segunda-feira, 15 de outubro de 2012

RELATO DO PARTO DA HELEN - Parto Natural Hospitalar

A Helen é daquelas pessoas que não tem como conhecer e não amar. Desde a primeira vez que nos falamos por telefone já simpatizei completamente. Super querida, educada e de sorriso fácil. Ela começou a participar do GestaCascavel (por indicação da Dra. Taciana) quando estava grávida há 21 semanas, super decidida a ter um parto normal.

Eu estava grávida também, passando das 35 semanas, quando ela me perguntou se eu toparia acompanhar o parto dela, já que teria um bebê pequeno pra cuidar na sua data provável do parto (e mais uma de 3 aninhos, né?). Disse pra ela que eu daria um jeito, que fôssemos conversando e que eu acreditava que não teria problemas.

Fui à casa dela no último mês pra conversarmos. Falamos sobre os medos, o que ajuda, o que atrapalha o trabalho de parto... E ela se mostrava muito tranquila, com a ansiedade normal de fim de gestação. Combinamos que eu iria junto à uma consulta com a obstetra pra conversarmos juntas sobre o parto.
Já com 37 semanas, numa consulta normal de rotina, a pressão arterial estava um pouquinho alta. A Dra. Taciana prescreveu medicação, pediu que verificasse diariamente a pressão, e já avisou que, se continuasse assim, achava mais seguro interromper a gestação. Ela me ligou preocupada, com medo de ter que fazer uma cesárea por conta disso.

Com 38 semanas e 3 dias a Helen sentiu algumas cólicas durante o dia, e bastante dor lombar. Foi à farmácia verificar a pressão por volta das 20h, estava um pouco alta novamente (130/90 mmHg). Ligou pra obstetra , foi pra uma consulta, e a Dra. pediu que ela voltasse no outro dia pra acompanhar. Avisou que ela fosse se preparando psicologicamente, pois se ainda estivesse alta, fariam a cesárea.

Eu estava jantando quando recebi as mensagens da Helen no celular contando tudo. Senti que ela estava bastante preocupada  e achei melhor ligar. Tentei tranquilizá-la, disse que tudo seria como fosse melhor pro Henrique, e que tudo daria certo. Conversamos bastante, e ela me contou que desde que saiu da consulta estava sentindo umas “cólicas”, e que havia percebido uma manchinha diferente na calcinha. Fiquei bastante animada e disse pra ela observar. Se essas coliquinhas fossem ritmadas, poderiam ser contrações. Nessa hora eu acho que ela nem imaginava que já eram os primeiros sinais do Henrique, de que ele estava chegando! Combinamos que ela iria tentar descansar, se acalmar, e antes de dormir me contaria como estavam as coisas.

Às 23:30h ela me mandou outra mensagem dizendo que tinha tido mais 3 contrações fraquinhas, mas que depois espaçaram novamente. Senti que naquela madrugada teríamos novidades. Coloquei as meninas pra dormir, separei as roupinhas pro papai arrumar elas no outro dia, e arrumei minhas coisas pra ir pra casa da Helen caso ela ligasse. Amamentei a Alice e fui deitar por volta da 1h, com o celular do meu lado, pedindo a Deus que tudo corresse bem, do jeito que Ele sabia que seria melhor.

Como eu imaginava, a Helen me ligou naquela madrugada. Às 4:25h. Disse que tinha acordado às 4h com umas contrações mais fortes, e às 4:20h a bolsa rompeu. Agora ela acreditava que era mesmo trabalho de parto (rs!). As contrações tinham ficado bem mais fortes depois disso, e ela pediu pra eu ir. Eu falei pra ela ligar pra obstetra, avisando que estava em trabalho de parto, e pra perguntar se poderia esperar em casa ou se ela achava melhor ir pro hospital, por conta da bolsa rota. Alguns minutos depois o marido dela me ligou novamente e disse que eu poderia ir pro apartamento deles mesmo.

Amamentei a Alice antes de sair, cheguei lá às 5h. A Helen estava no banheiro e o Eduardo (marido) veio abrir a porta. Aproveite pra conversar um pouquinho com ele, disse que ele precisaria demonstrar muita segurança (mesmo que no fundo tivesse medo de alguma coisa), e que a Helen precisaria muito sentir que ele confiava nela. Disse que as palavras dele naquele momento teriam muito peso, e que o papel dele não poderia ser substituído por ninguém, nem por mim. Que ele seria a pessoa mais importante pra Helen naquela hora, então era preciso manter a calma. E assim foi. Vi nascer um pai nesse dia, que cercou a esposa de carinho e cuidados (surpreendeu até você, né, Helen?).

Fomos ficar com a Helen no quarto, ela se sentia confortável deitada sobre o lado esquerdo, e assim ficou por um bom tempo. As contrações estavam vindo a cada 3 minutos mais ou menos, às vezes 4, e duravam cerca de 1 minuto. Eu e o Eduardo nos revesávamos massageando a lombar dela pra ajudar a diminuir a dor. Apesar do desconforto, a Helen manteve o controle da situação o tempo todo. Como havíamos conversado durante a gestação, ela instintivamente procurava a posição que fosse mais confortável, e obedecia ao que o corpo pedia. Vez em quando vinha uma contração mais forte, arrancava alguns suspiros, mas o clima estava tão tranquilo que nem isso atrapalhava. Lembro de uma hora que a Helen disse estar doendo muito, e eu falei pra ela não “brigar” com as contrações porque elas eram boas, elas é que trariam o Henrique.

Por volta das 5:45h a Dra. Taciana ligou pra saber como estavam as coisas, e eu disse que acreditava que a Helen estivesse com uns 5 ou 6 cm de dilatação (doula não faz toque, mas pelo ritmo das contrações deduzi que estivesse assim). Perguntei se ela queria passar ali pra avaliá-la e ela disse que não precisava, poderíamos nos encontrar no Hospital às 7h.

Massagens na lombar durante as contrações, nos pés durante o intervalo...  quarto com pouca luz... marido super atencioso e demonstrando total confiança na esposa...  ambiente acolhedor e perfeito pra liberar muita ocitocina. Em pouco tempo as contrações foram ficando mais intensas. Nem pareceu primeiro parto, que geralmente é mais lento. Cada contração vinha mais forte, durava mais tempo (às vezes até 2 minutos), a respiração durante as contrações já tinha mudado. Lembro de um momento em que olhei pro Eduardo e fiz um sinal dizendo que achava que logo logo o Henrique estaria chegando, que o trabalho de parto já estava bem avançado. Nessa altura a Helen demonstrou um pouco de medo, diante das contrações poderosas que empurravam vigorosamente o Henrique. Já não conversava mais, e sussurou que se aumentasse muito a intensidade ela não ia conseguir.  Disse a ela que ela já estava conseguindo, que já havia chegado até ali, e que tudo estava acontecendo do jeito que ela sonhou. Deus havia cuidado de todos os detalhes com carinho, e estava ali naquela hora também cuidando dela e do Henrique. Ela respondeu animada: “é mesmo, né, Mari... está dando tudo certo mesmo!”.

Já era umas 6:30h quando eu disse pra Helen que ela poderia se trocar pra irmos pro Hospital. Demorou muuuuuuuuuuito pra ela conseguir se arrumar, pois o espaço entre uma contração e outra era menos que 2 minutos, então quando vinha contração ela se abaixava, eu massageava a lombar, ela respirava. Quando a contração passava ela corria colocar roupa, sapato, passar perfume, maquiagem (siiiiiim, dá pra se maquiar em trabalho de parto, né, Helen? =D)...

Enfim conseguimos descer pro carro, eu fui com ela no banco de trás e o Eduardo foi dirigindo. E foi a caminho do hospital que ela começou a sentir os “puxos” (aquela vontade de empurrar quando vêm as contrações). Chegamos no Hospital Gênesis pouco depois das 7h, eu já havia ligado avisando que estávamos a caminho, e o quarto já estava preparado. A Eduarda já estava lá na entrada com a câmera em mãos (a Helen pediu que ela fotografasse o parto). Na recepção tivemos que esperar um pouquinho, não tinha mais ninguém lá além de nós, a secretária e a Eduarda. A essa altura a Helen já estava com a cabeça na “partolândia”. Sentia bastante as contrações, e tentando encontrar posição pra aliviar me perguntou “Mari, posso ficar no chão?”. Eu nem quis perguntar se ela ia sentar, abaixar ou deitar (regra de ouro: nunca contrarie uma mulher em trabalho de parto!), disse que podia. Mas bem nessa hora apareceu a enfermeira pra nos mostrar o caminho.

Chegando no quarto a Helen ajoelhou no chão e debruçou num sofá que tinha lá. Totalmente concentrada no parto. Essa é a hora que “morre” a menina e nasce a Mulher. A Mãe. A Leoa. Estava desligada do que acontecia em volta, precisava entrar em si mesma e ficar sozinha pra voltar à consciência com um filho nos braços.

Quase 8h a Dra. Taciana chegou e fez um toque (o único do trabalho de parto todo), constatou 9 cm de dilatação. Aferiu a pressão arterial, ótima, 120/70mmHg. Como a Helen queria, colocamos a banqueta de parto pra ela sentar, o Eduardo sentou atrás dela. Silêncio no quarto, a expectativa aumentando a cada contração. E às 8:10h o Henrique nasceu. Foi direto pro colo da mamãe, depois que a Taciana desenrolou as 3 voltas do cordão em torno do pescoço. Tinha um pouco de mecônio no líquido amniótico, mas não estava espesso, tudo certo. Logo já mostrou pro papai e pra mamãe como nasceu sabendo chorar a plenos pulmões. Ali no quarto recebeu os primeiros cuidados do pediatra, ao lado da mamãe. Alguns pontinhos por conta de uma pequena laceração, mas nada de episiotomia.
Primeiro colinho do Henrique!
 Foram cerca de 4 horas de trabalho de parto ativo, muuuuuuuuuuito menos que a média. O tempo da Helen foi respeitado, não houve nenhuma intervenção desnecessária e ela foi a protagonista do parto, como deve ser. 

Depois de tudo lembro da Taciana ter perguntado pra Helen: “E daí, valeu a pena?” –“Sim, valeu MUITO!”. A sensação é mesmo tão maravilhosa que só quem experimenta sabe. Sensação de realização como Mulher. Experimentar a potência do próprio corpo funcionando pra dar à luz um filho não tem preço. Ainda mais quando se vive isso como casal: os laços de amor se tornam ainda mais sólidos, e o marido passa a ver a mulher com outros olhos. Algo que só poderia ter sido planejado por Deus.

Henrique com 3 dias e Alice com 3 meses

Helen... quero te agradecer!  Por ter me permitido participar desse momento tão especial na vida de vocês. Obrigada por toda a confiança. Você foi uma guerreira vencendo seus medos. Você não achava que conseguiria ir tão longe pelo Henrique, né? Tenho certeza que você vai tirar de letra tudo que vier daqui pra frente. Afinal, esse foi só o primeiro capítulo do maravilhoso desafio que é a maternidade! Conte comigo sempre...

Eduardo, parabéns! Manter a calma em um momento tão cheio de emoções é tudo... E você conseguiu. Como eu te falei lá no hospital, tudo foi assim tão perfeito porque você foi o apoio que a Helen precisou. Que Deus te dê a graça de sempre ser o pilar forte dessa família!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Relato de Amamentação Prolongada e Desmame Natural


Desde sempre eu soube que iria amamentar minha filha por bastante tempo: PELO MENOS os 2 anos recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Dentro de mim eu tinha a convicção de que a amamentação daria certo, e pronto. Simples assim.

Algumas pessoas da família me questionavam o porquê que no enxoval dela não tinha mamadeira: “Mari, mas e se você não tiver leite????”. De verdade, NUNCA me preocupei com isso. Sei que o leite não é uma graça concedida pelo destino a algumas sortudas: depende de colocar o bebê pra mamar! Então, se eu colocasse o bebê pra mamar, teria leite (em 99% dos casos funciona assim).

Minha pequena nasceu de parto normal, mas infelizmente não consegui amamentá-la na primeira hora após o nascimento. O pediatra achou mais importante deixá-la em observação, por conta de ela ter demorado um pouquinho pra chorar, e só fui conhecê-la 3 horas depois. Nos primeiros dias, como às vezes acontece, ela não se interessou muito pelo seio, e preferia dormir a ficar mamando colostro. Depois que o leite desceu meeeesmo (no terceiro dia, como é de se esperar), ela mamou super bem. Não tive grandes problemas com a amamentação, fora uma mastite no primeiro mês, que cedeu rapidinho.

Até ela completar os 6 meses eu nunca complementei com nada a alimentação dela. Nem água, nem chá, nem outros tipos de leite. Depois disso comecei a introdução de frutas (essas ela aceitou logo de cara, qualquer uma!) e tentei introduzir uma papinha salgada por dia, mas ela só foi aceitar com quase 8 meses. Simplesmente gospia TUDO que eu colocava na boca dela, independente do que fosse. O pediatra só orientou pra continuar oferecendo a papinha uma vez por dia, mesmo que ela não comesse, e quando o organismo dela sentisse necessidade de alguma coisa a mais além do leite materno, ela iria aceitar. E assim foi: com 8 meses, do dia pra noite, ela resolveu que gostava de comida salgada, e passou a comer tudo que eu oferecia. Então, com 8 meses ela ficou com 2 papinhas salgadas (almoço e janta), uma fruta de manhã e uma à tarde. Além disso, era só leite materno, que continuou sendo a principal fonte da alimentação dela até ela completar um ano.

Sempre amamentei “em livre demanda”, ou seja: sem horários estipulados, sem controlar duração ou intervalos entre as mamadas. A hora que ela queria, eu dava. E segui assim até os 18 meses. Nessa época, comecei a conversar com ela sobre o mamá, e combinamos que, de agora em diante, ela só iria mamar pra dormir. Ela ainda fazia uma soneca de manhã e uma no fim da tarde, e tinha mais a mamada da noite. Então, ela mamava pelo menos 3 vezes ao dia. E se ela acordasse de madrugada, eu também oferecia o peito. Algumas vezes ela pediu pra mamar em outros horários que não os da soneca, e eu conversei novamente, expliquei que daria quando ela fosse dormir, e geralmente tudo se resolvia tranquilamente. Só abri algumas exceções quanto aos horários de mamar quando ela esteve doente (crise de alergia respiratória, ou gripe, ou uma virose...). E nessas horas eu agradecia por ainda estar amamentando, porque mesmo ficando alguns dias sem comer direito, o leite materno ela continuava aceitando muito bem, e nunca perdeu peso por isso.

Com o passar do tempo, ela foi crescendo, e passou a dormir só uma vez à tarde durante o dia, então mamava só nessa hora e pra dormir à noite. E depois que começou a ir pra escola (com 2 anos e 4 meses) ela deixou de dormir durante o dia, e a última mamada que restou foi a da noite. Nessa época engravidei novamente, e nunca pensei em desmamá-la por conta disso. (Antes que alguém pergunte, NÃO, não tem problema algum amamentar grávida. Não faz mal pra mãe, nem pro bebê que está sendo amamentado e nem pro que está no útero).

A essa altura, muita gente nem sabia que ela ainda mamava. A reação era sempre a mesma quando alguém tocava no assunto: “Nossa, mas ela AINDA mama???” (se ela mamasse na mamadeira seria normal pra você??), ou “nossa, mas você AINDA tem leite???” (dava vontade de dizer: tenho sim, quer ver?), ou (a piorrrrrrr!!!) “você AINDA não conseguiu desmamar ela????” (não, querida, eu nem tentei...). Enfim, que já amamentou por mais de 2 anos sabe do que eu estou falando. É ridículo, mas se uma criança de 3 ou 4 anos mama na mamadeira, todo mundo acha super normal. Mas se um bebê que já fala ou já anda for flagrado mamando no seio da sua mãe, vira assunto. E os comentários em geral não são estimulantes. Tem aqueles que tentam convencer a todo custo, e as ameaças são de todo tipo: “você vai ver como vai ser difícil pra desmamar ela! Ela já entende, e você não vai conseguir, por que a fulana e a cicrana fizeram de tudo, e blá blá blá...”.

Me obriguei a pensar sobre até quando amamentar. Isso nunca foi um peso pra mim, e nessa época uma mamada por dia não gerava o mínimo transtorno. Sem contar que até ajudava, a hora de dormir sempre era tranquila: boa noite pro papai, sentava no meu colo, mamava e dormia (em 5 ou 10 minutos). O que começou a gerar um pouco de preocupação foi o medo de que, quando eu desmamasse ela, talvez ela tentasse compensar isso chupando o dedo. Esqueci de comentar, mas com 4 meses ela “descobriu” o polegar direito, e desde então se eu tirasse ela do peito antes de ela ter dormido BEM (sabe quando o bebê fica “molinho”, já no terceiro sono?), ela colocava o polegar na boca. Isso era só na hora do sono, quando ela estava meio dormindo, durante o dia quase nunca aconteceu.

Mas com pouco mais de 2 anos comecei a perceber alguns sinais de que ela já estava se desligando aos poucos do mamá e da fase oral: ela já não colocava mais o dedo na boca, e várias vezes dormiu antes de mamar (enquanto eu tomava banho e ela brincava na cama com o papai, por exemplo: eu chegava no quarto e ela já tinha dormido sozinha). Nas nossas conversas ela também mostrava ter percebido que as priminhas maiores já eram mocinhas e não precisavam mais mamar pra dormir. E mostrava interesse por isso. Fui entendendo que ela estava se mostrando pronta pro desmame, talvez mais do que eu.

E um dia, numa conversa, combinamos que ela já era grandinha pra dormir no berço. Ela precisava de uma cama e, quando a cama nova chegasse, ela poderia dormir igual às priminhas mais velhas: sem mamar e sem chupar dedo. E ela concordou numa boa, mostrando ter gostado da ideia. Encomendamos a cama, demorou quase um mês pra chegar, e eu e meu marido aproveitamos esse tempo pra ir trabalhando com ela a ideia de dormir sem mamá. Repeti inúmeras vezes que eu a amava muito, que jamais deixaria de amá-la, que continuaria sendo a mamãe dela, que ela poderia ter meu colo quando quisesse, mas que quando a caminha chegasse, ela não precisaria mais mamar. E, nesse tempo, cada noite eu e ela curtimos muuuuuuito o nosso “momento amamentação”. Várias vezes me peguei com nó na garganta segurando ela dormindo no meu colo, pensando que esses momentos deveriam durar pra sempre...

E, um dia, quando a Fer estava com 2 anos e 8 meses, a cama chegou. Comprei um lençol rosa, como ela queria, ajeitei o quartinho, que ficou com cara de novo. E, à noite, fui fazê-la dormir como tínhamos combinado: escovamos os dentes, colocamos pijama, acendi o abajur do quarto, contei uma historinha, e deitei do lado dela. Fiquei fazendo carinho nos cabelos, e veio a pergunta que eu temia: “mamãe, posso mamar?” Mantive a minha posição, expliquei mais uma vez que ela não precisava mais mamar porque já era mocinha, e agora podia dormir sem o mamá. Ela virou pro lado, tentando dormir. Depois de algum tempo, mais uma vez a mesma pergunta, e de novo repeti a mesma resposta. Nessa hora meu marido entrou e se ofereceu pra ficar com ela, e achei que seria bom. Fui pro quarto tomar banho, ele ficou com ela, e quando voltei, ela já tinha dormido. Depois ele contou que ela pediu por mim algumas vezes, ele explicou que eu já voltaria, e ela fechava os olhinhos de novo, tentando dormir. E assim foi a primeira noite: bem melhor do que eu tinha imaginado.

E depois dessa noite, ela não pediu mais pra mamar antes de dormir. Eu ficava deitada na cama do ladinho dela, às vezes cantava, às vezes fazia massagem nos pezinhos (ela adora!!), às vezes ficava em silêncio... e ela dormia sem mamar. E a cada dia que passou fui confirmando no meu coração que ela realmente estava pronta pra isso. Não aconteceu nenhum escândalo por “não poder” mamar, não teve nenhum tipo de manifestação inesperada, e o meu medo não aconteceu: ela nunca mais colocou o polegar na boca. Ela se sentia extremamente realizada em poder contar pra vovó e pras tias que agora ela era “mocinha”, e dormia na caminha sem mamar e sem chupar dedo.

Em resumo, foram 2 anos e 8 meses de amamentação, sem nunca ter usado uma mamadeira e nem saber quanto custa uma lata de leite artificial. Não me preocupo em oferecer outro tipo de leite pra ela, só cuido pra que a alimentação seja a mais equilibrada possível, por causa do cálcio (NÃO, o leite não é essencial na nossa dieta: pergunte aos outros mamíferos se alguém toma leite depois do desmame?).

Hoje já fazem 4 meses que ela desmamou, e avalio nossa experiência como completamente positiva. Sinto muita tranquilidade quando penso em como as coisas aconteceram, acho que conseguimos completar nosso ciclo de amamentação da melhor forma possível. E encerramos sem traumas, nem pra mim (RS!). Me preparo agora pro nascimento da minha segunda filha, e tenho certeza que tudo vai acontecer naturalmente, como foi com a Fernanda. E, agora, me sinto ainda mais segura de que tenho mesmo que ouvir meus instintos, e não o conselho dos outros.

Marieli A. R. Marcioli
Mamãe da Fernanda (quaaaase 3 aninhos!) e gestando há 31 semanas

 Nossa primeira mamada em casa!!

A última foto que achei amamentando (Fernanda com 2 anos e 3 meses)

terça-feira, 6 de março de 2012

Relato de parto da Renata - escrito por ela

Olá!

O relato de parto abaixo é da Renata, gestante que acompanhei no GestaCasscavel, mas não a acompanhei durante o trabalho de parto. Aliás, como vocês vão ver, quase não deu tempo nem pro médico acompanhar, hehehe! O parto dela foi normal hospitalar, e ela permitiu que eu postasse aqui pra inspirar muitas outras gravidinhas.

Segue o relato dela:

"As pessoas que me conheciam antes de eu engravidar, nunca acreditariam se eu dissesse que teria um parto normal. Eu não as culpo; eu mesma dizia não acreditava. “Eu, parto normal? Nunca. Morro de medo da dor.” Essa era eu antes de gestar a Sofia. Durante minha gestação, quando estava ainda no início, algo em mim mudou e sem uma explicação aparente resolvi que teria um parto normal, para surpresa e descrença de (quase) todos.

Minha gestação foi perfeita, sem nenhum contratempo, nada de atípico. O que indicava que meu parto também seria assim. E assim ele foi!

Domingo 15 de janeiro, foi um dia normal. Acordei, almocei, fiz tudo como eu sempre fazia. Por volta das 17 horas decidi fazer alguns exercícios na bola de pilates, pois já não os fazia há bastante tempo. O inchaço do meu corpo fazia com que eu sentisse uma preguiça imensa de realizar exercícios. Depois de alguns minutos na bola, retomei minhas atividades normais.

No início da noite, por volta das 19 horas percebi que o tampão mucoso havia começado a soltar. Contei ao meu marido, que me disse pra ficar tranquila. Conforme nós dois havíamos lido, o tampão mucoso podia soltar vários dias antes do parto. Durante o resto da noite, sempre que ia ao banheiro, percebia mais um pouco do tampão se soltando.Tomei banho e fiz alguns exercícios de agachamento debaixo do chuveiro. Ficamos acordados até meia-noite assistindo filmes. Como já estava tarde, não jantei, apenas comi uma fruta e fui dormir. Tudo parecia normal.

Acordei às 5 da manhã, fui ao banheiro. Sentia-me um pouco desconfortável, mas desconforto já fazia parte dos meus dias. Estava com 39 semanas e havia ganho 18 quilos, muitos desses eram pura água. Voltei a dormir normalmente.

Às 6 horas da manhã, acordei com dor. Fiquei na cama tentando entender o que estava acontecendo exatamente. Aquela dor era diferente da que eu imaginava que ia sentir. Meu obstetra havia me dito que o trabalho de parto não era algo que começaria com dores fortes e que eu apenas deveria ir para o hospital quando estivesse com contrações de 5 em 5 minutos. Então, fiquei tentado cronometrar essa dor, pra descobrir se era o trabalho de parto iniciando. Porém, as dores eram fortes e não percebia um espaçamento muito grande entre elas. Acordei meu marido e disse pra ele que tinha algo acontecendo. Relatei como me sentia e ele me disse “Não deve ser nada, deve ser uma cólica intestinal apenas, as dores não condizem com início do TP”. Tentei ficar calma e continuei deitada, com dores.

Por volta das 6:30 da manhã fui ao banheiro novamente. Percebi que tinha parado de fazer xixi, mas aparentemente o xixi continuou saindo, heheh. Ainda sentia dores fortes, que paravam por pouquíssimo tempo. Antes de me deitar novamente, coloquei uma toalha na cama. Que belíssima ideia! Depois de poucos minutos, senti líquido escorrendo pelas minhas pernas e disse pro meu marido “Ou eu fiz xixi na cama, ou a bolsa estourou”. Levantamos, acendemos a luz pra conferir e realmente havia liquido na toalha, bem pouco, o que fez a gente duvidar se era a bolsa mesmo. Tinha ouvido que quando a bolsa estourava, era líquido pra caramba!

Depois disso não consegui mais ficar deitada, coloquei a toalha na ponta da cama e ficava sentada ali, reclamando de dor. Nesse momento, ambos sabíamos o que estava acontecendo: a Sofia estava pedindo pra nascer.

A dor era muito intensa. Foi quando observei a presença de sangue, como se fosse menstruação. Isso me preocupou, pois não estava esperando dores tão fortes e nem sangue. Disse pro meu marido que se esse fosse o início do trabalho de parto, duvidava que conseguisse seguir a diante. Doía muito.

As 7 da manhã, liguei pro obstetra, Dr. Danilo Galetto. Me informaram que ele já estava no hospital Gênesis assistindo uma cirurgia. Pedi ao Julian para ligar no hospital e falar com ele enquanto eu tomava um banho quente pra tentar aliviar a dor.

Meu esposo falou com o Danilo que após ouvir o relato de como me sentia, pediu pra que fossemos para o hospital. Ele me examinaria assim que terminasse a cirurgia. Terminei o banho, precisei de ajuda pra me vestir (a dor era foooooorte demais!!!!), arrumei o cabelo (sim, lembrei de arrumar o cabelo, hehehe), pegamos as coisas que faltavam e fomos para o hospital. Eu continuava dizendo (gritando, talvez) para o Julian que eu não iria aguentar, a dor era intensa.

Chegamos ao hospital as 8:15 da manhã. Fui encaminhada para uma sala de avaliação. Lá pediram para eu colocar a roupa do hospital e deitar para ser examinada. Deitar era algo quase impossível de se fazer, doía muito mais deitada. Mas não tive opção. A enfermeira trouxe o sonar pra escutar os batimentos da Sofia e o sonar não funcionava. Não dava pra escutar nada além da rádio Capital FM. Ai que nervoso!!!

Depois veio uma médica pra fazer o toque. Terminado o toque eu pergunto “Como estou?” e sou surpreendida com “Você está com 9 cm”. Por essa eu não esperava! Meu marido pediu se a bolsa já tinha rompido e a médica disse: “A bolsa já rompeu, ela já dilatou, está nascendo, vamos para o centro cirúrgico.”.

Dali fui direto para o centro cirúrgico. O Julian foi se paramentar para poder me acompanhar. Ligaram para a pediatra, tiraram o Dr. Danilo da cirurgia que ele estava assistindo, pois não dava pra esperar. Já eram 8:40. Veio o sonar de novo e novamente ele não funcionou. O Danilo mandou buscar o sonar dele no consultório. Só nesse momentopudemos escutar o coração da Sofia e ter a certeza de que tudo estava bem.

Eu sentia muita dor, pedi ao Danilo que chamasse o anestesista, pois queria anestesia. E ele, me dizia que ia chamar, me dando corda... Foi apenas quando o Julian entrou no centro cirúrgico e eu pedi anestesia de novo que o obstetra disse “Renata, não dá tempo pra anestesia. Dentro de 10, 15 minutos ela vai nascer. Eu não vou a fazer nascer, você vai (pelo menos a cabeça, heheeh). Esse é o momento que você estava esperando. Agora, se concentre”.

Dali pra frente, me esforcei ao máximo pra me concentrar no nascimento da Sofia e não na dor que sentia. O Julian esteve do meu lado me apoiando o tempo todo. Entre uma contração e outra tentava ficar em silêncio, me recuperando. Gritei algumas vezes, mas de acordo com meu marido e o médico, não fui uma parturiente escandalosa. Após uma contração, o médico chamou o meu marido pra ver como o nascimento estava próximo, já dava pra ver os cabelinhos da Sofia.

Fiz força algumas vezes. Sinceramente, não sei quantas, perdi a noção do tempo, não cronometrei nada. Só me lembro do meu médico dizendo em determinado momento “Acho que na próxima contração, nasce. Quando vier a próxima contração, se concentra e força!” E assim foi. Na próxima contração, tranquei a respiração e fiz força, toda força que podia e a Sofia veio ao mundo! As 9:20 da manhã do dia 16 de janeiro nascia a nossa princesinha. Meu trabalho de parto durou exatas 3 horas e 20 minutos!!!! Muito, muito rápido para uma primigesta.

A Sofia nasceu saudável, com apgar 9/10 e linda demais! Após seu nascimento, O Julian a acompanhou nos primeiroscuidados e no primeiro banho. Eu fiquei no centro cirúrgico mais um pouco para a sutura da episiotomia, mas logo fui para o quarto receber minha princesa. Me sentia muito bem, pude almoçar normalmente, me levantei, tomei banho e caminhei. Sentia um desconforto por causa dos pontos, mas nada de dor.

As pessoas me perguntam se doeu muito e eu respondo que doeu sim, mas assim que o bebê nasce, a dor desaparece. Instantaneamente, como se fosse mágica.

E logo depois desta pergunta, me pedem se valeu a pena e se faria de novo. É claro que valeu muito a pena e faria tudo igual! Minha recuperação foi excelente, a amamentação foi estabelecida sem dificuldades, minha linda Sofia nasceu perfeita e cresce a cada dia, feliz e saudável! Que mais eu poderia querer?

Renata Prado Zambrim Carpenedo, mãe da Sofia, hoje com 48 dias.

04 de março de 2012."

sexta-feira, 2 de março de 2012

Relato do Parto da Carina


A Carina é dessas mulheres fortes, bem decididas e com opinião formada. Nos conhecemos nos encontros do GestaCascavel, ela e o marido Eudecir participaram assiduamente desde as 28 semanas. Logo eles me contaram sobre os planos de parto domiciliar, e acertamos que eu os acompanharia, junto com o Dr. Jesus e a irmã da Carina, a Denise. Fui algumas vezes na casa deles, conversamos sobre o plano de parto, falamos sobre os medos e dúvidas, comemos pipoca, tomamos chimarrão (rs!) e deixamos tudo combinado.


Numa manhã de sexta-feira (11/11/11, como o Eudecir havia “profetizado”), por volta das 7:30h, a Carina me ligou dizendo que estava em trabalho de parto desde a madrugada, mas que as contrações ainda estavam bem suaves. O Dr. Jesus já havia passado lá, a examinou, e disse que voltaria quando eles chamassem, pois tinha algumas consultar marcadas para a manhã. A Carina já tinha tomado um café da manhã bem reforçado, e iria dar uma caminhada com o marido por perto de casa. A irmã dela (a enfermeira Denise) já estava lá, havia feito um toque e a dilatação ainda estava bem inicial. Ela disse que eu ainda não precisava ir, e me ligaria assim que sentisse necessidade.


Ela me ligou novamente quase meio dia dizendo que as contrações continuavam bem suaves, mas que eu já poderia me organizar pra ir, pois haviam feito outro toque e já estava com 6 cm.
Cheguei lá 12:45h, e vejo ela, o marido e a irmã-enfermeira sentados almoçando. O clima era alegre, de festa, ninguém preocupado. Lembro que quando cheguei mais perto pra cumprimentar a Carina ela fez sinal com a mão pedindo pra eu esperar, abaixou a cabeça, fechou os olhos, respirou fundo... e depois me cumprimentou. Era uma contração...


Depois de todo mundo tomar um super suco de maracujá (pra ficarmos bem calminhos! Rs!) a Carina quis ir pro chuveiro, e o Eudecir foi junto com ela. Acho que ela ficou lá uns 30 minutos, deixei os 2 sozinhos pra aproveitarem um pouquinho esse momento. Eles mostravam uma sintonia incrível, lindo de ver. Como eu costumo dizer, os laços afetivos de marido e mulher nunca serão os mesmos depois de um trabalho de parto juntos!


Mais ou menos às 13:30h subi com eles pro quarto (eles moram num sobrado), a Carina deitou de lado na cama, e o Eudecir ficou segurando a mão dela. Quando vinha uma contração ela respirava fundo, tentando relaxar o corpo, apertava a mão do marido, e eu fazia massagens na coluna lombar pra ajudar a aliviar o desconforto.


Nessa hora ela já estava se concentrando mais, não queria conversar muito. Logo o Dr. Jesus chegou, com um maço de revistas embaixo do braço. Examinou a Carina novamente, ela já estava com 8cm. Ele ficou lá na sala lendo e avisou que, se precisássemos, era pra chamar.
Eu e o Eudecir ficamos ali no quarto em silêncio, junto com a Carina, vez em quando a irmã dela vinha avaliar o batimento cardíaco da Isabela, estava tudo sempre ótimo. Já passava das 14:00h quando o Dr. Jesus fez novo toque, e constatou que a dilatação já estava completa. Como o bebê ainda estava alto, ele sugeriu que a Carina se levantasse pra uma posição mais vertical, pra ajudar na descida do bebê.


Nessa hora as mudanças de posição já eram mais complicadas, as contrações estavam próximas e bem intensas. A Carina quis ficar sentada sobre a bola, de frente para o Eudecir. Durante a contração ela pedia a massagem na lombar e respirava bem forte. Depois de um tempo ela sentiu vontade de sair da bola, e se ajeitou de joelhos no chão sobre travesseiros, apoiada na cama. Quando o desconforto aumentava, eu a lembrava que ela já estava no final, que a Isabela já estava chegando, que ela só precisava ser forte mais um pouquinho e logo conheceria a sua princesa!
O Dr. Jesus subiu novamente pra ver como as coisas estavam, novo toque, bebê mais baixo, e ela instintivamente já fazia força, sem que ninguém dissesse nada. A mãe da Carina chegou, deu um beijo nela, e ficou de longe observando tudo. Sugerimos a banqueta de parto, e o Eudecir ficou sentado atrás apoiando as costas da Carina. Lembro a hora que ele olhou no espelho e viu a Isabela coroando. Ele me olhou com aquela cara de alegria: “é a cabecinha dela?” – fiz sinal que sim, e ele renovou as forças, incentivando ainda mais a Carina.


Só nessa hora é que o tampão mucoso saiu. E algumas contrações depois, nasceu a lindinha!!! Às 16:07h, com 3.450g e 49cm. Dr. Jesus estava de joelhos no chão, pegou a Isabela e já a entregou pro abraço da mãe. Foi uma alegria só, e aquela choradeira geral (inclusive a doula). Acho que o papai chorou mais que a Isabela, todo emocionado. Família completa, enfim! A bebê nasceu ótima, apgar 9/10, rosadinha e cabeluda!! Só deu um chorinho pra dizer que estava tudo bem, e logo se acalmou.
O Eudecir mesmo cortou o cordão umbilical. Alguns minutos depois a Isabela foi pro colo dele, enquanto o Dr. Jesus suturou o períneo da Carina (ele não fez episiotomia, a mucosa teve só uma laceração leve, precisou de 3 pontinhos externos).


Auxiliei na primeira mamada, tirei algumas fotinhas da família linda, e fui embora tomada pela alegria daquele momento.


Carina, obrigada por me permitir participar desse dia tão especial na vida de vocês! Foi um presente pra mim acompanhar uma parturiente tão tranquila como você... Tenho certeza que você vai ser uma mãe maravilhosa, pois desde já tem sido muito consciente na hora de tomar as decisões sobre a sua maternidade! Parabéns pelo parto lindo! (e que venham outros... rs!)


Eudecir, você foi mesmo o “doulo” da Carina!! Que maravilha quando o marido está tão presente que a doula quase não faria falta... Sua segurança e tranquilidade desde a gestação foram essenciais pra dar suporte pra Carina. Ela não teria conseguido sem você... que Deus abençoe a família de vocês imensamente, e dê sempre a graça de descobrir aí o maior tesouro dessa vida!

Enfª. Denise, que bom te conhecer! Profissionais assim tão competentes e humanizados fazem falta pra muitas mulheres... Espero poder acompanhar muitos partos com você!! =D

Dr. Jesus, sua tranquilidade e experiência fazem toda a diferença. Fica muito claro nessas horas que a obstetrícia não é um interesse na sua vida, mas uma paixão!! Muito bom aprender com você.

A estrelinha da festa!

Só alegria...
Marieli
Fisioterapeuta e doula