Bebês demoram 40 semanas para nascerem, certo? Nem sempre!!
O Samuel provou isso. A mamãe Mayara e o papai Leandro desde
sempre tinham no coração o desejo de respeitar o tempo do seu bebê, permitir
que ele avisasse a hora que estava pronto para nascer. E assim foi.
Ainda lembro o dia que eu estava no mercado e recebi uma
ligação emocionada do casal, contando que estavam grávidos. Que alegria!! Eu e meu marido conhecemos a Mayara e o
Leandro quando ainda nem namoravam, vimos eles ficarem noivos, testemunhamos
seu casamento... e quando soubemos da gravidez, comemoramos e choramos com
eles.
A Mayara sempre quis ter um parto normal, e sabia que, pra
conseguir isso, precisava buscar informação. Participou de (quase) todos os
encontros do GestaCascavel que aconteceram durante sua gestação (na verdade,
ela começou a ir quando ainda era tentante! Rs!). Estava sentindo-se preparada.
A gestação foi tranqüila, as semanas se passaram, até que,
quando ela estava com 37 semanas, começou a sentir pródromos (contrações
irregulares que começam e param, ainda não são trabalho de parto). A ansiedade
era inevitável... O Samuel já estava com 3 Kg nessa época, e chegamos a pensar
que ele nasceria antes das 40 semanas mesmo. Mas as contrações não ritmaram,
não era a hora ainda. A partir disso, cada dia que se passava deixava a
expectativa: será que é hoje? Ela já estava sentindo bastante desconforto nas
costas, no púbis (teve uma pubalgia), nos punhos (teve síndrome do túnel do
carpo), já não conseguia dormir direito à noite... e chegou a duvidar se
conseguiria manter a calma até que o Samuel quisesse nascer. Conforme a barriga
foi ficando maior, os questionamentos das pessoas ficaram mais intensos: “ meu
Deus, esse menino tá enorme! Quando é que vai nascer???”
Começou aí a experiência de superação. Aquela Mayara, que se reconhecia ansiosa, foi
aprendendo a esperar. Se afastou do trabalho, porque estava ficando difícil, e
se viu obrigada a aprender a não fazer nada. Acalmar o ritmo. A mulher ativa e
trabalhadora, que desde sempre foi independente e dona do próprio nariz,
precisou ficar em casa, dedicar-se à preparar o ninho pro seu filhote. A cada
dia, repetia pro Samuel que ele poderia nascer quando estivesse pronto, que ela
respeitaria o tempo dele, e que mesmo querendo conhecê-lo logo, ela havia
decidido ESPERAR. Decidiu não ter o controle sobre a situação. Quando passou
das 40 semanas, teve que reafirmar isso
várias vezes, todo dia, toda hora, pra não desistir. E não foi uma tarefa
fácil. Mas foi assim que a Mayara conquistou o que precisava para tornar-se
Mãe: entender que o respeito pelo seu pequeno grande Samuel era mais importante
que a opinião dos outros, ou que a sua própria vontade.
E a gestação alcançou as 41 semanas. Mais um dia. Mais
dois...
O TRABALHO DE PARTO
No dia 06/07, conversamos muuuuuito por mensagens. A Mayara
me escreveu que entendia porque precisava esperar tanto. Deus estava
trabalhando o coração dela, e tudo isso tinha transformado o seu jeito de ser.
Ela estava tranqüila, e sentia-se pronta. Ainda brinquei com ela: “ Samuel,
agora vc pode nascer! Vêm, bebê!”
Na madrugada do dia 07/07/14, com 41 semanas e 2 dias, às
4:21h, recebi a ligação mais esperada das últimas semanas. “Mari, estou tendo
contrações faz mais de uma hora!! Estão bem espaçadas ainda, só liguei pra
avisar”. Combinamos que, se tudo continuasse como estava, ela tentaria
descansar, de manhã tomaria um café bem reforçado e conversaríamos novamente. E
o dia todo foi assim. Contrações suaves, de 5 em 5 minutos. À tarde, as contrações ficaram um pouco mais
intensas, e às 4:30h ela me ligou pedindo
pra ir ficar com ela em casa.
Cheguei lá junto com a enfermeira obstetra Honielly, que o casal contratou pra assistir o nascimento. No primeiro toque, às 18:00h, ela tinha 2 cm de
dilatação do colo do útero. O casal estava feliz demais. A Mayara era só
sorrisos, afinal, depois de tanta espera, FINALMENTE, estava chegando a hora.
Todo mundo estava tranquilo aguardando que o trabalho de parto ativo iniciasse
(até a fotógrafa Kelly Donato, que estreou seu trabalho como fotógrafa de
partos!), e o Leandro “profetizou”: vai ser às 20h! E assim foi: as contrações
ritmaram (3 a cada 10 minutos) às 20:00h, exatamente. =D
O trabalho de parto foi inesquecível. Um ambiente completamente relaxado, pouca luz, musiquinhas da preferência da gestante tocando, massagens na lombar, movimentos na bola, bolsa de água quente nas costas, muito amor e carinho pra esperar o Samuel...
Às 21:30h chegou a nossa janta (comida chinesa). Quase
morremos de rir da Mayara, apurando pra engolir tudo rapidinho entre uma
contração e outra (elas vinham a cada 3 minutos!). Quando vinha a contração ela
levantava da cadeira, respirava, rebolava, e depois voltava a comer. =D
Tranquilo assim, completamente dona da situação. Alternando entre chuveiro,
bola, fotos, caminhada, conversas, risadas, histórias, mais fotos...
Meia noite a Honi fez
outro toque, e constatou 5 cm. Disse que, ao tocar, sentia só a bolsa, que a
cabeça do Samuel não estava pressionando o colo para forçar a dilatação. Isso
porque a May tinha bastaaaante líquido (por isso o barrigão, né, May?), e que
se a bolsa rompesse expontaneamente, as coisas andariam mais rápido. Eu e a
Honi fomos pra sala e deixamos o casal no quarto pra que tentassem descansar um
pouco (sim, dá pra cochilar entre uma contração e outra! rs!). A cama ficou
desconfortável, e a May quis ir sentar na bola. O Leandro atrás dela amparando
as suas costas, e rezando pra que a bolsa rompesse. Às 2:30h, ploft!! Ela
rompeu (segundo o Leandro, saíram uns 3 litros de líquido amniótico! Hehehe!).
Nova ausculta, coraçãozinho do Samuel ok, contrações agora vindo mais intensas,
e todos com ânimo renovado! “Mayara, está pronta?” “Sim, Mari! Estou. E não
tenho medo de nada!”.
Fomos pra cozinha, o Leandro passou um café, serviu umas
bolachinhas e eu fiz um brigadeiro feito de chocolate meio amargo (que, cá entre
nós, foi o melhor que já fiz! Hehe!). E
a madrugada foi chegando.
3:30h a parteira e o marido foram (tentar) descansar
um pouquinho, ficamos eu e a May na sala. Aquele momento, pra mim, vai ficar
guardado pra sempre. A May sentia as contrações ficando mais intensas, e
chorava de alegria dizendo “Mari, eu esperei tanto por esse momento, que
parecia que ele não ia chegar nunca! E agora está acontecendo!”... Disse pra
ela que ela tinha tudo o que precisava pra suportar tudo. Que a força estava
dentro dela... Ouvimos Rosa Saragoza (Sabemos parir - https://www.youtube.com/watch?v=jC8lqAwBycs),
choramos, sorrimos... sentimos que tudo estava caminhando como deveria ser!
Deus estava cuidando de todos os detalhes, conforme havia prometido.
5:00h a Honi veio fazer um novo toque, constatou 8 cm de
dilatação, mas sentiu que alguma coisa estava diferente. Ao tocar, não sentia
as fontanelas do Samuel (a “moleira”). Sentia alguma outra parte da cabeça, que
ainda não tinha conseguido identificar exatamente. Conversamos com a Mayara, e
sugerimos ir para o hospital, pra então avaliar novamente e, se fosse o caso de
variedade de posição mesmo, tentarmos algumas manobras para reposicionar.
A CHEGADA NO HOSPITAL
Chegamos às 6:00h, a Honi avaliou novamente, o obstetra
também avaliou, e confirmou que a cabeça do Samuel estava “defletida”
(não-fletida). Ou seja, no momento que a bolsa rompeu, ele desceu e não
encaixou a cabeça como deveria, ele estava encaixado “de face”. Na imagem abaixo, dá pra entender melhor:
A apresentação “A” é a posição mais comum, quando a cabeça
do bebê está fletida. É mais fácil pro bebê sair quando a fontanela posterior
está encaixadinha, pois o diâmetro da cabeça é menor assim. A Posição “B” é
deflexão de 1 grau (ou bregmática), ou seja, quando se sente a fontanela
anterior ao exame de toque, o que não inviabiliza o parto normal, apesar de o
período expulsivo poder ser um pouco mais demorado.
O caso do Samuel foi algo entre a letra “D”, uma deflexão de 3 grau (ou de face), e “C” (de fronte). Nesse caso, o diâmetro pra passagem do
bebê pela pelve tem que ser muito maior, então faz-se necessário uma atenção
bem mais rigorosa e auxílio de manobras, ou mesmo o fórceps, e muitas vezes há
a necessidade de cesárea mesmo. A incidência desta variedade de apresentação é
de 1 a cada 600 a 1200 partos.
No caso do Samuel, como o batimento cardíaco dele sempre
esteve ótimo, e a May estava muito bem também, optou-se por tentar algumas
manobras para tentar corrigir o encaixe da cabeça. Posicionamos ela com o
quadril mais alto que o tronco, fizemos algumas manobras, a Honi tentou ajudar
com os dedos para que a cabeça de encaixasse, e o obstetra nos deu um prazo até
as 11:30h. Ele voltou para avaliá-la, e concluiu que iríamos mesmo para a
cesárea, já que a apresentação permanecia igual.
Claro que, na hora que o médico afirmou isso tão
categoricamente, o casal chorou (nós também).
Era difícil aceitar que eles chegaram tão longe, venceram tantos medos,
foram fortes contra tudo, superaram as contrações e o trabalho de parto, não se
abateram em momento algum, e agora acabariam precisando de uma cesárea.
Mas sabedoria também é aprender com as dificuldades. Se eles
estiveram sempre tão dispostos a respeitar o tempo do Samuel, era hora de
respeitar a posição que ele estava. Da forma como ele se apresentou, não
conseguiria sair sem ajuda, e era a hora de ajudá-lo. Eles aceitaram, e
entenderam que a cirurgia era necessária. O Samuel nasceu bem, foi receber os primeiros cuidados pelo
pediatra e logo foi levado pelo papai pra conhecer a mamãe. Ainda na sala de
recuperação já mamou, e não desgrudou mais do colo da mamãe.
Alguém poderia pensar: “puxa, mas se ela passou por tudo
isso, e acabou fazendo uma cesárea, não teria sido melhor já marcar a cirurgia
de uma vez?”.
A Mayara sabe que não. Tudo foi perfeito. O Samuel estava
pronto, estava acordado, participando do trabalho de parto, procurando um jeito
de nascer! Deu todos os sinais de que sua hora havia chegado, e que estava
pronto para respirar sozinho aqui fora. Teve tempo para amadurecer seu sistema
nervoso, e seus pulmões amadureceram ainda mais durante o trabalho de parto.
Recebeu toda a ocitocina que corria nas veias da mamãe, e estava inundado por
ela quando nasceu, e pode se apaixonar facilmente por ela justamente por que
teve seu processo respeitado. Além disso, permitiu ao papai e à mamãe viverem o
momento mais intenso das suas vidas... passar juntos por um trabalho de parto!
A cumplicidade que já existia entre os dois tornou-se sólida, e agora estão
prontos para trilhar essa maravilhosa jornada que é a maternidade.
Eles têm consciência de tudo isso. Quando o obstetra
determinou a cesárea, chorei ouvindo a Mayara dizer (ainda tendo contrações!):
“eu não me arrependo de nada! Se tivessem me contado que seria assim, eu teria
feito tudo de novo!”
Queridos... eu também teria feito tudo de novo! Só pra
concluir, como vocês, que o Samuel nasceu de um parto humanizado!! Tão
humanizado, que respeitou seu tempo e sua maneira de nascer. Serei eternamente grata por poder vivenciar
esse momento tão maravilhoso, que deixou marcas positivas em mim! =D
Deus continue os abençoando sempre... o Samuel vai crescer
sabendo que o caminho que os pais dele escolheram é o de um Deus que nos ama e
está sempre presente em todos os detalhes!
Créditos das fotos: Kelly Donato Fotografias
(https://www.facebook.com/Kellydonatofotografias?fref=photo)
Chorei lendo essa linda historia e fiquei imaginando se meu parto tivesse sido assim nao teria os traumas e o medo de uma nova gravidez. Meu filho nasceu de 40 semanas so q ele estava (penso eu pelo relato) na posicao B, fiquei muito tempo sofrendo e a cada contracao os batimentos dele diminuiam e vinha o medo de que eu perdesse ele ai. Quando o medico achou que nao dava pra esperar mais e levou pro centro cirurgico e na troca de maca ele "desceu" e nasceu de parto normal, porem tive um laceração e uma reconstituição mal feita. Lindo seu trabalho que Deus possa te abençoar sempre. Juliane
ResponderExcluirJuliane, nada como um parto bem vivido pra curar outro... =D que seus caminhos passem pela aceitação e voce possa colher o melhor de tudo que passou.
ExcluirOlá May, lendo tudo isso não tem como não se emocionar!
ResponderExcluirRealmente não há do que se arrepender, pelo contrario, tudo foi feito organizado e planejado! E aí esta a prova o Samuel bem e lindo!
Nossa Senhora esteve presente em cada momento, em cada contração, em cada sentimento. E foi ela que lhe deu essa força, e segurou o Samuel até o momento certo! E Deus Misericordioso, completou mais uma obra, realizou mais um milagre!
Parabéns a essa família, amigos, toda equipe! (as fotos ficaram divinas)
Seu filho é perfeitamente lindo!!!!!!!!!!
>> Jesus, Maria e José essa família vossa é!!!!
Um beijo grande
Paula Soares Sopelsa!
Paula, obrigada pelo comentário! O Samuel é mesmo uma gostosura...
ExcluirNossa estou sem palavras ...
ResponderExcluirEstou sem palavras para descrever a emoção de ler tudo isso. Deus é maravilhoso em tudo que faz.. Não vejo a hora de poder ouvir de vc, mayara, sobre cada detalhe é sentimento. Um beijo de sua amiga Tamiris. E parabéns a todos que participaram dessa bênção..
ResponderExcluirMay meu bom é Mayelin Bergamin... chorei muito ao ler o relato do seu parto!!! Parabéns por ser tão guerreira e parabéns a essa equipe q te assistiu...eu sou de Campina da Lagoa... E a partir do mês q vem vou tentar engravidar....troquei de medico pq quero um parto normal! vi varios relatos dos partos que essa equipe assiste ... E gostaria de saber o que eu preciso para conseguir um parto assim ... Acho q n me sentirei completa como mulher se eu n conseguir parir! Meu marido tem muito medo mas eu não posso desistir. Faz um ano q toda vez q pego um bebê o colo me da leite... Já fiz vários exames e meu medico disse q realmente é psicológico e que o leite é o mesmo de quem acabou de ganhar bebê... Estou mais que pronta para ser mãe!!! Se puder me add no Whats 45 99726091. Obrigada
ResponderExcluirTenho um filho que hoje está com 1 ano e 8 mês, meu parto foi normal e aconteceu isso ai, meu filho nasceu de face, eu nem imaginava que ele corria risco de vida, que bom que deu tudo certo. O médico que fez meu parto era tão ignorante que nem sabia que era possível a criança nascer nessa posição, tanto que quando ele viu meu filho saindo ele não fez nada para mudar a posição dele, meu filho nasceu com um roxo em volta da boca, não conseguiu mamar no meu peito no primeiro dia pq a boca dele doia. Somente hoje fui saber que naquele dia meu filho poderia ter morrido.
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