pra tentar encaixar certinho (no outro caso, durante o exame de toque, a Honi sentia que o bebê não se movia nada durante a contração, e que era muuuito difícil tentar desencaixá-lo).

A Honielly sugeriu que fôssemos fazer um ultrassom, pra verificar exatamente qual era a variedade de apresentação do João, pra poder tentar alguma manobra diferente. Mas já avisou a Scheila que levasse as coisas dela e do bebê, porque, dependendo do resultado do exame, talvez já ficássemos no hospital. Lembro bem daquela hora... a Scheila entre uma contração e outra alternava roupinhas e lágrimas, e eu com o coração na mão, desejando poder fazer alguma coisa pra ajudar a resolver aquela situação... Enquanto íamos pro carro, a Scheila comentou algo sobre ter sentido vontade de empurrar durante a contração, mas ignorou, pois o último toque havia mostrado 6 cm, não era possível que já fossem puxos. Mas a vontade continuou no carro... as contrações haviam espaçado novamente com toda aquela adrenalina, mas continuavam bem intensas.

Chegamos na clínica às 14h. O obstetra dela havia chegado junto conosco e passou ela na frente das outras clientes. Antes mesmo de fazer o ultrassom resolveu fazer um exame de toque, e constatou: 8cm, e João encaixado!!!!! Nem foi preciso fazer o ultrassom. Mais uma vez ela chorou, mas agora por não acreditar no que estava acontecendo. Saímos de lá em festa! Além de poder voltar pra casa, agora ela já estava chegando perto... faltava só mais um pouco!!

Quando chegamos na casa dela, ela já sentia calor. Trocou as blusas de lã por um vestidinho de verão, colocamos umas músicas que ela gostava de colocar pro João ouvir durante a gestação (músicas de ninar da Aline Barros), e ela e o Nilson não desgrudaram mais. Namoraram, dançaram abraçadinhos, se olharam nos olhos... e as contrações voltaram a todo vapor! A avó paterna também chegou, e ficou junto com a outra vovó na cozinha, aguardando a hora do João chegar!


Enquanto a Honi e a Heni preparavam no quarto todo o material para o parto (umas 579 caixas de coisas! Rs!), a Scheila já sentia os puxos e tentava encontrar a melhor posição. Ficou um pouco em pé, tentou sentar na banqueta de parto, mas gostou mesmo da posição de quatro apoios em cima da cama. Ali no quarto deles, no ninho deles. Agora já não tinha mais medo, nem preocupações, nem nada: chegou no estágio de ACEITAÇÃO. As contrações doíam, mas ela as desejava cada vez mais, porque estava chegando a hora de conhecer o seu pequeno! “Vêm, filho... ”. As contrações vinham poderosas, com aquela força incontrolável, como ela nunca havia experimentado. E ela se entregou. Respirou fundo, apertou a mão do marido, da doula e de quem apareceu por perto!! Rs! E gritou. GRITOU. Não de desespero. Nem de dor. Eram gritos de libertação!!! Enfim, ia acontecer!!! Não, seus planos não iam dar errado de novo!! Estava chegando a hora!! Depois ela me contou que a cada grito que dava, sentia um alívio, parece que precisava daquilo!

Quando, enfim, vimos o João coroar, a Heni correu na cozinha e chamou as duas vovós, que entraram no quarto tão quietinhas que a Scheila nem percebeu sua presença (aliás, nessa hora, ela já estava na partolândia: estava tão concentrada em si mesma e no nascimento que nada que viesse de fora poderia fazê-la se distrair). Mais algumas contrações, e saiu a cabecinha... ele girou sozinho... ambiente tranquilo, ninguém com pressa, TODOS esperando que ela e o bebê fizessem aquilo sozinhos, como sua natureza mandava que acontecesse!

Até que a próxima contração viesse, expliquei pras vovós que ele não tinha risco de ficar sufocado, pois continuava recebendo oxigenação pelo cordão umbilical (porque vi a cara de preocupação delas com aquela cabecinha pra fora! Rs!)

Na próxima contração, ele escorregou para as mãos da Honi, logo ficou coradinho e chorou. Foi colocado no colo da Scheila, e de lá não saiu por um bom tempo. Nasceu às 16:15h do dia 22/07/14, com 3.380g, apgar 10/10. 

Nessa mesma hora também nasceu um pai. E uma mãe, que agora é uma nova mulher, que não tem mais medo de planejar, e acredita que seus sonhos podem se tornar realidade. E também aprendeu que, na maternidade, não dá pra controlarmos tudo... é preciso saber respeitar o tempo da criança, em todos os sentidos. Tempo para estar pronto pra nascer, tempo para depender exclusivamente da mãe, tempo para adormecer no colo, tempo para precisar de atenção integral... e assim por diante, pela vida toda!

O papai Nilson cortou o cordão. A Scheila amamentou o João na primeira meia hora.  Depois que ele adormeceu ela se levantou, foi tomar banho, e depois ganhou um café da tarde servido pelo marido na cama. Nem parecia que tinha acabado de parir.
A placenta demoroooooou pra sair (só pra deixar a parteira ligadona! rs!), aguardamos 3 horas até que ela saísse. A Scheila não tinha sangramento nenhum, o que nos permitiu aguardar o tempo que fosse necessário até a dequitação.

Houve uma laceração de grau 2 no períneo, a Honi suturou com alguns poucos pontinhos, e tudo certo. O ambiente da casa era de festa, e só saímos de lá às 9:30h da noite, depois do jantar preparado pela vovó Rosângela.


Scheila e Nilson... não sei nem expressar aqui em palavras o que vivi nesse dia. Presenciar esse momento tão maravilhoso da vida de vocês me fez amá-los ainda mais, e admirar ainda mais essa cumplicidade que vocês têm. Que Deus os abençoe em cada passo dessa deliciosa jornada que é a paternidade... e que o coração de vocês continue sempre impregnado das lembranças maravilhosas que o nascimento do João deixou! =D

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Relato do Nascimento do Samuel (Mayara e Leandro, 08/07/14)

Bebês demoram 40 semanas para nascerem, certo? Nem sempre!!

O Samuel provou isso. A mamãe Mayara e o papai Leandro desde sempre tinham no coração o desejo de respeitar o tempo do seu bebê, permitir que ele avisasse a hora que estava pronto para nascer. E assim foi.
Ainda lembro o dia que eu estava no mercado e recebi uma ligação emocionada do casal, contando que estavam grávidos. Que alegria!!  Eu e meu marido conhecemos a Mayara e o Leandro quando ainda nem namoravam, vimos eles ficarem noivos, testemunhamos seu casamento... e quando soubemos da gravidez, comemoramos e choramos com eles.

A Mayara sempre quis ter um parto normal, e sabia que, pra conseguir isso, precisava buscar informação. Participou de (quase) todos os encontros do GestaCascavel que aconteceram durante sua gestação (na verdade, ela começou a ir quando ainda era tentante! Rs!). Estava sentindo-se preparada.

A gestação foi tranqüila, as semanas se passaram, até que, quando ela estava com 37 semanas, começou a sentir pródromos (contrações irregulares que começam e param, ainda não são trabalho de parto). A ansiedade era inevitável... O Samuel já estava com 3 Kg nessa época, e chegamos a pensar que ele nasceria antes das 40 semanas mesmo. Mas as contrações não ritmaram, não era a hora ainda. A partir disso, cada dia que se passava deixava a expectativa: será que é hoje? Ela já estava sentindo bastante desconforto nas costas, no púbis (teve uma pubalgia), nos punhos (teve síndrome do túnel do carpo), já não conseguia dormir direito à noite... e chegou a duvidar se conseguiria manter a calma até que o Samuel quisesse nascer. Conforme a barriga foi ficando maior, os questionamentos das pessoas ficaram mais intensos: “ meu Deus, esse menino tá enorme! Quando é que vai nascer???”

Começou aí a experiência de superação.  Aquela Mayara, que se reconhecia ansiosa, foi aprendendo a esperar. Se afastou do trabalho, porque estava ficando difícil, e se viu obrigada a aprender a não fazer nada. Acalmar o ritmo. A mulher ativa e trabalhadora, que desde sempre foi independente e dona do próprio nariz, precisou ficar em casa, dedicar-se à preparar o ninho pro seu filhote. A cada dia, repetia pro Samuel que ele poderia nascer quando estivesse pronto, que ela respeitaria o tempo dele, e que mesmo querendo conhecê-lo logo, ela havia decidido ESPERAR. Decidiu não ter o controle sobre a situação. Quando passou das  40 semanas, teve que reafirmar isso várias vezes, todo dia, toda hora, pra não desistir. E não foi uma tarefa fácil. Mas foi assim que a Mayara conquistou o que precisava para tornar-se Mãe: entender que o respeito pelo seu pequeno grande Samuel era mais importante que a opinião dos outros, ou que a sua própria vontade.

E a gestação alcançou as 41 semanas. Mais um dia. Mais dois...

O TRABALHO DE PARTO

No dia 06/07, conversamos muuuuuito por mensagens. A Mayara me escreveu que entendia porque precisava esperar tanto. Deus estava trabalhando o coração dela, e tudo isso tinha transformado o seu jeito de ser. Ela estava tranqüila, e sentia-se pronta. Ainda brinquei com ela: “ Samuel, agora vc pode nascer! Vêm, bebê!”

Na madrugada do dia 07/07/14, com 41 semanas e 2 dias, às 4:21h, recebi a ligação mais esperada das últimas semanas. “Mari, estou tendo contrações faz mais de uma hora!! Estão bem espaçadas ainda, só liguei pra avisar”. Combinamos que, se tudo continuasse como estava, ela tentaria descansar, de manhã tomaria um café bem reforçado e conversaríamos novamente. E o dia todo foi assim. Contrações suaves, de 5 em 5 minutos.  À tarde, as contrações ficaram um pouco mais intensas, e às 4:30h ela me ligou pedindo  pra ir ficar com ela em casa.

Cheguei lá junto com a enfermeira obstetra Honielly, que o casal contratou pra assistir o nascimento. No primeiro toque, às 18:00h, ela tinha 2 cm de dilatação do colo do útero. O casal estava feliz demais. A Mayara era só sorrisos, afinal, depois de tanta espera, FINALMENTE, estava chegando a hora. Todo mundo estava tranquilo aguardando que o trabalho de parto ativo iniciasse (até a fotógrafa Kelly Donato, que estreou seu trabalho como fotógrafa de partos!), e o Leandro “profetizou”: vai ser às 20h! E assim foi: as contrações ritmaram (3 a cada 10 minutos) às 20:00h, exatamente. =D







 O trabalho de parto foi inesquecível. Um ambiente completamente relaxado, pouca luz, musiquinhas da preferência da gestante tocando, massagens na lombar, movimentos na bola, bolsa de água quente nas costas, muito amor e carinho pra esperar o Samuel...

Às 21:30h chegou a nossa janta (comida chinesa). Quase morremos de rir da Mayara, apurando pra engolir tudo rapidinho entre uma contração e outra (elas vinham a cada 3 minutos!). Quando vinha a contração ela levantava da cadeira, respirava, rebolava, e depois voltava a comer. =D Tranquilo assim, completamente dona da situação. Alternando entre chuveiro, bola, fotos, caminhada, conversas, risadas, histórias, mais fotos...
Meia noite a Honi fez outro toque, e constatou 5 cm. Disse que, ao tocar, sentia só a bolsa, que a cabeça do Samuel não estava pressionando o colo para forçar a dilatação. Isso porque a May tinha bastaaaante líquido (por isso o barrigão, né, May?), e que se a bolsa rompesse expontaneamente, as coisas andariam mais rápido. Eu e a Honi fomos pra sala e deixamos o casal no quarto pra que tentassem descansar um pouco (sim, dá pra cochilar entre uma contração e outra! rs!). A cama ficou desconfortável, e a May quis ir sentar na bola. O Leandro atrás dela amparando as suas costas, e rezando pra que a bolsa rompesse. Às 2:30h, ploft!! Ela rompeu (segundo o Leandro, saíram uns 3 litros de líquido amniótico! Hehehe!). Nova ausculta, coraçãozinho do Samuel ok, contrações agora vindo mais intensas, e todos com ânimo renovado! “Mayara, está pronta?” “Sim, Mari! Estou. E não tenho medo de nada!”.

Fomos pra cozinha, o Leandro passou um café, serviu umas bolachinhas e eu fiz um brigadeiro feito de chocolate meio amargo (que, cá entre nós, foi o melhor que já fiz! Hehe!).  E a madrugada foi chegando. 

3:30h a parteira e o marido foram (tentar) descansar um pouquinho, ficamos eu e a May na sala. Aquele momento, pra mim, vai ficar guardado pra sempre. A May sentia as contrações ficando mais intensas, e chorava de alegria dizendo “Mari, eu esperei tanto por esse momento, que parecia que ele não ia chegar nunca! E agora está acontecendo!”... Disse pra ela que ela tinha tudo o que precisava pra suportar tudo. Que a força estava dentro dela... Ouvimos Rosa Saragoza (Sabemos parir - https://www.youtube.com/watch?v=jC8lqAwBycs), choramos, sorrimos... sentimos que tudo estava caminhando como deveria ser! Deus estava cuidando de todos os detalhes, conforme havia prometido.

5:00h a Honi veio fazer um novo toque, constatou 8 cm de dilatação, mas sentiu que alguma coisa estava diferente. Ao tocar, não sentia as fontanelas do Samuel (a “moleira”). Sentia alguma outra parte da cabeça, que ainda não tinha conseguido identificar exatamente. Conversamos com a Mayara, e sugerimos ir para o hospital, pra então avaliar novamente e, se fosse o caso de variedade de posição mesmo, tentarmos algumas manobras para reposicionar.

A CHEGADA NO HOSPITAL

Chegamos às 6:00h, a Honi avaliou novamente, o obstetra também avaliou, e confirmou que a cabeça do Samuel estava “defletida” (não-fletida). Ou seja, no momento que a bolsa rompeu, ele desceu e não encaixou a cabeça como deveria, ele estava encaixado “de face”.  Na imagem abaixo, dá pra entender melhor:

A apresentação “A” é a posição mais comum, quando a cabeça do bebê está fletida. É mais fácil pro bebê sair quando a fontanela posterior está encaixadinha, pois o diâmetro da cabeça é menor assim. A Posição “B” é deflexão de 1 grau (ou bregmática), ou seja, quando se sente a fontanela anterior ao exame de toque, o que não inviabiliza o parto normal, apesar de o período expulsivo poder ser um pouco mais demorado.

O caso do Samuel foi algo entre a letra “D”, uma deflexão de 3 grau (ou de face), e “C” (de fronte). Nesse caso, o diâmetro pra passagem do bebê pela pelve tem que ser muito maior, então faz-se necessário uma atenção bem mais rigorosa e auxílio de manobras, ou mesmo o fórceps, e muitas vezes há a necessidade de cesárea mesmo. A incidência desta variedade de apresentação é de 1 a cada 600 a 1200 partos.

No caso do Samuel, como o batimento cardíaco dele sempre esteve ótimo, e a May estava muito bem também, optou-se por tentar algumas manobras para tentar corrigir o encaixe da cabeça. Posicionamos ela com o quadril mais alto que o tronco, fizemos algumas manobras, a Honi tentou ajudar com os dedos para que a cabeça de encaixasse, e o obstetra nos deu um prazo até as 11:30h. Ele voltou para avaliá-la, e concluiu que iríamos mesmo para a cesárea, já que a apresentação permanecia igual.

Claro que, na hora que o médico afirmou isso tão categoricamente, o casal chorou (nós também).  Era difícil aceitar que eles chegaram tão longe, venceram tantos medos, foram fortes contra tudo, superaram as contrações e o trabalho de parto, não se abateram em momento algum, e agora acabariam precisando de uma cesárea.

Mas sabedoria também é aprender com as dificuldades. Se eles estiveram sempre tão dispostos a respeitar o tempo do Samuel, era hora de respeitar a posição que ele estava. Da forma como ele se apresentou, não conseguiria sair sem ajuda, e era a hora de ajudá-lo. Eles aceitaram, e entenderam que a cirurgia era necessária. O Samuel nasceu bem, foi receber os primeiros cuidados pelo pediatra e logo foi levado pelo papai pra conhecer a mamãe. Ainda na sala de recuperação já mamou, e não desgrudou mais do colo da mamãe.

Alguém poderia pensar: “puxa, mas se ela passou por tudo isso, e acabou fazendo uma cesárea, não teria sido melhor já marcar a cirurgia de uma vez?”.

A Mayara sabe que não. Tudo foi perfeito. O Samuel estava pronto, estava acordado, participando do trabalho de parto, procurando um jeito de nascer! Deu todos os sinais de que sua hora havia chegado, e que estava pronto para respirar sozinho aqui fora. Teve tempo para amadurecer seu sistema nervoso, e seus pulmões amadureceram ainda mais durante o trabalho de parto. Recebeu toda a ocitocina que corria nas veias da mamãe, e estava inundado por ela quando nasceu, e pode se apaixonar facilmente por ela justamente por que teve seu processo respeitado. Além disso, permitiu ao papai e à mamãe viverem o momento mais intenso das suas vidas... passar juntos por um trabalho de parto! A cumplicidade que já existia entre os dois tornou-se sólida, e agora estão prontos para trilhar essa maravilhosa jornada que é a maternidade.

Eles têm consciência de tudo isso. Quando o obstetra determinou a cesárea, chorei ouvindo a Mayara dizer (ainda tendo contrações!): “eu não me arrependo de nada! Se tivessem me contado que seria assim, eu teria feito tudo de novo!”

Queridos... eu também teria feito tudo de novo! Só pra concluir, como vocês, que o Samuel nasceu de um parto humanizado!! Tão humanizado, que respeitou seu tempo e sua maneira de nascer.  Serei eternamente grata por poder vivenciar esse momento tão maravilhoso, que deixou marcas positivas em mim! =D

Deus continue os abençoando sempre... o Samuel vai crescer sabendo que o caminho que os pais dele escolheram é o de um Deus que nos ama e está sempre presente em todos os detalhes!

Créditos das fotos: Kelly Donato Fotografias 
(https://www.facebook.com/Kellydonatofotografias?fref=photo)


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Existe vida após o parto!



Pinta-se a maternidade como um mundo cor-de-rosa, maravilhoso, no qual tudo são flores. Certo? Já teve essa impressão?

Ninguém nunca havia me falado sobre a existência de um período difícil após a chegada de um bebê quando estive grávida pela primeira vez. No pós-parto, vivi momentos que me fizeram sentir " menas mãe", como se eu fosse desequilibrada, ou algo assim. Eu sentia uma certa "tristeza", que não tinha razão pra acontecer! Afinal, o que acontecia comigo??? Eu quis taaaaaaaanto ser mãe, e agora, com minha pequena nos braços, me via com crises de choro, sem vontade de receber visitas às vezes, sem paciência...

O que acontece??? Vamos conversar a respeito!

O puerpério é o nome dado à fase que experimentamos após o parto. Ele se estende até quando voltarmos a menstruar e ovular, o que pode levar, em média, 6 a 8 meses.

Em especial nos primeiros 40 dias, passamos por algumas modificações hormonais intensas em nosso corpo. Eu diria que a mais intensa de nossas vidas. E isso tudo culmina em alterações de humor, irritabilidade, vontade de chorar, indisposição... Eu costumo brincar que é como se juntássemos toda a TPM que economizamos durante a gestação. O resultado, algumas vezes, é percebido com bastante intensidade!

Some-se à isso noites mal dormidas, dificuldades para entender exatamente o que aquele serzinho tão pequeno está precisando, líquidos saindo por todos os lados... e têm-se a sensação de que nunca mais nossa vida voltará a ser a mesma.

O que fazer?

Primeiro, CALMA!! Tudo isso estava dentro do previsto, acredite. Lembre-se que é uma questão de tempo e que, em breve, seus hormônios estarão novamente equilibrados, prontos pra funcionar como sempre.

Permita-se chorar, quando essa for a necessidade! Por que não? Isso não significa que você não esteja feliz por ser mãe. Significa que está passando por uma fase de adaptação intensa e, como qualquer outra, tem suas dificuldades. Pra ganharmos alguma coisa, precisamos perder outra, e essas pequenas "perdas" somadas podem nos abalar SIM!

Quando estiver precisando dormir, ou ficar um pouco sozinha, ou tomar um banho tranquilo de 15 minutos sem se preocupar se o bebê vai chorar... peça ajuda! Algumas vezes queremos mostrar que conseguimos, que damos conta, afinal, nos preparamos pra isso! Mas qual o problema em dizer que precisa de ajuda?

Se informe!! Com uma googleada usando "baby blues", você descobre que não é a única a passar por tudo isso. Recomendo o livro da Laura Gutman "A maternidade e o encontro com a própria sombra", cuja leitura é imprescindível para qualquer mãe (e pai!) que deseja relacionar-se de forma mais segura e tranquila com seu bebê. Acho até que deveria vir junto com o bebê, serve como manual! Rs! Mais um texto que aborda o assunto, nesse link.

Vale lembrar que essas alterações, em geral, não significam que você esteja com depressão pós-parto. Contudo, se esses sintomas se estenderem por muito tempo (2 meses ou mais), é hora de buscar ajuda profissional.

Quando tudo passa, conseguimos perceber que, afinal, nem foi assim tãããão ruim... E, um dia, você descobre que a vida não volta a ser a mesma depois dos filhos. Ela fica melhor!!

Você já passou por isso? Partilhe conosco sua experiência!

Marieli
Fisioterapeuta e Doula
Mãe de duas