quarta-feira, 25 de abril de 2012

Relato de Amamentação Prolongada e Desmame Natural


Desde sempre eu soube que iria amamentar minha filha por bastante tempo: PELO MENOS os 2 anos recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Dentro de mim eu tinha a convicção de que a amamentação daria certo, e pronto. Simples assim.

Algumas pessoas da família me questionavam o porquê que no enxoval dela não tinha mamadeira: “Mari, mas e se você não tiver leite????”. De verdade, NUNCA me preocupei com isso. Sei que o leite não é uma graça concedida pelo destino a algumas sortudas: depende de colocar o bebê pra mamar! Então, se eu colocasse o bebê pra mamar, teria leite (em 99% dos casos funciona assim).

Minha pequena nasceu de parto normal, mas infelizmente não consegui amamentá-la na primeira hora após o nascimento. O pediatra achou mais importante deixá-la em observação, por conta de ela ter demorado um pouquinho pra chorar, e só fui conhecê-la 3 horas depois. Nos primeiros dias, como às vezes acontece, ela não se interessou muito pelo seio, e preferia dormir a ficar mamando colostro. Depois que o leite desceu meeeesmo (no terceiro dia, como é de se esperar), ela mamou super bem. Não tive grandes problemas com a amamentação, fora uma mastite no primeiro mês, que cedeu rapidinho.

Até ela completar os 6 meses eu nunca complementei com nada a alimentação dela. Nem água, nem chá, nem outros tipos de leite. Depois disso comecei a introdução de frutas (essas ela aceitou logo de cara, qualquer uma!) e tentei introduzir uma papinha salgada por dia, mas ela só foi aceitar com quase 8 meses. Simplesmente gospia TUDO que eu colocava na boca dela, independente do que fosse. O pediatra só orientou pra continuar oferecendo a papinha uma vez por dia, mesmo que ela não comesse, e quando o organismo dela sentisse necessidade de alguma coisa a mais além do leite materno, ela iria aceitar. E assim foi: com 8 meses, do dia pra noite, ela resolveu que gostava de comida salgada, e passou a comer tudo que eu oferecia. Então, com 8 meses ela ficou com 2 papinhas salgadas (almoço e janta), uma fruta de manhã e uma à tarde. Além disso, era só leite materno, que continuou sendo a principal fonte da alimentação dela até ela completar um ano.

Sempre amamentei “em livre demanda”, ou seja: sem horários estipulados, sem controlar duração ou intervalos entre as mamadas. A hora que ela queria, eu dava. E segui assim até os 18 meses. Nessa época, comecei a conversar com ela sobre o mamá, e combinamos que, de agora em diante, ela só iria mamar pra dormir. Ela ainda fazia uma soneca de manhã e uma no fim da tarde, e tinha mais a mamada da noite. Então, ela mamava pelo menos 3 vezes ao dia. E se ela acordasse de madrugada, eu também oferecia o peito. Algumas vezes ela pediu pra mamar em outros horários que não os da soneca, e eu conversei novamente, expliquei que daria quando ela fosse dormir, e geralmente tudo se resolvia tranquilamente. Só abri algumas exceções quanto aos horários de mamar quando ela esteve doente (crise de alergia respiratória, ou gripe, ou uma virose...). E nessas horas eu agradecia por ainda estar amamentando, porque mesmo ficando alguns dias sem comer direito, o leite materno ela continuava aceitando muito bem, e nunca perdeu peso por isso.

Com o passar do tempo, ela foi crescendo, e passou a dormir só uma vez à tarde durante o dia, então mamava só nessa hora e pra dormir à noite. E depois que começou a ir pra escola (com 2 anos e 4 meses) ela deixou de dormir durante o dia, e a última mamada que restou foi a da noite. Nessa época engravidei novamente, e nunca pensei em desmamá-la por conta disso. (Antes que alguém pergunte, NÃO, não tem problema algum amamentar grávida. Não faz mal pra mãe, nem pro bebê que está sendo amamentado e nem pro que está no útero).

A essa altura, muita gente nem sabia que ela ainda mamava. A reação era sempre a mesma quando alguém tocava no assunto: “Nossa, mas ela AINDA mama???” (se ela mamasse na mamadeira seria normal pra você??), ou “nossa, mas você AINDA tem leite???” (dava vontade de dizer: tenho sim, quer ver?), ou (a piorrrrrrr!!!) “você AINDA não conseguiu desmamar ela????” (não, querida, eu nem tentei...). Enfim, que já amamentou por mais de 2 anos sabe do que eu estou falando. É ridículo, mas se uma criança de 3 ou 4 anos mama na mamadeira, todo mundo acha super normal. Mas se um bebê que já fala ou já anda for flagrado mamando no seio da sua mãe, vira assunto. E os comentários em geral não são estimulantes. Tem aqueles que tentam convencer a todo custo, e as ameaças são de todo tipo: “você vai ver como vai ser difícil pra desmamar ela! Ela já entende, e você não vai conseguir, por que a fulana e a cicrana fizeram de tudo, e blá blá blá...”.

Me obriguei a pensar sobre até quando amamentar. Isso nunca foi um peso pra mim, e nessa época uma mamada por dia não gerava o mínimo transtorno. Sem contar que até ajudava, a hora de dormir sempre era tranquila: boa noite pro papai, sentava no meu colo, mamava e dormia (em 5 ou 10 minutos). O que começou a gerar um pouco de preocupação foi o medo de que, quando eu desmamasse ela, talvez ela tentasse compensar isso chupando o dedo. Esqueci de comentar, mas com 4 meses ela “descobriu” o polegar direito, e desde então se eu tirasse ela do peito antes de ela ter dormido BEM (sabe quando o bebê fica “molinho”, já no terceiro sono?), ela colocava o polegar na boca. Isso era só na hora do sono, quando ela estava meio dormindo, durante o dia quase nunca aconteceu.

Mas com pouco mais de 2 anos comecei a perceber alguns sinais de que ela já estava se desligando aos poucos do mamá e da fase oral: ela já não colocava mais o dedo na boca, e várias vezes dormiu antes de mamar (enquanto eu tomava banho e ela brincava na cama com o papai, por exemplo: eu chegava no quarto e ela já tinha dormido sozinha). Nas nossas conversas ela também mostrava ter percebido que as priminhas maiores já eram mocinhas e não precisavam mais mamar pra dormir. E mostrava interesse por isso. Fui entendendo que ela estava se mostrando pronta pro desmame, talvez mais do que eu.

E um dia, numa conversa, combinamos que ela já era grandinha pra dormir no berço. Ela precisava de uma cama e, quando a cama nova chegasse, ela poderia dormir igual às priminhas mais velhas: sem mamar e sem chupar dedo. E ela concordou numa boa, mostrando ter gostado da ideia. Encomendamos a cama, demorou quase um mês pra chegar, e eu e meu marido aproveitamos esse tempo pra ir trabalhando com ela a ideia de dormir sem mamá. Repeti inúmeras vezes que eu a amava muito, que jamais deixaria de amá-la, que continuaria sendo a mamãe dela, que ela poderia ter meu colo quando quisesse, mas que quando a caminha chegasse, ela não precisaria mais mamar. E, nesse tempo, cada noite eu e ela curtimos muuuuuuito o nosso “momento amamentação”. Várias vezes me peguei com nó na garganta segurando ela dormindo no meu colo, pensando que esses momentos deveriam durar pra sempre...

E, um dia, quando a Fer estava com 2 anos e 8 meses, a cama chegou. Comprei um lençol rosa, como ela queria, ajeitei o quartinho, que ficou com cara de novo. E, à noite, fui fazê-la dormir como tínhamos combinado: escovamos os dentes, colocamos pijama, acendi o abajur do quarto, contei uma historinha, e deitei do lado dela. Fiquei fazendo carinho nos cabelos, e veio a pergunta que eu temia: “mamãe, posso mamar?” Mantive a minha posição, expliquei mais uma vez que ela não precisava mais mamar porque já era mocinha, e agora podia dormir sem o mamá. Ela virou pro lado, tentando dormir. Depois de algum tempo, mais uma vez a mesma pergunta, e de novo repeti a mesma resposta. Nessa hora meu marido entrou e se ofereceu pra ficar com ela, e achei que seria bom. Fui pro quarto tomar banho, ele ficou com ela, e quando voltei, ela já tinha dormido. Depois ele contou que ela pediu por mim algumas vezes, ele explicou que eu já voltaria, e ela fechava os olhinhos de novo, tentando dormir. E assim foi a primeira noite: bem melhor do que eu tinha imaginado.

E depois dessa noite, ela não pediu mais pra mamar antes de dormir. Eu ficava deitada na cama do ladinho dela, às vezes cantava, às vezes fazia massagem nos pezinhos (ela adora!!), às vezes ficava em silêncio... e ela dormia sem mamar. E a cada dia que passou fui confirmando no meu coração que ela realmente estava pronta pra isso. Não aconteceu nenhum escândalo por “não poder” mamar, não teve nenhum tipo de manifestação inesperada, e o meu medo não aconteceu: ela nunca mais colocou o polegar na boca. Ela se sentia extremamente realizada em poder contar pra vovó e pras tias que agora ela era “mocinha”, e dormia na caminha sem mamar e sem chupar dedo.

Em resumo, foram 2 anos e 8 meses de amamentação, sem nunca ter usado uma mamadeira e nem saber quanto custa uma lata de leite artificial. Não me preocupo em oferecer outro tipo de leite pra ela, só cuido pra que a alimentação seja a mais equilibrada possível, por causa do cálcio (NÃO, o leite não é essencial na nossa dieta: pergunte aos outros mamíferos se alguém toma leite depois do desmame?).

Hoje já fazem 4 meses que ela desmamou, e avalio nossa experiência como completamente positiva. Sinto muita tranquilidade quando penso em como as coisas aconteceram, acho que conseguimos completar nosso ciclo de amamentação da melhor forma possível. E encerramos sem traumas, nem pra mim (RS!). Me preparo agora pro nascimento da minha segunda filha, e tenho certeza que tudo vai acontecer naturalmente, como foi com a Fernanda. E, agora, me sinto ainda mais segura de que tenho mesmo que ouvir meus instintos, e não o conselho dos outros.

Marieli A. R. Marcioli
Mamãe da Fernanda (quaaaase 3 aninhos!) e gestando há 31 semanas

 Nossa primeira mamada em casa!!

A última foto que achei amamentando (Fernanda com 2 anos e 3 meses)