quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Falta de Dilatação


Nesses últimos dias andei conversando com algumas amigas grávidas e recém-mamães sobre o assunto, e chegamos juntas a uma conclusão: uma gestante bem preparada pode ter um parto mais rápido e tranquilo.

Mas, pra isso, tem algumas condições que devem ser respeitadas. Hoje perdeu-se de vista que o parto acontece basicamente sob o efeito de uma cascata de hormônios que são liberados no corpo da parturiente. O colo do útero só vai dilatar se os hormônios da mãe estiverem sendo liberados adequadamente para que o útero se contraia com eficiência. Em resumo, seria assim: hormônios -> contrações eficazes -> dilatação do colo uterino. Quanto mais hormônios liberados, mais eficazes as contrações, e mais dilatação, logo menos tempo de trabalho de parto (TP).

Pode acontecer, durante o TP, das contrações se apresentarem "ineficazes". Ou seja: estão tão fraquinhas que não são suficientes para forçar o colo do útero a se abrir. Elas podem ficar muito espaçadas , ou durar muito pouco tempo (só alguns segundos). Em geral, a conduta das equipes que assistem parto é a aplicação de hormônios sintéticos (o famoso "sorinho"), pra fazer as contrações ficarem mais fortes (e ficam mesmo!), e acelerarem o processo.

Mas o que não se fala, e não se estuda muito, é que o corpo da mulher tem, sim, capacidade de produzir seus próprios hormônios. Na natureza, nenhuma mamífera precisa de ocitocina sintética pra parir seus filhotes. Será que a nossa espécie é a única que está apresentando defeito?

Vamos observar como ocorre na natureza: as outras mamíferas costumam se afastar de tudo quando sentem que estão prestes a criar. Procuram um lugar seguro, quentinho e escuro para o momento do parto. Esse é o melhor ambiente pra liberação dos hormônios, que acontece naturalmente, sem precisar de ajuda alguma. É lógico imaginar que, se elas não tomassem esses cuidados, poderiam expor seus filhotes recém-nascidos aos perigos dos predadores. Tanto é que, se ela está em trabalho de parto e percebe que um predador a observa, seu corpo é capaz de "adiar" o trabalho de parto pra poder fugir. Os hormônios são bloqueados, a dilatação que estava ocorrendo pára, e ela vai se defender primeiro pra depois, em paz, retomar o processo todo.

Agora vamos observar uma gestante em TP: ela está num ambiente que não conhece, sendo observada por tudo e por todos (inclusive com poucas roupas), muitas vezes sentindo frio, com medo, às vezes sozinha, e, não raro, ouvindo palavras que não gostaria dos profissionais que a atendem. A cada 30 minutos entra um profissional diferente pra avaliá-la, fazer toque, e às vezes sem nem chamá-la pelo nome. "Mãezinha, deita que vamos fazer um toque!". E pra piorar a situação, muitas ainda precisam dividir o mesmo quarto com outra parturiente às vezes mais desesperada que ela.

Como é que se espera que o corpo funcione nessas condições?? É lógico que a sensação de um ambiente não acolhedor vai dar ao cérebro a informação para bloquear o trabalho de parto. É instinto de defesa. Afinal, somos mamíferas! Já acompanhei gestantes que estavam evoluindo lindamente no seu TP enquanto estavam em casa, mas o fato de chegar ao hospital "travou" tudo. O problema não é o hospital, mas o acolhimento (ou a falta dele).

Quem é que nunca ouviu a frase célebre: "eu não tive dilatação...".Tem algumas hipóteses aqui: ou não se esperou tempo suficiente pra que o corpo da mulher funcionasse (acontece muuuuuuuito!), ou a mulher tinha alguma patologia rara (rara mesmo!!) no colo do útero que o impedeiu de dilatar, ou... a gestante não estava se sentindo segura e acolhida! Fora isso, não existe colo do útero que simplesmente veio com defeito de fábrica e não dilata. Ele foi "projetado" pra ceder com as contrações, que só acontecem quando nossos amigos hormônios funcionam bem.

Como é que se melhora isso? Observando alguns cuidados básicos. Gestante em trabalho de parto precisa de:


*Segurança: ter um acompanhante que esteja seguro e confiante (e não que fique desesperando ainda mais a parturiente! rs!) ajuda muito, mas o essencial é que a mulher sinta que está sendo cuidada, amparada, protegida, e que o ambiente que vai receber seu filho é seguro.

*Calor: sentir-se aquecida favorece a liberação de hormônios.

*Ambiente com pouca luz: além de criar um "clima" mais favorável, a penumbra deixa a mulher mais à vontade pra se expressar, se movimentar como sentir que precisa, pra agir instintivamente e obedecer ao que o corpo estiver pedindo.

*Não sentir-se observada: difícil aqui, né? É preciso respeitar a privacidade da mulher. O "entra e sai" do quarto onde ela está deveria ser evitado ao máximo. A presença de pessoas estranhas no ambiente pode, sim, atrapalhar muito a parturiente!

*Liberdade pra se movimentar: o corpo sabe o que deve fazer pra ajudar a descida e o encaixe do bebê. É instintivo que a mulher sinta vontade de deitar, sentar, levantar, rebolar, abaixar, deitar de lado... e essas vontades deveriam ser respeitadas. É o próprio corpo "guiando" o processo todo. Se a mulher estiver atenta, certamente vai sentir esses "comandos" vindos do próprio corpo. Não é necessário que ninguém a ensine aqui.


Ainda poderíamos citar a importância de não sentir medo, já que isso provoca uma liberação de adrenalina que "bloqueia" a ocitocina. Mas isso é assunto pra outro post...


Observando tudo isso, certamente o trabalho de parto poderá fluir mais naturalmente! E quanto mais deixarmos a natureza fazer sua parte, menos precisaremos intervir...

2 comentários:

  1. Conheço tantos casos onde isso aconteceu. Amigas que realmente queriam um parto natural, mas que não se dilatam, porque eles estavam com medo. Em todos os casos a mulher teve uma cesárea.
    OBRIGADA por este blog maravilhoso, eu vou recomendar.. Muitas mulheres aqui em Foz do Iguacu (aonde nos nao temos muita educacao em parto normal) precisam ler...

    ResponderExcluir
  2. Descreveu perfeitamente o que queremos e como queremos nos sentir nesse momento tão especial em nossas vidas!
    Infelizmente não são todas que tem a sorte ou benção de ser tratada como "a mamífera" que somos!

    ResponderExcluir