segunda-feira, 28 de abril de 2014

Para os maridos que tem medo do parto domiciliar

Hoje deixo pra vocês um texto indicado por uma amiga/doulanda, a Karine.

Recomendo a sua leitura por todos os maridos que têm medo do parto domiciliar...
Ele foi escrito por um pai que também sentiu essa mesma preocupação, se informou, estudou, e não se arrepende de ter vivido assim a maior experiência de sua vida!

Boa leitura!!
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Nascimento de Miguel

Como minha mulher teve sua vida mudada e rota alterada depois do nascimento de nosso filho onde ela se tornou bem mais que uma ativista da bandeira do parto natural gostaria de relatar aqui minha experiência como homem que vivenciou um parto domiciliar construído passo a passo, com informações concisas, pontuais e assertivas que garantiram o nascimento dentro do melhor espaço possível no mundo: sua própria e futura casa. Bom, pelo menos será isto que pretendo esclarecer aqui a partir de agora.

Desde a notícia da gravidez estive presente aos exames mensais, mesmo morando em BH e ela em SP, onde ocorreram os exames até lá pelo oitavo mês de gravidez (não sou bom de semanas) quando literalmente nossa ficha caiu e vimos que aquele médico era apenas um “cesarista travestido de normalista”, me desculpem o trocadilho infame e resolvemos silenciosamente que o parto ocorreria em BH, apenas isto até aquele momento.

Mas aí veio uma segunda avalanche de informações visto que não havíamos gostado, naquela época, das opções fora do circuito da “vida da cesárea”. E num primeiro momento pensar em parto domiciliar me pareceu a maior loucura, insanidade e tudo mais, afinal, ‘abrir mão da tecnologia e dos recursos da moderna medicina diante de qualquer eventualidade era temeroso’. Este foi um comentário de um amigo bem próximo que inclusive trabalhava num hospital à época. Mas tenho absoluta certeza que ele não havia buscado a gama de informações que buscamos e principalmente, não havia lido minha obra favorita nesta seara: Nascer Sorrindo, do francês Frederick Leboyer.
No meu entendimento a decisão em apoiar incondicionalmente a escolha pelo parto domiciliar veio com a leitura deste livro. Da clareza, sutileza, delicadeza e riqueza de informações sintetizadas em poucas páginas de extrema sabedoria, tive a certeza de saber o chão que pisava, de estar por fazer uma escolha consciente e bem lastreada e que aquilo não seria uma aventura hippie. Bem mais, seria nosso 1º ato enorme de amor e respeito àquele serzinho lindo que chegava ao mundo.

Sempre que encontro com algum casal grávido vivenciando as enormes dúvidas, questionando seus médicos e seus procedimentos impositivos eu indico a leitura deste livro, principalmente ao futuro pai. A questão do nascer dentro do tempo certo, como se colhe uma fruta madura, do não ter outra opção a não ser nascer (claro, com exames e acompanhamentos que indicam a naturalidade deste procedimento), de ser acolhido por uma mulher selvagem irradiando uma beleza, uma firmeza, uma adrenalina e uma ocitocina pra lá de natural é daqueles prêmios que só quem vivenciou pode saber e entender. Esta foto acima foi tirada por mim neste exato momento citado.Espero que cada vez mais homens venham a buscar este conhecimento e vivenciem esta adorável aventura a dois. Ah, quanto a esta mulher selvagem a que acabei de me referir, recomendo a leitura de outro grande livro: Mulheres que correm com lobos, de Clarissa Pinkola Estes. Mas este já será assunto para outro post.

Pra fechar nem preciso dizer que sempre morri de medo de hospitais, de tanta gente de branco trançando pra todo lado, aquele cheiro de éter no ar e principalmente dos médicos, desde que a turma da medicina da UFMG adotou um slogan que plagiava um outro dos anos 80, o famosíssimo “Eu acredito em Duendes”. Bom, o deles era “Eu acredito em doentes”. Como eu sempre preferi a vida saudável passei a fugir deles como o diabo foge da cruz. Claro, existem bons e necessários médicos mundo afora, graças a Deus. Mas estes que cultuam a doença, estou fora.

Mas voltando ao nascer sorridente e feliz em casa eu sei que foi a experiência mais forte de minha vida, com toda certeza. Ver aquele serzinho ainda ligado ao cordão umbilical ser colocado no colo de uma mãe já deitada e vê-lo subir meio que engatinhando rumo ao bico do seio e encaixar sua boca de forma tão natural, sem falas de ninguém, sem indicações e roteiros a seguir, por puro instinto natural. O maior presente pra um pai que optou por estar literalmente ao lado em todo o processo, e da cintura pra cima na hora do ato, sabendo que este fora o único ato que perdera: a passagem pelo canal vaginal. O que considero uma perda formidável que tive, afinal, certas intimidades precisam e devem ser preservadas. Pelo menos pra mim.

E deste meu ângulo ao lado vivenciei a mais forte de minhas emoções.
Parabéns à mãe Kalu e a todas as corajosas mães aqui homenageadas nesta semana, por nos ajudarem a perder este medo.

Fonte:
http://vilamamifera.com/osmamiferos/como-perdi-o-medo-do-parto-domiciliar/