A
Helen é daquelas pessoas que não tem como conhecer e não amar. Desde a primeira
vez que nos falamos por telefone já simpatizei completamente. Super querida,
educada e de sorriso fácil. Ela começou a participar do GestaCascavel (por
indicação da Dra. Taciana) quando estava grávida há 21 semanas, super decidida
a ter um parto normal.
Eu
estava grávida também, passando das 35 semanas, quando ela me perguntou se eu
toparia acompanhar o parto dela, já que teria um bebê pequeno pra cuidar na sua
data provável do parto (e mais uma de 3 aninhos, né?). Disse pra ela que eu
daria um jeito, que fôssemos conversando e que eu acreditava que não teria
problemas.
Fui
à casa dela no último mês pra conversarmos. Falamos sobre os medos, o que
ajuda, o que atrapalha o trabalho de parto... E ela se mostrava muito
tranquila, com a ansiedade normal de fim de gestação. Combinamos que eu iria
junto à uma consulta com a obstetra pra conversarmos juntas sobre o parto.
Já
com 37 semanas, numa consulta normal de rotina, a pressão arterial estava um
pouquinho alta. A Dra. Taciana prescreveu medicação, pediu que verificasse
diariamente a pressão, e já avisou que, se continuasse assim, achava mais
seguro interromper a gestação. Ela me ligou preocupada, com medo de ter que
fazer uma cesárea por conta disso.
Com
38 semanas e 3 dias a Helen sentiu algumas cólicas durante o dia, e bastante
dor lombar. Foi à farmácia verificar a pressão por volta das 20h, estava um
pouco alta novamente (130/90 mmHg). Ligou pra obstetra , foi pra uma consulta,
e a Dra. pediu que ela voltasse no outro dia pra acompanhar. Avisou que ela fosse
se preparando psicologicamente, pois se ainda estivesse alta, fariam a cesárea.
Eu
estava jantando quando recebi as mensagens da Helen no celular contando tudo.
Senti que ela estava bastante preocupada e
achei melhor ligar. Tentei tranquilizá-la, disse que tudo seria como fosse
melhor pro Henrique, e que tudo daria certo. Conversamos bastante, e ela me
contou que desde que saiu da consulta estava sentindo umas “cólicas”, e que
havia percebido uma manchinha diferente na calcinha. Fiquei bastante animada e
disse pra ela observar. Se essas coliquinhas fossem ritmadas, poderiam ser
contrações. Nessa hora eu acho que ela nem imaginava que já eram os primeiros
sinais do Henrique, de que ele estava chegando! Combinamos que ela iria tentar
descansar, se acalmar, e antes de dormir me contaria como estavam as coisas.
Às
23:30h ela me mandou outra mensagem dizendo que tinha tido mais 3 contrações
fraquinhas, mas que depois espaçaram novamente. Senti que naquela madrugada
teríamos novidades. Coloquei as meninas pra dormir, separei as roupinhas pro
papai arrumar elas no outro dia, e arrumei minhas coisas pra ir pra casa da
Helen caso ela ligasse. Amamentei a Alice e fui deitar por volta da 1h, com o
celular do meu lado, pedindo a Deus que tudo corresse bem, do jeito que Ele
sabia que seria melhor.
Como
eu imaginava, a Helen me ligou naquela madrugada. Às 4:25h. Disse que tinha
acordado às 4h com umas contrações mais fortes, e às 4:20h a bolsa rompeu.
Agora ela acreditava que era mesmo trabalho de parto (rs!). As contrações
tinham ficado bem mais fortes depois disso, e ela pediu pra eu ir. Eu falei pra
ela ligar pra obstetra, avisando que estava em trabalho de parto, e pra
perguntar se poderia esperar em casa ou se ela achava melhor ir pro hospital,
por conta da bolsa rota. Alguns minutos depois o marido dela me ligou novamente
e disse que eu poderia ir pro apartamento deles mesmo.
Amamentei
a Alice antes de sair, cheguei lá às 5h. A Helen estava no banheiro e o Eduardo
(marido) veio abrir a porta. Aproveite pra conversar um pouquinho com ele,
disse que ele precisaria demonstrar muita segurança (mesmo que no fundo tivesse
medo de alguma coisa), e que a Helen precisaria muito sentir que ele confiava
nela. Disse que as palavras dele naquele momento teriam muito peso, e que o
papel dele não poderia ser substituído por ninguém, nem por mim. Que ele seria
a pessoa mais importante pra Helen naquela hora, então era preciso manter a
calma. E assim foi. Vi nascer um pai nesse dia, que cercou a esposa de carinho
e cuidados (surpreendeu até você, né, Helen?).
Fomos
ficar com a Helen no quarto, ela se sentia confortável deitada sobre o lado
esquerdo, e assim ficou por um bom tempo. As contrações estavam vindo a cada 3
minutos mais ou menos, às vezes 4, e duravam cerca de 1 minuto. Eu e o Eduardo
nos revesávamos massageando a lombar dela pra ajudar a diminuir a dor. Apesar
do desconforto, a Helen manteve o controle da situação o tempo todo. Como
havíamos conversado durante a gestação, ela instintivamente procurava a posição
que fosse mais confortável, e obedecia ao que o corpo pedia. Vez em quando
vinha uma contração mais forte, arrancava alguns suspiros, mas o clima estava
tão tranquilo que nem isso atrapalhava. Lembro de uma hora que a Helen disse
estar doendo muito, e eu falei pra ela não “brigar” com as contrações porque
elas eram boas, elas é que trariam o Henrique.
Por
volta das 5:45h a Dra. Taciana ligou pra saber como estavam as coisas, e eu
disse que acreditava que a Helen estivesse com uns 5 ou 6 cm de dilatação (doula
não faz toque, mas pelo ritmo das contrações deduzi que estivesse assim).
Perguntei se ela queria passar ali pra avaliá-la e ela disse que não precisava,
poderíamos nos encontrar no Hospital às 7h.
Massagens
na lombar durante as contrações, nos pés durante o intervalo... quarto
com pouca luz... marido super atencioso e demonstrando total confiança na
esposa... ambiente acolhedor e
perfeito pra liberar muita ocitocina. Em pouco tempo as contrações foram
ficando mais intensas. Nem pareceu primeiro parto, que geralmente é mais lento.
Cada contração vinha mais forte, durava mais tempo (às vezes até 2 minutos), a
respiração durante as contrações já tinha mudado. Lembro de um momento em que
olhei pro Eduardo e fiz um sinal dizendo que achava que logo logo o Henrique
estaria chegando, que o trabalho de parto já estava bem avançado. Nessa altura
a Helen demonstrou um pouco de medo, diante das contrações poderosas que
empurravam vigorosamente o Henrique. Já não conversava mais, e sussurou que se
aumentasse muito a intensidade ela não ia conseguir. Disse
a ela que ela já estava conseguindo, que já havia chegado até ali, e que tudo
estava acontecendo do jeito que ela sonhou. Deus havia cuidado de todos os
detalhes com carinho, e estava ali naquela hora também cuidando dela e do
Henrique. Ela respondeu animada: “é mesmo, né, Mari... está dando tudo certo
mesmo!”.
Já
era umas 6:30h quando eu disse pra Helen que ela poderia se trocar pra irmos
pro Hospital. Demorou muuuuuuuuuuito pra ela conseguir se arrumar, pois o
espaço entre uma contração e outra era menos que 2 minutos, então quando vinha
contração ela se abaixava, eu massageava a lombar, ela respirava. Quando a
contração passava ela corria colocar roupa, sapato, passar perfume, maquiagem
(siiiiiim, dá pra se maquiar em trabalho de parto, né, Helen? =D)...
Enfim
conseguimos descer pro carro, eu fui com ela no banco de trás e o Eduardo foi
dirigindo. E foi a caminho do hospital que ela começou a sentir os “puxos”
(aquela vontade de empurrar quando vêm as contrações). Chegamos no Hospital
Gênesis pouco depois das 7h, eu já havia ligado avisando que estávamos a
caminho, e o quarto já estava preparado. A Eduarda já
estava lá na entrada com a câmera em mãos (a Helen pediu que ela fotografasse o
parto). Na recepção tivemos que esperar um pouquinho, não tinha mais ninguém lá
além de nós, a secretária e a Eduarda. A essa altura a Helen já estava com a
cabeça na “partolândia”. Sentia bastante as contrações, e tentando encontrar
posição pra aliviar me perguntou “Mari, posso ficar no chão?”. Eu nem quis
perguntar se ela ia sentar, abaixar ou deitar (regra de ouro: nunca contrarie
uma mulher em trabalho de parto!), disse que podia. Mas bem nessa hora apareceu
a enfermeira pra nos mostrar o caminho.
Chegando
no quarto a Helen ajoelhou no chão e debruçou num sofá que tinha lá. Totalmente
concentrada no parto. Essa é a hora que “morre” a menina e nasce a Mulher. A
Mãe. A Leoa. Estava desligada do que acontecia em volta, precisava entrar em si
mesma e ficar sozinha pra voltar à consciência com um filho nos braços.
Quase
8h a Dra. Taciana chegou e fez um toque (o único do trabalho de parto todo),
constatou 9 cm de dilatação. Aferiu a pressão arterial, ótima, 120/70mmHg. Como
a Helen queria, colocamos a banqueta de parto pra ela sentar, o Eduardo sentou
atrás dela. Silêncio no quarto, a expectativa aumentando a cada contração. E às
8:10h o Henrique nasceu. Foi direto pro colo da mamãe, depois que a Taciana
desenrolou as 3 voltas do cordão em torno do pescoço. Tinha um pouco de mecônio
no líquido amniótico, mas não estava espesso, tudo certo. Logo já mostrou pro
papai e pra mamãe como nasceu sabendo chorar a plenos pulmões. Ali no quarto
recebeu os primeiros cuidados do pediatra, ao lado da mamãe. Alguns pontinhos
por conta de uma pequena laceração, mas nada de episiotomia.
Primeiro colinho do Henrique! |
Depois de tudo lembro da Taciana ter perguntado pra Helen: “E daí, valeu a pena?” –“Sim, valeu MUITO!”. A sensação é mesmo tão maravilhosa que só quem experimenta sabe. Sensação de realização como Mulher. Experimentar a potência do próprio corpo funcionando pra dar à luz um filho não tem preço. Ainda mais quando se vive isso como casal: os laços de amor se tornam ainda mais sólidos, e o marido passa a ver a mulher com outros olhos. Algo que só poderia ter sido planejado por Deus.
Henrique com 3 dias e Alice com 3 meses |
Helen...
quero te agradecer! Por ter me permitido participar desse momento
tão especial na vida de vocês. Obrigada por toda a confiança. Você foi uma
guerreira vencendo seus medos. Você não achava que conseguiria ir tão longe
pelo Henrique, né? Tenho certeza que você vai tirar de letra tudo que vier
daqui pra frente. Afinal, esse foi só o primeiro capítulo do maravilhoso
desafio que é a maternidade! Conte comigo sempre...
Eduardo,
parabéns! Manter a calma em um momento tão cheio de emoções é tudo... E você
conseguiu. Como eu te falei lá no hospital, tudo foi assim tão perfeito porque
você foi o apoio que a Helen precisou. Que Deus te dê a graça de sempre ser o
pilar forte dessa família!