segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cesárea Eletiva - Por que não?

Dizer que uma Cesárea foi "Eletiva" significa que ela não foi realizada por motivos de urgência e nem de emergência. Quer dizer que ela foi "agendada".

Quando a gestante opta pela cirurgia cesariana, é costume já marcar a data do nascimento. Algumas vezes a escolha é feita por conveniência, pra que a futura mamãe saiba exatamente o dia que o bebê vai chegar, organizar o trabalho, fazer as unhas e a escova no cabelo... Já ouvi diversas histórias de mães que saíram da primeira consulta do pré-natal com a data da cesariana marcada!

Até aí, sem problemas (será?!?). Mas o que muitas não sabem é que marcar a data para retirar o bebê do útero é perigoso. Por vários motivos. O maior risco, que é assunto pra outro post, é claro que é a própria cesárea. Mas há também a possibilidade de o bebê ser retirado antes de estar completamente pronto. Existe até nome pra essa situação: "prematuridade iatrogênica" (ou seja, prematuridade causada por um erro no cálculo da idade gestacional).

Há uma cultura errônea sendo difundida (inclusive pelos meios de comunicação) de que um bebê de 37 semanas já está pronto pra nascer. Ele já está todo formado, possui todos os órgãos, então já poderia sobreviver fora do útero. O fato é que a partir das 37 semanas é que começa a ser produzida uma substância importantíssima para os pulmões do bebê, o "surfactante alveolar". Ele vai ajudar os pequeninos pulmões do bebê a se manterem abertos para a respiração. E esse processo só INICIA nessa fase. Não é a toa que a principal complicação apresentada nos bebês que nasceram antes da hora é respiratória.

Só para ilustrar, pesquisas apontam que a principal causa de internação nas UTI's neonatais de hospitais particulares é "imaturidade pulmonar". Seria coincidência?

Que a cesárea oferece mais riscos, todo mundo sabe. Segundo um estudo realizado com 56 mil puérperas na Suiça em 2004, cesarianas eletivas dobram o risco de mortalidade dos bebês em relação aos nascidos de parto natural.

Outro dia eu conversava com uma amiga minha muito amiga que mora no nordeste e queria ter um parto normal, mas estava com o bebê pélvico (sentado). Não é uma indicação absoluta de cesárea, mas quando não há um médico experiente pra fazer o parto, uma alternativa é optar pela cirurgia. Ela conversou com a obstetra que a acompanhava e pediu pra esperar o trabalho de parto começar, mas a médica arrumou milhões de motivos pra dizer que era mais conveniente marcar: ela não saberia a equipe que estaria no hospital quando chegasse, é melhor conhecer e escolher quem vai acompanhar... tudo pensando na CONVENIÊNCIA de agendar uma cirurgia. É claro que é mais fácil marcar pra um dia que a agenda esteja mais tranquila, mas nesses casos o que está sendo colocado em jogo é a segurança da mãe e do seu bebê!

Mas, se a mãe for fazer mesmo assim, o mínimo de cuidado para evitar complicações desnecessárias seria aguardar o início do trabalho de parto. O próprio Ministério da Saúde, manifestando-se sobre o assunto, orienta: "Para evitar a prematuridade iatrogênica, sugere-se que mesmo que seja programada uma cesárea desnecessária, a mãe espere entrar em trabalho de parto, pois esse seria um sinal de que o bebê está pronto para nascer." (Confira a matéria na íntegra aqui).

Aqui algumas gestantes podem argumentar: "mas eu já quero fazer cesárea pra não ter que passar pelo trabalho de parto, como fico?". Se a preocupação é com as contrações, relaxe: as primeiras são completamente suportáveis, e em geral iniciam com bastante espaço entre uma e outra. Dá tempo tranquilo pra você ligar pro seu médico, pegar suas coisas e ir pra sua cirurgia. Um punhadinho de contrações não mata ninguém, e evita um montão de possíveis complicações que podem custar muito mais depois.

No caso da minha amiga, a natureza "pregou uma peça" na médica. Mesmo agendando a cesárea pro meio da semana, a médica teve que ir pro hospital acompanhar minha amiga que entrou em trabalho de parto num sábado à noite... =D

Imagem: daqui

4 comentários:

  1. Mari! Muito bem dito tudo, porém, pra mim, Mariana, cesárea não é questão escolha (sei que pra vc também não...) Não é tipo: vc deseja parto normal ou cesárea. Todas deveríamos passar pelo processo do parto, e se realmente necessário, a cesárea aconteceria. Mas enfim... seus post são muito informativos, estou sempre por aqui... E obrigada pelo apoio sempre... Beijocas!!!

    Mamiimari

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    1. Todas deveriam? Ai, Ai... é a mesma coisa que dizer que toda mulher deveria ser mãe e quem não quer?

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  2. Vítima da Cesariana Agendada

    Se pudesse, aconselharia todas as mulheres a optar pelo parto normal, ou pelo menos a passar pelo trabalho de parto antes de uma eventual cesárea.
    Sou uma vítima da cesárea agendada, aquela sem trabalho de parto e sem a menor consideração para com o bebê. Hoje, com 20 anos e depois de alguma leitura em artigos científicos a respeito, concluo que teria sido mais benéfico, e até mais ético, se minha mãe tivesse me abortado.
    Nasci antes do tempo, com 38 semanas, por conveniência de um médico insensível e pelo medo que minha mãe sentia da dor. Um paradoxo, pois ela relata que a dor do pós-operatório que sentiu, após a cesariana, foi muito mais cruel que a dor que sentiu em seu primeiro parto, que foi normal.
    Além de ter nascido com icterícia (o menor dos problemas) e dificuldades respiratórias, tive problemas de aprendizado no colégio e, principalmente, de socialização. Fui uma criança incompreendida, já que meus próprios pais me condenavam duramente por minhas limitações, e sofri de grave depressão, da qual só consegui me libertar há alguns meses com auxílio de acupuntura.
    “Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas (…) a borboleta passou o resto de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas.

    Ela nunca foi capaz de voar.” (A lição da borboleta, autor desconhecido)

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