sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O medo pode atrapalhar o parto?

O assunto já foi tema de outro post, e gerou bastante discussão. O medo do parto ronda os pensamentos de grande parte das gestantes, e acaba influenciando na escolha da via de nascimento. Afinal... ele pode atrapalhar o parto?

SIM. E muito.

A Fisiologia explica que o medo produz em nós uma descarga de adrenalina. Sabe aquele frio na barriga quando você está sozinho em casa e ouve um barulho? Essa é uma reação típica causada pela adrenalina. O coração bate mais rápido, as pupilas dilatam, a respiração se torna mais forte, e tudo no corpo se concentra no instinto de defesa, fica em estado de alerta e prontidão. Ela nos prepara para fugir, para correr, ou para tomarmos alguma atitude diante de um perigo (real ou imaginário). É um hormônio de proteção, e durante toda nossa evolução foi essencial para favorecer a sobrevivência da espécie.

O fato é que, durante o trabalho de parto (TP), ela não é bem-vinda. Não até que se chegue ao expulsivo. O hormônio que deve prevalecer durante o TP é a ocitocina, que é responsável por estimular o útero a se contrair. Ela é liberada no cérebro, e vai pela corrente sanguínea até o útero enviando as informações que vão controlar todo o processo de nascimento. E isso acontece instintivamente, sem que a mulher precise fazer nada. O próprio organismo se encarrega de tudo, se não for atrapalhado.

Quando a gestante sente medo (de qualquer forma, tipo ou causa) durante o trabalho de parto há liberação de adrenalina, que passa a competir com a ocitocina. O útero estava recebendo informações para se contrair e expulsar o bebê, mas o instinto de defesa fala pela adrenalina dizendo que é preciso se proteger, ficar alerta, fugir de algum perigo potencial. O resultado pode ser a redução dos efeitos da ocitocina, e até mesmo o seu bloqueio. A dilatação pára, as contrações param, e a gestante pode acabar precisando de uma cesárea.

Em uma situação normal, quando a parturiente está tranquila, ela só precisará da adrenalina no final do trabalho de parto, quando a dilatação estiver completa: o corpo enviará os estímulos para que ela fique alerta novamente, esteja atenta para receber o bebê que está prestes a nascer. Algumas parteiras experientes até relatam que quando a mulher está prestes a parir, é possível perceber suas pupilas dilatarem. É a descarga final de adrenalina.

O que fazer, então? Já comentamos sobre a necessidade de estar preparada para esse momento. E as rápidas consultas de pré-natal não conseguem cumprir esse objetivo. É preciso buscar bem mais. E encarar de frente: do que você tem medo? É preciso questionar-se, pra tentar encontrar maneiras de enfrentá-lo. A gestação, que é momento de preparar-se para ser mãe, também envolve a preparação para o parto. Ouça histórias de outros partos, imagine-se no seu grande dia... e tente identificar que situações te preocupam. Já conheci diversas gestantes que tinham muito medo, mas que assumiram para si mesmas essa condição e souberam buscar ajuda. Mais uma vez, a informação faz toda a diferença.

Outra solução que pode ajudar nesse sentido é de responsabilidade da equipe que atende o parto: esforçar-se ao máximo pra criar um ambiente propício para a mãe. Respeito, carinho, acolhimento, silêncio, privacidade... e muito apoio. Se ela sente medo de ficar sozinha, que alguém permaneça sempre com ela. Se ela sente medo de que algo dê errado, que a equipe reforce que tudo está indo bem, e ela está indo bem na sua caminhada. E por aí vai...

Pesquisando sobre o assunto, encontrei uma entrevista que o famoso obstetra francês Michel Odent concedeu ao jornal Gazeta do Povo, quando esteve no Brasil em abril desse ano. Vale dar uma passadinha pra conferir e saber mais sobre o assunto. Link da entrevista aqui.

Pra encerrar esse post que não acaba mais, lembrei de um fato que aconteceu comigo no fim da minha gravidez. Eu tinha me preparado muito, li tudo que pude sobre o parto, conversei com outras mulheres, li milhões de relatos de parto, e me sentia muito preparada. Quando estava de 38 semanas, eu e meu barrigão fomos com meu marido pra um retiro. Em uma das paredes tinha um pôster de Nossa Senhora com o menino Jesus no colo, e imediatamente lembrei-me de que ela também tinha vivido esse momento. Em pensamento pedi a Deus que cuidasse de tudo no meu parto, assim como tinha cuidado de tudo na minha vida até ali.

No momento do intervalo, sem mais nem menos, um senhor que estava sentado na minha frente virou-se pra trás e me disse assim: "olha, eu não sei por que estou te falando isso, mas Deus pediu pra eu te dizer que você não tenha medo do seu parto. Ele vai estar lá com você, e vai cuidar de tudo. Não tenha medo!" Nem precisa dizer que chorei um rio inteiro, né? Não, eu não tinha falado nada em voz alta, rezei sozinha... e entendi que Deus havia falado comigo.

Não sei qual a crença que você professa. Talvez você chame Deus de Cósmos, de Energia, de Natureza... Mas independente do nome que você dê a Ele, lembre que seu corpo foi criado perfeito. Você tem em si a capacidade de trazer seu filho ao mundo, e esse é um dom divino. Lembrar disso no seu trabalho de parto certamente te dará a força pra manter-se forte!!

Muita ocitocina pra você!

Imagem: daqui

2 comentários:

  1. Oi Mari!!! Sabe, estando com a experiência de parto tão perto de mim ainda, posso de carteirinha dizer que o medo é absolutamente normal. Podemos estar tranqüilas emocionalmente, preparadas psicologicamente, mas o corpo mesmo trata de "segurar" a dor. Se fecha. Vai contra. Fica tenso. Reação a qual vivenciamos diariamente... Nosso primeiro instisto é proteger-se. É por isso que quando falamos do medo, devemos sempre trabalhar com a gestante que "goste" da dor... Que a aceite como uma onda no mar... E vá junto com ela, e não contra, como muitas vezes o corpo quer... Foi como aconteceu comigo. Quando fui com a dor........ Em 10 minutos a Ana nasceu... Hehehehe. Adorei o post, principalmente a última parte do relato! Beijocas!!! Mamiimari

    ResponderExcluir
  2. Oi eu amo o seu blog. Eu vou estar indo para Cascavel e eu estou procurando um bom hospital e médico que pode realizar um parto natural após ac-seção. Eu preciso de um VBAC sem episiotomia. Há um médico em Cascavel que faz isso? Meu email é jazzzlight@yahoo.com

    obrigado
    Jenna

    ResponderExcluir