sexta-feira, 11 de julho de 2014

Relato do Nascimento do Samuel (Mayara e Leandro, 08/07/14)

Bebês demoram 40 semanas para nascerem, certo? Nem sempre!!

O Samuel provou isso. A mamãe Mayara e o papai Leandro desde sempre tinham no coração o desejo de respeitar o tempo do seu bebê, permitir que ele avisasse a hora que estava pronto para nascer. E assim foi.
Ainda lembro o dia que eu estava no mercado e recebi uma ligação emocionada do casal, contando que estavam grávidos. Que alegria!!  Eu e meu marido conhecemos a Mayara e o Leandro quando ainda nem namoravam, vimos eles ficarem noivos, testemunhamos seu casamento... e quando soubemos da gravidez, comemoramos e choramos com eles.

A Mayara sempre quis ter um parto normal, e sabia que, pra conseguir isso, precisava buscar informação. Participou de (quase) todos os encontros do GestaCascavel que aconteceram durante sua gestação (na verdade, ela começou a ir quando ainda era tentante! Rs!). Estava sentindo-se preparada.

A gestação foi tranqüila, as semanas se passaram, até que, quando ela estava com 37 semanas, começou a sentir pródromos (contrações irregulares que começam e param, ainda não são trabalho de parto). A ansiedade era inevitável... O Samuel já estava com 3 Kg nessa época, e chegamos a pensar que ele nasceria antes das 40 semanas mesmo. Mas as contrações não ritmaram, não era a hora ainda. A partir disso, cada dia que se passava deixava a expectativa: será que é hoje? Ela já estava sentindo bastante desconforto nas costas, no púbis (teve uma pubalgia), nos punhos (teve síndrome do túnel do carpo), já não conseguia dormir direito à noite... e chegou a duvidar se conseguiria manter a calma até que o Samuel quisesse nascer. Conforme a barriga foi ficando maior, os questionamentos das pessoas ficaram mais intensos: “ meu Deus, esse menino tá enorme! Quando é que vai nascer???”

Começou aí a experiência de superação.  Aquela Mayara, que se reconhecia ansiosa, foi aprendendo a esperar. Se afastou do trabalho, porque estava ficando difícil, e se viu obrigada a aprender a não fazer nada. Acalmar o ritmo. A mulher ativa e trabalhadora, que desde sempre foi independente e dona do próprio nariz, precisou ficar em casa, dedicar-se à preparar o ninho pro seu filhote. A cada dia, repetia pro Samuel que ele poderia nascer quando estivesse pronto, que ela respeitaria o tempo dele, e que mesmo querendo conhecê-lo logo, ela havia decidido ESPERAR. Decidiu não ter o controle sobre a situação. Quando passou das  40 semanas, teve que reafirmar isso várias vezes, todo dia, toda hora, pra não desistir. E não foi uma tarefa fácil. Mas foi assim que a Mayara conquistou o que precisava para tornar-se Mãe: entender que o respeito pelo seu pequeno grande Samuel era mais importante que a opinião dos outros, ou que a sua própria vontade.

E a gestação alcançou as 41 semanas. Mais um dia. Mais dois...

O TRABALHO DE PARTO

No dia 06/07, conversamos muuuuuito por mensagens. A Mayara me escreveu que entendia porque precisava esperar tanto. Deus estava trabalhando o coração dela, e tudo isso tinha transformado o seu jeito de ser. Ela estava tranqüila, e sentia-se pronta. Ainda brinquei com ela: “ Samuel, agora vc pode nascer! Vêm, bebê!”

Na madrugada do dia 07/07/14, com 41 semanas e 2 dias, às 4:21h, recebi a ligação mais esperada das últimas semanas. “Mari, estou tendo contrações faz mais de uma hora!! Estão bem espaçadas ainda, só liguei pra avisar”. Combinamos que, se tudo continuasse como estava, ela tentaria descansar, de manhã tomaria um café bem reforçado e conversaríamos novamente. E o dia todo foi assim. Contrações suaves, de 5 em 5 minutos.  À tarde, as contrações ficaram um pouco mais intensas, e às 4:30h ela me ligou pedindo  pra ir ficar com ela em casa.

Cheguei lá junto com a enfermeira obstetra Honielly, que o casal contratou pra assistir o nascimento. No primeiro toque, às 18:00h, ela tinha 2 cm de dilatação do colo do útero. O casal estava feliz demais. A Mayara era só sorrisos, afinal, depois de tanta espera, FINALMENTE, estava chegando a hora. Todo mundo estava tranquilo aguardando que o trabalho de parto ativo iniciasse (até a fotógrafa Kelly Donato, que estreou seu trabalho como fotógrafa de partos!), e o Leandro “profetizou”: vai ser às 20h! E assim foi: as contrações ritmaram (3 a cada 10 minutos) às 20:00h, exatamente. =D







 O trabalho de parto foi inesquecível. Um ambiente completamente relaxado, pouca luz, musiquinhas da preferência da gestante tocando, massagens na lombar, movimentos na bola, bolsa de água quente nas costas, muito amor e carinho pra esperar o Samuel...

Às 21:30h chegou a nossa janta (comida chinesa). Quase morremos de rir da Mayara, apurando pra engolir tudo rapidinho entre uma contração e outra (elas vinham a cada 3 minutos!). Quando vinha a contração ela levantava da cadeira, respirava, rebolava, e depois voltava a comer. =D Tranquilo assim, completamente dona da situação. Alternando entre chuveiro, bola, fotos, caminhada, conversas, risadas, histórias, mais fotos...
Meia noite a Honi fez outro toque, e constatou 5 cm. Disse que, ao tocar, sentia só a bolsa, que a cabeça do Samuel não estava pressionando o colo para forçar a dilatação. Isso porque a May tinha bastaaaante líquido (por isso o barrigão, né, May?), e que se a bolsa rompesse expontaneamente, as coisas andariam mais rápido. Eu e a Honi fomos pra sala e deixamos o casal no quarto pra que tentassem descansar um pouco (sim, dá pra cochilar entre uma contração e outra! rs!). A cama ficou desconfortável, e a May quis ir sentar na bola. O Leandro atrás dela amparando as suas costas, e rezando pra que a bolsa rompesse. Às 2:30h, ploft!! Ela rompeu (segundo o Leandro, saíram uns 3 litros de líquido amniótico! Hehehe!). Nova ausculta, coraçãozinho do Samuel ok, contrações agora vindo mais intensas, e todos com ânimo renovado! “Mayara, está pronta?” “Sim, Mari! Estou. E não tenho medo de nada!”.

Fomos pra cozinha, o Leandro passou um café, serviu umas bolachinhas e eu fiz um brigadeiro feito de chocolate meio amargo (que, cá entre nós, foi o melhor que já fiz! Hehe!).  E a madrugada foi chegando. 

3:30h a parteira e o marido foram (tentar) descansar um pouquinho, ficamos eu e a May na sala. Aquele momento, pra mim, vai ficar guardado pra sempre. A May sentia as contrações ficando mais intensas, e chorava de alegria dizendo “Mari, eu esperei tanto por esse momento, que parecia que ele não ia chegar nunca! E agora está acontecendo!”... Disse pra ela que ela tinha tudo o que precisava pra suportar tudo. Que a força estava dentro dela... Ouvimos Rosa Saragoza (Sabemos parir - https://www.youtube.com/watch?v=jC8lqAwBycs), choramos, sorrimos... sentimos que tudo estava caminhando como deveria ser! Deus estava cuidando de todos os detalhes, conforme havia prometido.

5:00h a Honi veio fazer um novo toque, constatou 8 cm de dilatação, mas sentiu que alguma coisa estava diferente. Ao tocar, não sentia as fontanelas do Samuel (a “moleira”). Sentia alguma outra parte da cabeça, que ainda não tinha conseguido identificar exatamente. Conversamos com a Mayara, e sugerimos ir para o hospital, pra então avaliar novamente e, se fosse o caso de variedade de posição mesmo, tentarmos algumas manobras para reposicionar.

A CHEGADA NO HOSPITAL

Chegamos às 6:00h, a Honi avaliou novamente, o obstetra também avaliou, e confirmou que a cabeça do Samuel estava “defletida” (não-fletida). Ou seja, no momento que a bolsa rompeu, ele desceu e não encaixou a cabeça como deveria, ele estava encaixado “de face”.  Na imagem abaixo, dá pra entender melhor:

A apresentação “A” é a posição mais comum, quando a cabeça do bebê está fletida. É mais fácil pro bebê sair quando a fontanela posterior está encaixadinha, pois o diâmetro da cabeça é menor assim. A Posição “B” é deflexão de 1 grau (ou bregmática), ou seja, quando se sente a fontanela anterior ao exame de toque, o que não inviabiliza o parto normal, apesar de o período expulsivo poder ser um pouco mais demorado.

O caso do Samuel foi algo entre a letra “D”, uma deflexão de 3 grau (ou de face), e “C” (de fronte). Nesse caso, o diâmetro pra passagem do bebê pela pelve tem que ser muito maior, então faz-se necessário uma atenção bem mais rigorosa e auxílio de manobras, ou mesmo o fórceps, e muitas vezes há a necessidade de cesárea mesmo. A incidência desta variedade de apresentação é de 1 a cada 600 a 1200 partos.

No caso do Samuel, como o batimento cardíaco dele sempre esteve ótimo, e a May estava muito bem também, optou-se por tentar algumas manobras para tentar corrigir o encaixe da cabeça. Posicionamos ela com o quadril mais alto que o tronco, fizemos algumas manobras, a Honi tentou ajudar com os dedos para que a cabeça de encaixasse, e o obstetra nos deu um prazo até as 11:30h. Ele voltou para avaliá-la, e concluiu que iríamos mesmo para a cesárea, já que a apresentação permanecia igual.

Claro que, na hora que o médico afirmou isso tão categoricamente, o casal chorou (nós também).  Era difícil aceitar que eles chegaram tão longe, venceram tantos medos, foram fortes contra tudo, superaram as contrações e o trabalho de parto, não se abateram em momento algum, e agora acabariam precisando de uma cesárea.

Mas sabedoria também é aprender com as dificuldades. Se eles estiveram sempre tão dispostos a respeitar o tempo do Samuel, era hora de respeitar a posição que ele estava. Da forma como ele se apresentou, não conseguiria sair sem ajuda, e era a hora de ajudá-lo. Eles aceitaram, e entenderam que a cirurgia era necessária. O Samuel nasceu bem, foi receber os primeiros cuidados pelo pediatra e logo foi levado pelo papai pra conhecer a mamãe. Ainda na sala de recuperação já mamou, e não desgrudou mais do colo da mamãe.

Alguém poderia pensar: “puxa, mas se ela passou por tudo isso, e acabou fazendo uma cesárea, não teria sido melhor já marcar a cirurgia de uma vez?”.

A Mayara sabe que não. Tudo foi perfeito. O Samuel estava pronto, estava acordado, participando do trabalho de parto, procurando um jeito de nascer! Deu todos os sinais de que sua hora havia chegado, e que estava pronto para respirar sozinho aqui fora. Teve tempo para amadurecer seu sistema nervoso, e seus pulmões amadureceram ainda mais durante o trabalho de parto. Recebeu toda a ocitocina que corria nas veias da mamãe, e estava inundado por ela quando nasceu, e pode se apaixonar facilmente por ela justamente por que teve seu processo respeitado. Além disso, permitiu ao papai e à mamãe viverem o momento mais intenso das suas vidas... passar juntos por um trabalho de parto! A cumplicidade que já existia entre os dois tornou-se sólida, e agora estão prontos para trilhar essa maravilhosa jornada que é a maternidade.

Eles têm consciência de tudo isso. Quando o obstetra determinou a cesárea, chorei ouvindo a Mayara dizer (ainda tendo contrações!): “eu não me arrependo de nada! Se tivessem me contado que seria assim, eu teria feito tudo de novo!”

Queridos... eu também teria feito tudo de novo! Só pra concluir, como vocês, que o Samuel nasceu de um parto humanizado!! Tão humanizado, que respeitou seu tempo e sua maneira de nascer.  Serei eternamente grata por poder vivenciar esse momento tão maravilhoso, que deixou marcas positivas em mim! =D

Deus continue os abençoando sempre... o Samuel vai crescer sabendo que o caminho que os pais dele escolheram é o de um Deus que nos ama e está sempre presente em todos os detalhes!

Créditos das fotos: Kelly Donato Fotografias 
(https://www.facebook.com/Kellydonatofotografias?fref=photo)


8 comentários:

  1. Chorei lendo essa linda historia e fiquei imaginando se meu parto tivesse sido assim nao teria os traumas e o medo de uma nova gravidez. Meu filho nasceu de 40 semanas so q ele estava (penso eu pelo relato) na posicao B, fiquei muito tempo sofrendo e a cada contracao os batimentos dele diminuiam e vinha o medo de que eu perdesse ele ai. Quando o medico achou que nao dava pra esperar mais e levou pro centro cirurgico e na troca de maca ele "desceu" e nasceu de parto normal, porem tive um laceração e uma reconstituição mal feita. Lindo seu trabalho que Deus possa te abençoar sempre. Juliane

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    1. Juliane, nada como um parto bem vivido pra curar outro... =D que seus caminhos passem pela aceitação e voce possa colher o melhor de tudo que passou.

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  2. Olá May, lendo tudo isso não tem como não se emocionar!
    Realmente não há do que se arrepender, pelo contrario, tudo foi feito organizado e planejado! E aí esta a prova o Samuel bem e lindo!
    Nossa Senhora esteve presente em cada momento, em cada contração, em cada sentimento. E foi ela que lhe deu essa força, e segurou o Samuel até o momento certo! E Deus Misericordioso, completou mais uma obra, realizou mais um milagre!

    Parabéns a essa família, amigos, toda equipe! (as fotos ficaram divinas)

    Seu filho é perfeitamente lindo!!!!!!!!!!

    >> Jesus, Maria e José essa família vossa é!!!!

    Um beijo grande
    Paula Soares Sopelsa!

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    1. Paula, obrigada pelo comentário! O Samuel é mesmo uma gostosura...

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  3. Nossa estou sem palavras ...

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  4. Estou sem palavras para descrever a emoção de ler tudo isso. Deus é maravilhoso em tudo que faz.. Não vejo a hora de poder ouvir de vc, mayara, sobre cada detalhe é sentimento. Um beijo de sua amiga Tamiris. E parabéns a todos que participaram dessa bênção..

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  5. May meu bom é Mayelin Bergamin... chorei muito ao ler o relato do seu parto!!! Parabéns por ser tão guerreira e parabéns a essa equipe q te assistiu...eu sou de Campina da Lagoa... E a partir do mês q vem vou tentar engravidar....troquei de medico pq quero um parto normal! vi varios relatos dos partos que essa equipe assiste ... E gostaria de saber o que eu preciso para conseguir um parto assim ... Acho q n me sentirei completa como mulher se eu n conseguir parir! Meu marido tem muito medo mas eu não posso desistir. Faz um ano q toda vez q pego um bebê o colo me da leite... Já fiz vários exames e meu medico disse q realmente é psicológico e que o leite é o mesmo de quem acabou de ganhar bebê... Estou mais que pronta para ser mãe!!! Se puder me add no Whats 45 99726091. Obrigada

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  6. Tenho um filho que hoje está com 1 ano e 8 mês, meu parto foi normal e aconteceu isso ai, meu filho nasceu de face, eu nem imaginava que ele corria risco de vida, que bom que deu tudo certo. O médico que fez meu parto era tão ignorante que nem sabia que era possível a criança nascer nessa posição, tanto que quando ele viu meu filho saindo ele não fez nada para mudar a posição dele, meu filho nasceu com um roxo em volta da boca, não conseguiu mamar no meu peito no primeiro dia pq a boca dele doia. Somente hoje fui saber que naquele dia meu filho poderia ter morrido.

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