A Scheila sempre imaginou que ia fazer uma cesárea quando
fosse ter um filho. Até ouvir histórias de partos naturais, que foram aos
poucos mudando seus conceitos. Somos amigas desde 2003, e desde que me tornei
doula (em 2010) sempre contei como aconteciam os partos que eu acompanhava, e
ela foi se apaixonando. Quando ela engravidou, tinha certeza de que queria um
parto natural. Começou a participar do GestaCascavel, apoiada pelo seu marido
Nilson, que a incentivou e comprou a ideia junto com ela. Durante a gestação conversamos
muito, falamos sobre o medo do parto, até que ele foi desaparecendo. Já com 8
meses, eles conheceram a enfermeira obstetra Honielly, e decidiram que o parto
seria domiciliar.
Nas últimas semanas, bateu a ansiedade. Com 37 semanas ela
já sentia bastante o peso na lombar, teve uma infecção no ouvido e uma crise
alérgica muito forte, e sentiu vontade de desistir do parto. Pra que esperar
mais??? Nessa hora, valeu muito o apoio das pessoas que estavam em volta. O
marido, a mãe, o padrasto... todos lembraram-na do quanto ela havia se
preparado para o parto, e do quanto ela queria que a hora do João fosse
respeitada. Vale a pena esperar... Sim, vamos esperar!!
Com 39 semanas e 4 dias, às 20:20h da noite do dia 21/01/14, recebi a
ligação tão esperada: a bolsa havia rompido!!!! =D As contrações ainda não
haviam começado, então orientei ela a jantar, tomar um banho bem quentinho e ir
deitar cedo, pra descansar, pois a qualquer momento o trabalho de parto
iniciaria. Avisamos a Honielly, eu fui deitar, e disse que ela poderia me
chamar assim que sentisse que precisava de ajuda. Mas quem disse que ela
conseguiu dormir??? Rs! As contrações começaram por volta da 1:00h, ainda como
cólicas, mas já desconfortáveis. Quando ela me ligou novamente eram 5:17am, ela
ainda não tinha conseguido dormir.
Cheguei junto com a Honi lá, as contrações
ainda estavam espaçadas (a cada 4 minutos), e ela quis que fosse feito um
toque: 3 cm de dilatação. Então, orientamos ela a se deitar e apagar a luz, pra
tentar cochilar um pouco nos intervalos. O marido dela ficou com ela no quarto,
e eu, a mãe dela, a Honi e a Heni fomos pra sala dormir (no sofá, coisa linda
de ver! Rs!).
As contrações deram uma espaçada, o que foi ótimo, pois
assim ela conseguiu descansar um pouco. Perto das 8h da manhã a mãe dela
levantou pra fazer um café, eu fui comprar pão, e quando voltei, percebi que a
Scheila estava novamente respirando mais forte durante as contrações, que
tinham ritmado novamente. Fui no quarto, ela já estava sentada, dizendo que
ficar deitada já estava ruim. Fomos pra mesa tomar um café da manhã, ela comeu,
conversou, e se mostrava muito tranquila durante todo o tempo. Estava realmente
feliz por estar em trabalho de parto... afinal, as contrações tão esperadas
estavam acontecendo! Fomos sentar no quintal, ela ganhou massagem na lombar,
curtiu o sol (que estava maravilhoso), e as contrações vinham suaves.
A Honielly fez um novo toque às 9h da manhã, e constatou que
já havia 6 cm de dilatação no colo uterino. Porém... não sentia a fontanela
posterior do João Victor (a “moleirinha”), sentia a testa, os olhos e o nariz!
(aliás, nesse exame de toque, quando passou o dedo perto da boca do João ele
MORDEU o dedo dela! Rs! Dá pra acreditar??). Significava que ele estava
encaixado em uma posição não muito favorável para o nascimento, o que poderia
prolongar muuuuito o trabalho de parto, ou até mesmo se tornar uma indicação de
cesárea. Nesse primeiro momento, a Honi não quis assustar a Scheila, só falou
pra ela que precisaríamos ajudar o João com algumas manobras, que facilitariam
o encaixe e a descida dele. E assim fizemos.
Existem algumas manobras que auxiliam o bebê a “desencaixar”
da pelve, o que abre uma possibilidade para que ele, ao encaixar novamente, o
faça da maneira correta. Pra isso, a Scheila precisaria ficar uma hora em uma
posição parecida com a de quatro apoios, mas com o peito encostado na cama,
para que o quadril ficasse mais alto que o corpo, enquanto alternávamos
movimentos no quadril nos intervalos entre as contrações. Se tudo desse certo,
nas duas horas seguinte à manobra o João tentaria se encaixar novamente, agora
do jeito certo.
Explicamos pra ela, ela concordou, e durante essa uma hora
sentiu MESMO vontade de desistir, de não fazer mais manobra nenhuma. A posição
não era a que ela queria naquele momento, mas ela fez um esforço graaaaaande
pra conseguir ficar uma hora inteira. Quando terminamos a manobra já era quase
uma hora, a Honi fez outro toque, e a dilatação e a apresentação do bebê
continuavam iguais.
Nessa hora sentimos que o clima ficou tenso. Embora a
apresentação de face seja muuuuuito rara (1 em cada 600 a 1200 nascimentos!),
na semana anterior já tínhamos acompanhado outro caso semelhante, que acabou
evoluindo pra uma cesárea. A Scheila conhecia a história da outra gestante, e
sentiu tudo estava indo por água abaixo! Ela comeu alguma coisa e foi pro
chuveiro, pediu pra ficar sozinha, e chorou. Depois ela me contou que viu um
filme passar pela cabeça dela nessa hora... quantos planos já havia feito na
vida, e sempre eles acabavam de um jeito diferente do que ela havia planejado!!
Será que, MAIS UMA VEZ, ela ia sonhar com alguma coisa, e ia ter que se
conformar com algo diferente??? (E, pra mim, foi nessa hora que o milagre
aconteceu, hoje vejo isso!). Quando saiu do banho, com aquela expressão de
desânimo, olhei bem firme nos olhos dela e disse que o caso dela era diferente:
a apresentação o João estava folgada, ou seja, ele ainda tinha alguma chance
pra tentar encaixar certinho (no outro caso, durante o exame de toque, a Honi
sentia que o bebê não se movia nada durante a contração, e que era muuuito
difícil tentar desencaixá-lo).
A Honielly sugeriu que fôssemos fazer um ultrassom, pra
verificar exatamente qual era a variedade de apresentação do João, pra poder
tentar alguma manobra diferente. Mas já avisou a Scheila que levasse as coisas
dela e do bebê, porque, dependendo do resultado do exame, talvez já ficássemos
no hospital. Lembro bem daquela hora... a Scheila entre uma contração e outra
alternava roupinhas e lágrimas, e eu com o coração na mão, desejando poder
fazer alguma coisa pra ajudar a resolver aquela situação... Enquanto íamos pro
carro, a Scheila comentou algo sobre ter sentido vontade de empurrar durante a
contração, mas ignorou, pois o último toque havia mostrado 6 cm, não era
possível que já fossem puxos. Mas a vontade continuou no carro... as contrações
haviam espaçado novamente com toda aquela adrenalina, mas continuavam bem
intensas.
Chegamos na clínica às 14h. O obstetra dela havia chegado
junto conosco e passou ela na frente das outras clientes. Antes mesmo de fazer
o ultrassom resolveu fazer um exame de toque, e constatou: 8cm, e João
encaixado!!!!! Nem foi preciso fazer o ultrassom. Mais uma vez ela chorou, mas
agora por não acreditar no que estava acontecendo. Saímos de lá em festa! Além
de poder voltar pra casa, agora ela já estava chegando perto... faltava só mais
um pouco!!
Quando chegamos na casa dela, ela já sentia calor. Trocou as
blusas de lã por um vestidinho de verão, colocamos umas músicas que ela gostava
de colocar pro João ouvir durante a gestação (músicas de ninar da Aline
Barros), e ela e o Nilson não desgrudaram mais. Namoraram, dançaram
abraçadinhos, se olharam nos olhos... e as contrações voltaram a todo vapor! A
avó paterna também chegou, e ficou junto com a outra vovó na cozinha,
aguardando a hora do João chegar!
Enquanto a Honi e a Heni preparavam no quarto todo o
material para o parto (umas 579 caixas de coisas! Rs!), a Scheila já sentia os
puxos e tentava encontrar a melhor posição. Ficou um pouco em pé, tentou sentar
na banqueta de parto, mas gostou mesmo da posição de quatro apoios em cima da
cama. Ali no quarto deles, no ninho deles. Agora já não tinha mais medo, nem
preocupações, nem nada: chegou no estágio de ACEITAÇÃO. As contrações doíam,
mas ela as desejava cada vez mais, porque estava chegando a hora de conhecer o
seu pequeno! “Vêm, filho... ”. As contrações vinham poderosas, com aquela força
incontrolável, como ela nunca havia experimentado. E ela se entregou. Respirou
fundo, apertou a mão do marido, da doula e de quem apareceu por perto!! Rs! E
gritou. GRITOU. Não de desespero. Nem de dor. Eram gritos de libertação!!!
Enfim, ia acontecer!!! Não, seus planos não iam dar errado de novo!! Estava
chegando a hora!! Depois ela me contou que a cada grito que dava, sentia um
alívio, parece que precisava daquilo!
Quando, enfim, vimos o João coroar, a Heni correu na cozinha
e chamou as duas vovós, que entraram no quarto tão quietinhas que a Scheila nem
percebeu sua presença (aliás, nessa hora, ela já estava na partolândia: estava
tão concentrada em si mesma e no nascimento que nada que viesse de fora poderia
fazê-la se distrair). Mais algumas contrações, e saiu a cabecinha... ele girou
sozinho... ambiente tranquilo, ninguém com pressa, TODOS esperando que ela e o
bebê fizessem aquilo sozinhos, como sua natureza mandava que acontecesse!
Até que a próxima contração viesse, expliquei pras vovós que
ele não tinha risco de ficar sufocado, pois continuava recebendo oxigenação
pelo cordão umbilical (porque vi a cara de preocupação delas com aquela
cabecinha pra fora! Rs!)
Na próxima contração, ele escorregou para as mãos da Honi, logo
ficou coradinho e chorou. Foi colocado no colo da Scheila, e de lá não saiu por
um bom tempo. Nasceu às 16:15h do dia 22/07/14, com 3.380g, apgar 10/10.
Nessa mesma hora
também nasceu um pai. E uma mãe, que agora é uma nova mulher, que não tem mais
medo de planejar, e acredita que seus sonhos podem se tornar realidade. E
também aprendeu que, na maternidade, não dá pra controlarmos tudo... é preciso saber
respeitar o tempo da criança, em todos os sentidos. Tempo para estar pronto pra
nascer, tempo para depender exclusivamente da mãe, tempo para adormecer no
colo, tempo para precisar de atenção integral... e assim por diante, pela vida
toda!
O papai Nilson cortou o cordão. A Scheila amamentou o João na primeira meia hora. Depois que ele
adormeceu ela se levantou, foi tomar banho, e depois ganhou um café da tarde
servido pelo marido na cama. Nem parecia que tinha acabado de parir.
A placenta demoroooooou pra sair (só pra deixar a parteira
ligadona! rs!), aguardamos 3 horas até que ela saísse. A Scheila não tinha
sangramento nenhum, o que nos permitiu aguardar o tempo que fosse necessário
até a dequitação.
Houve uma laceração de grau 2 no períneo, a Honi suturou com
alguns poucos pontinhos, e tudo certo. O ambiente da casa era de festa, e só
saímos de lá às 9:30h da noite, depois do jantar preparado pela vovó Rosângela.
Scheila e Nilson... não sei nem expressar aqui em palavras o
que vivi nesse dia. Presenciar esse momento tão maravilhoso da vida de vocês me
fez amá-los ainda mais, e admirar ainda mais essa cumplicidade que vocês têm.
Que Deus os abençoe em cada passo dessa deliciosa jornada que é a
paternidade... e que o coração de vocês continue sempre impregnado das
lembranças maravilhosas que o nascimento do João deixou! =D
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi Mari, estou de 32 semanas e cheguei ao seu blog pesquisando sobre partos normais/ naturais.. Estou bem mais tranquila, porque desde o início da gravidez quero ter parto normal. Mas ainda tenho al primas dúvidas e um certo medo! Tenho medo de passar por uma cesárea ou episiotomia sem necessidade Vou deixar meu contato, se poder responda por favor! lesprotte@gmail.com
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