quarta-feira, 30 de julho de 2014

Relato do nascimento do João Victor - parto natural domiciliar em Cascavel-PR

A Scheila sempre imaginou que ia fazer uma cesárea quando fosse ter um filho. Até ouvir histórias de partos naturais, que foram aos poucos mudando seus conceitos. Somos amigas desde 2003, e desde que me tornei doula (em 2010) sempre contei como aconteciam os partos que eu acompanhava, e ela foi se apaixonando. Quando ela engravidou, tinha certeza de que queria um parto natural. Começou a participar do GestaCascavel, apoiada pelo seu marido Nilson, que a incentivou e comprou a ideia junto com ela. Durante a gestação conversamos muito, falamos sobre o medo do parto, até que ele foi desaparecendo. Já com 8 meses, eles conheceram a enfermeira obstetra Honielly, e decidiram que o parto seria domiciliar.

Nas últimas semanas, bateu a ansiedade. Com 37 semanas ela já sentia bastante o peso na lombar, teve uma infecção no ouvido e uma crise alérgica muito forte, e sentiu vontade de desistir do parto. Pra que esperar mais??? Nessa hora, valeu muito o apoio das pessoas que estavam em volta. O marido, a mãe, o padrasto... todos lembraram-na do quanto ela havia se preparado para o parto, e do quanto ela queria que a hora do João fosse respeitada. Vale a pena esperar... Sim, vamos esperar!!

Com 39 semanas e 4 dias, às 20:20h da noite do dia 21/01/14, recebi a ligação tão esperada: a bolsa havia rompido!!!! =D As contrações ainda não haviam começado, então orientei ela a jantar, tomar um banho bem quentinho e ir deitar cedo, pra descansar, pois a qualquer momento o trabalho de parto iniciaria. Avisamos a Honielly, eu fui deitar, e disse que ela poderia me chamar assim que sentisse que precisava de ajuda. Mas quem disse que ela conseguiu dormir??? Rs! As contrações começaram por volta da 1:00h, ainda como cólicas, mas já desconfortáveis. Quando ela me ligou novamente eram 5:17am, ela ainda não tinha conseguido dormir. 


Cheguei junto com a Honi lá, as contrações ainda estavam espaçadas (a cada 4 minutos), e ela quis que fosse feito um toque: 3 cm de dilatação. Então, orientamos ela a se deitar e apagar a luz, pra tentar cochilar um pouco nos intervalos. O marido dela ficou com ela no quarto, e eu, a mãe dela, a Honi e a Heni fomos pra sala dormir (no sofá, coisa linda de ver! Rs!).

As contrações deram uma espaçada, o que foi ótimo, pois assim ela conseguiu descansar um pouco. Perto das 8h da manhã a mãe dela levantou pra fazer um café, eu fui comprar pão, e quando voltei, percebi que a Scheila estava novamente respirando mais forte durante as contrações, que tinham ritmado novamente. Fui no quarto, ela já estava sentada, dizendo que ficar deitada já estava ruim. Fomos pra mesa tomar um café da manhã, ela comeu, conversou, e se mostrava muito tranquila durante todo o tempo. Estava realmente feliz por estar em trabalho de parto... afinal, as contrações tão esperadas estavam acontecendo! Fomos sentar no quintal, ela ganhou massagem na lombar, curtiu o sol (que estava maravilhoso), e as contrações vinham suaves.

A Honielly fez um novo toque às 9h da manhã, e constatou que já havia 6 cm de dilatação no colo uterino. Porém... não sentia a fontanela posterior do João Victor (a “moleirinha”), sentia a testa, os olhos e o nariz! (aliás, nesse exame de toque, quando passou o dedo perto da boca do João ele MORDEU o dedo dela! Rs! Dá pra acreditar??). Significava que ele estava encaixado em uma posição não muito favorável para o nascimento, o que poderia prolongar muuuuito o trabalho de parto, ou até mesmo se tornar uma indicação de cesárea. Nesse primeiro momento, a Honi não quis assustar a Scheila, só falou pra ela que precisaríamos ajudar o João com algumas manobras, que facilitariam o encaixe e a descida dele. E assim fizemos.

Existem algumas manobras que auxiliam o bebê a “desencaixar” da pelve, o que abre uma possibilidade para que ele, ao encaixar novamente, o faça da maneira correta. Pra isso, a Scheila precisaria ficar uma hora em uma posição parecida com a de quatro apoios, mas com o peito encostado na cama, para que o quadril ficasse mais alto que o corpo, enquanto alternávamos movimentos no quadril nos intervalos entre as contrações. Se tudo desse certo, nas duas horas seguinte à manobra o João tentaria se encaixar novamente, agora do jeito certo.

Explicamos pra ela, ela concordou, e durante essa uma hora sentiu MESMO vontade de desistir, de não fazer mais manobra nenhuma. A posição não era a que ela queria naquele momento, mas ela fez um esforço graaaaaande pra conseguir ficar uma hora inteira. Quando terminamos a manobra já era quase uma hora, a Honi fez outro toque, e a dilatação e a apresentação do bebê continuavam iguais.

Nessa hora sentimos que o clima ficou tenso. Embora a apresentação de face seja muuuuuito rara (1 em cada 600 a 1200 nascimentos!), na semana anterior já tínhamos acompanhado outro caso semelhante, que acabou evoluindo pra uma cesárea. A Scheila conhecia a história da outra gestante, e sentiu tudo estava indo por água abaixo! Ela comeu alguma coisa e foi pro chuveiro, pediu pra ficar sozinha, e chorou. Depois ela me contou que viu um filme passar pela cabeça dela nessa hora... quantos planos já havia feito na vida, e sempre eles acabavam de um jeito diferente do que ela havia planejado!! Será que, MAIS UMA VEZ, ela ia sonhar com alguma coisa, e ia ter que se conformar com algo diferente??? (E, pra mim, foi nessa hora que o milagre aconteceu, hoje vejo isso!). Quando saiu do banho, com aquela expressão de desânimo, olhei bem firme nos olhos dela e disse que o caso dela era diferente: a apresentação o João estava folgada, ou seja, ele ainda tinha alguma chance pra tentar encaixar certinho (no outro caso, durante o exame de toque, a Honi sentia que o bebê não se movia nada durante a contração, e que era muuuito difícil tentar desencaixá-lo).

A Honielly sugeriu que fôssemos fazer um ultrassom, pra verificar exatamente qual era a variedade de apresentação do João, pra poder tentar alguma manobra diferente. Mas já avisou a Scheila que levasse as coisas dela e do bebê, porque, dependendo do resultado do exame, talvez já ficássemos no hospital. Lembro bem daquela hora... a Scheila entre uma contração e outra alternava roupinhas e lágrimas, e eu com o coração na mão, desejando poder fazer alguma coisa pra ajudar a resolver aquela situação... Enquanto íamos pro carro, a Scheila comentou algo sobre ter sentido vontade de empurrar durante a contração, mas ignorou, pois o último toque havia mostrado 6 cm, não era possível que já fossem puxos. Mas a vontade continuou no carro... as contrações haviam espaçado novamente com toda aquela adrenalina, mas continuavam bem intensas.

Chegamos na clínica às 14h. O obstetra dela havia chegado junto conosco e passou ela na frente das outras clientes. Antes mesmo de fazer o ultrassom resolveu fazer um exame de toque, e constatou: 8cm, e João encaixado!!!!! Nem foi preciso fazer o ultrassom. Mais uma vez ela chorou, mas agora por não acreditar no que estava acontecendo. Saímos de lá em festa! Além de poder voltar pra casa, agora ela já estava chegando perto... faltava só mais um pouco!!

Quando chegamos na casa dela, ela já sentia calor. Trocou as blusas de lã por um vestidinho de verão, colocamos umas músicas que ela gostava de colocar pro João ouvir durante a gestação (músicas de ninar da Aline Barros), e ela e o Nilson não desgrudaram mais. Namoraram, dançaram abraçadinhos, se olharam nos olhos... e as contrações voltaram a todo vapor! A avó paterna também chegou, e ficou junto com a outra vovó na cozinha, aguardando a hora do João chegar!


Enquanto a Honi e a Heni preparavam no quarto todo o material para o parto (umas 579 caixas de coisas! Rs!), a Scheila já sentia os puxos e tentava encontrar a melhor posição. Ficou um pouco em pé, tentou sentar na banqueta de parto, mas gostou mesmo da posição de quatro apoios em cima da cama. Ali no quarto deles, no ninho deles. Agora já não tinha mais medo, nem preocupações, nem nada: chegou no estágio de ACEITAÇÃO. As contrações doíam, mas ela as desejava cada vez mais, porque estava chegando a hora de conhecer o seu pequeno! “Vêm, filho... ”. As contrações vinham poderosas, com aquela força incontrolável, como ela nunca havia experimentado. E ela se entregou. Respirou fundo, apertou a mão do marido, da doula e de quem apareceu por perto!! Rs! E gritou. GRITOU. Não de desespero. Nem de dor. Eram gritos de libertação!!! Enfim, ia acontecer!!! Não, seus planos não iam dar errado de novo!! Estava chegando a hora!! Depois ela me contou que a cada grito que dava, sentia um alívio, parece que precisava daquilo!

Quando, enfim, vimos o João coroar, a Heni correu na cozinha e chamou as duas vovós, que entraram no quarto tão quietinhas que a Scheila nem percebeu sua presença (aliás, nessa hora, ela já estava na partolândia: estava tão concentrada em si mesma e no nascimento que nada que viesse de fora poderia fazê-la se distrair). Mais algumas contrações, e saiu a cabecinha... ele girou sozinho... ambiente tranquilo, ninguém com pressa, TODOS esperando que ela e o bebê fizessem aquilo sozinhos, como sua natureza mandava que acontecesse!

Até que a próxima contração viesse, expliquei pras vovós que ele não tinha risco de ficar sufocado, pois continuava recebendo oxigenação pelo cordão umbilical (porque vi a cara de preocupação delas com aquela cabecinha pra fora! Rs!)

Na próxima contração, ele escorregou para as mãos da Honi, logo ficou coradinho e chorou. Foi colocado no colo da Scheila, e de lá não saiu por um bom tempo. Nasceu às 16:15h do dia 22/07/14, com 3.380g, apgar 10/10. 

Nessa mesma hora também nasceu um pai. E uma mãe, que agora é uma nova mulher, que não tem mais medo de planejar, e acredita que seus sonhos podem se tornar realidade. E também aprendeu que, na maternidade, não dá pra controlarmos tudo... é preciso saber respeitar o tempo da criança, em todos os sentidos. Tempo para estar pronto pra nascer, tempo para depender exclusivamente da mãe, tempo para adormecer no colo, tempo para precisar de atenção integral... e assim por diante, pela vida toda!

O papai Nilson cortou o cordão. A Scheila amamentou o João na primeira meia hora.  Depois que ele adormeceu ela se levantou, foi tomar banho, e depois ganhou um café da tarde servido pelo marido na cama. Nem parecia que tinha acabado de parir.
A placenta demoroooooou pra sair (só pra deixar a parteira ligadona! rs!), aguardamos 3 horas até que ela saísse. A Scheila não tinha sangramento nenhum, o que nos permitiu aguardar o tempo que fosse necessário até a dequitação.

Houve uma laceração de grau 2 no períneo, a Honi suturou com alguns poucos pontinhos, e tudo certo. O ambiente da casa era de festa, e só saímos de lá às 9:30h da noite, depois do jantar preparado pela vovó Rosângela.


Scheila e Nilson... não sei nem expressar aqui em palavras o que vivi nesse dia. Presenciar esse momento tão maravilhoso da vida de vocês me fez amá-los ainda mais, e admirar ainda mais essa cumplicidade que vocês têm. Que Deus os abençoe em cada passo dessa deliciosa jornada que é a paternidade... e que o coração de vocês continue sempre impregnado das lembranças maravilhosas que o nascimento do João deixou! =D

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Mari, estou de 32 semanas e cheguei ao seu blog pesquisando sobre partos normais/ naturais.. Estou bem mais tranquila, porque desde o início da gravidez quero ter parto normal. Mas ainda tenho al primas dúvidas e um certo medo! Tenho medo de passar por uma cesárea ou episiotomia sem necessidade Vou deixar meu contato, se poder responda por favor! lesprotte@gmail.com

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