Essa semana
conversava com uma grande amiga minha que está vivendo um conflito comum a
muitas mulheres modernas: o desafio de conciliar a maternidade e a volta à vida
profissional. Já perdi as contas de quantas vezes esse foi o assunto de
conversas com outras amigas que também passaram pela mesma situação... e eu
mesma já vivi (e vivo!) a experiência na pele com as minhas duas filhas. Escrevo
hoje para responder a essa amiga, que passa por um momento de decisão sobre sua
carreira profissional, e pediu abertamente minha opinião a respeito.
Minha
intenção ao escrever sobre o assunto não é dizer o que está certo ou errado. Longe
disso. Só pretendo instigar as mães (e as que estão planejando!)
a refletirem com muito carinho sobre o assunto, e não tomarem decisões iguais a
todo mundo sem pensar seriamente. Ninguém é mais mãe ou menos mãe pelo fato de
concordar ou discordar das minhas ideias, este texto reflete apenas minha
OPINIÃO PESSOAL. Baseada nestes argumentos, tomei a decisão de deixar meu
trabalho quando minhas filhas nasceram, e ficar com elas o tempo que eu senti
que foi necessário para o seu desenvolvimento saudável. Acredito que fiz uma
escolha bem pensada, depois de pesar os prós e os contras. Assumi as
consequências da minha decisão, e hoje colho os frutos do que plantei. Pra mim,
frutos doces e recompensadores.
Diferenças
entre os gêneros
A mulher
não é igual ao homem. Graças a Deus, a complementaridade entre os gêneros surge
justamente das diferenças. Os bons estudos científicos apontam que até mesmo o
funcionamento cerebral é diferente entre nós e eles. A mulher é muito mais
sensitiva, usa mais o lado emocional do cérebro em tudo o que faz. Os relatos
da pré-história já indicavam que era o homem que saia para caçar e pescar,
enquanto a mulher se dedicava aos filhos e à agricultura. Só para exemplificar,
é exatamente essa nossa sensibilidade apurada que nos torna capazes de perceber
quando algo não anda bem só pelo olhar que o filho chegou em casa. Fomos
desenhadas e criadas para sermos o Coração da casa. E que maravilha quando uma
mulher assume com alegria esse papel! Os seus braços se tornam o refúgio, o
lugar seguro pra onde os filhos e até o marido podem se aconchegar.
O homem foi
projetado para ser a Cabeça da casa. Foi dotado de qualidades que o tornam
forte para prover o sustento da casa e estar preparado para direcionar a
família nos momentos de dificuldade. É capaz de agir mais racionalmente e focar
um objetivo, uma meta, para a qual guiará seus passos. Se ele agisse guiado
pelas emoções, como a mulher, certamente se fragilizaria com mais facilidade
diante dos desafios que estão diariamente presentes na vida de qualquer família
normal.
Como
Mulher, não vejo essa diferença com maus olhos. Não nos torna inferiores nem
merecedoras de menos respeito. Não somos melhores e nem piores. Acredito que é
justamente aí que reside a complementaridade do casal. Precisamos um do outro,
acrescentamos um ao outro, e isso é realmente maravilhoso e engrandecedor, se
bem compreendido. Se cada um desempenhar bem o seu papel, pode-se alcançar o
tão almejado equilíbrio familiar.
A “vocação”
da mulher moderna
Nós fomos
educadas de forma muito diferente que as nossas avós. Elas eram preparadas
desde cedo para assumirem com carinho os cuidados com a casa e os filhos, e
cresciam acreditando que encontrar um bom marido e com ele ter os seus filhos
era sinônimo de realização plena. Felicidade certa.
Em algum
momento da nossa história da humanidade (aqui não cabem todas as discussões acerca
deste tema!), isso já não foi mais suficiente. A mulher precisava ser igual ao
homem, em todos os sentidos. Precisava ter os mesmos direitos, e graças a Deus
tivemos inúmeras conquistas nesse vasto campo da desigualdade de gêneros. E,
para que a mulher fosse realmente “ igual” ao homem, ela também poderia (e
deveria) estar inserida no mercado de trabalho tanto quanto ele.
Claro que
nenhuma mudança se faz sem algumas perdas. Se, por um lado, foi muito bom para
a mulher poder escolher uma profissão, estudar, contribuir com a renda familiar
e seguir a carreira dos seus sonhos, por outro lado, a família tem padecido.
Como bem explica o pediatra Dr. José Martins Filho, nossas crianças têm sido
“terceirizadas”. Os primeiros anos da infância, aqueles que comprovadamente
definem a personalidade que nossos filhos terão na vida adulta, tem sido
entregues nas mãos de outros cuidadores.
Não tenho
dúvidas que qualquer mãe que preze seu papel pensa muito bem antes de deixar
seu filho com um desconhecido. Algumas vezes, essa é a única opção para que não
falte o mínimo necessário para a sobrevivência. E tenho pra mim que essas mães
guerreiras hão de receber uma recompensa proporcional d’Aquele que as designou para
tal tarefa.
Novamente,
não estou falando das mães que não tem outra opção. Quando não há outra
possibilidade, quando o sustento da casa depende da contribuição financeira da
mãe, infelizmente, é o que é possível. Não há que se discutir. E acredito que
essas mães são tão mães quanto qualquer outra (ou talvez até melhores!).
O fato é
que tenho visto muitas mães deixarem seus filhos pequenos (bebês de colo) para
trabalhar sem pensar seriamente se isso é mesmo necessário. Se tornou tão comum
ver escolinhas lotadas de bebês com 4 meses ou menos que nos parece seguro,
inofensivo e até adequado. Se todo mundo faz, que mal tem que o meu bebê também
fique na escolinha? (algumas vezes, o dia todo...)
Quanto mais nossa sociedade se modernizou,
mais acreditamos que, para sermos felizes, precisamos ter dinheiro para
consumir. Se eu não posso comprar, gastar, comprar o que é necessário (e o que
não é também), então não sou uma pessoa bem sucedida na vida. Agora, a mulher
também precisava trabalhar, sem deixar de lado suas outras tarefas (casa e
filhos). Desde pequenas, ouvimos nossos pais nos dizerem que deveríamos
estudar, trabalhar, ter uma carreira bem sucedida e uma conta bancária bem
gorda, para não dependermos financeiramente do nosso cônjuge e não precisarmos
ficar em casa cuidando da casa e dos filhos. Nos ensinaram que é assim que
seríamos felizes (Ou foi só na minha casa???).
Aí é que
nasce o problema. Nossa natureza continua sendo feminina. Quando a mulher
precisa assumir o papel de ser Cabeça, junto com o marido, pode acontecer que
deixemos esquecida parte da nossa essência feminina. A preocupação com o sustento da casa e a
necessidade de tornar-mo-nos “fortes” para enfrentar as dificuldades
financeiras acabam forçando nossa sensibilidade a transformar-se em dureza,
firmeza, fortaleza. Não raro aparecem as dores de cabeça, as cólicas
menstruais, mastites...
A decisão
de deixar o trabalho
Lembro até hoje de quando fui levada a pensar seriamente
sobre esse assunto. A Fernanda, minha primeira filha, já tinha quase um aninho,
eu havia deixado meus 2 empregos pra ficar com ela em casa, mas no fundo já
estava inquieta por me sentir “ fracassada” profissionalmente. Ao mesmo tempo
que meu coração de mãe pulava de alegria por estar com ela em casa,
acompanhando cada nova conquista, quando alguém perguntava se eu estava
trabalhando, eu dizia que não, e lá dentro a minha mulher do século XXI
reclamava, dizendo que essa não era a vida que eu deveria estar levando. Eu
queria ficar em casa, queria maternar, mas não estava em paz.
No
casamento de um amigo encontrei a Juliana, que é uma amiga muito querida, uma
mulher de Deus e uma mãe exemplar (pra mim!). Ela estava com seu caçulinha de
40 dias no colo, o Gabriel, e me contou que havia parado de trabalhar quando o
seu filho mais velho nasceu e que iria ficar em casa com os meninos até que o
mais novo completasse 4 anos.
Juliana e eu |
Confesso
que fiquei “chocada” na hora: 4 anos? Afinal, eu já estava há quase um ano em
casa e estava achando que era grande coisa (já que todas as minhas amigas
haviam voltado ao ritmo normal de trabalho pouco tempo depois de se tornarem
mães). Mas sabe quando dá um “click”? Alguma coisa mudou dentro de mim, e
comecei a me questionar: o que é mais importante?? Será que vai fazer tanta
falta assim se eu não trabalhar?
Depois
desse dia, passei a observar as histórias de outras mulheres que também haviam
decidido dedicar-se à maternidade, e aos poucos aquela inquietação que eu tinha
foi se esclarecendo. Essa virada dentro de mim me tranquilizou, me acalmou, e
me fez repensar muita coisa. Senti que não deveria voltar ainda a trabalhar em
tempo integral.
A volta ao
trabalho
Quando a
Fernanda tinha 1 ano e 4 meses me chamaram na UNIOESTE (havia participado de um
processo seletivo para dar aulas para o curso de Fisioterapia), com uma carga
horária que tomaria cerca de 20 horas semanais. Pensei, conversei com meu
marido e senti que daria conta de conciliar essa quantidade de trabalho com o
tempo que queria dedicar pra minha pequena. Organizei os horários das aulas pra
que coincidissem em sua maioria com os horários das sonecas dela (no comecinho
da manhã e após o almoço), e deu certo. Quando ela acordava eu era dela.
Deixava todas as minhas aulas pra preparar à noite, depois que ela dormisse (e
isso às vezes ia madrugada afora), pra poder sobrar mais tempo durante o dia.
Fomos muito no quintal, lemos muitas historinhas, passeamos muito...
Quando
resolvi que ela já estava pronta pra ir à escola (com 2 anos e meio), mudei
novamente meus horários de trabalho para o período da tarde. Assim, as manhãs
eram pra ela, à tarde ela ia pra escola e eu ia trabalhar (das 13:30 às 17:30h),
e depois disso estávamos juntas novamente. Lembro que a professora dela comentou
que, mesmo trabalhando há anos com a educação infantil, nunca tinha visto uma
criança tão bem preparada para a escola. A adaptação foi ótima, e eu estava
tranquila por ter dado o que ela precisava no momento certo.
Continuei
trabalhando meio período, até que veio a Alice. Aqui cabe uma observação:
quando a Fernanda nasceu, foi fácil largar dos 2 empregos, porque o que eu
ganhava não era assim tão compensador, e acabaria dando só pra pagar uma
escolinha pra deixar ela. Então, se era pra trabalhar só pra pagar a escola,
era melhor eu mesma cuidar. Mas dessa vez foi diferente. Nessa época, meu emprego
como professora era muito melhor financeiramente. A Alice nasceria no fim do
meu contrato (que era por 2 anos), eu tive a oportunidade de me inscrever
novamente para o teste seletivo, e certamente seria aprovada. Mas isso
implicaria em retornar ao trabalho com um bebê de 2 meses em casa (o estado
oferece os 6 meses de licença, mas como meu contrato era por prazo determinado,
pra ser recontratada eu teria que abrir mão da licença). Não pensei duas vezes:
simplesmente não me inscrevi para a prova.
Meu marido
concordava comigo a respeito da minha maneira de educar a Fer, sobre o meu
desejo de dedicar meu tempo e atenção pra ela, mas nessa hora o financeiro
estava pesando mais. Ele tem um bom trabalho, graças a Deus, mas só com ele
trabalhando, não daria pra guardarmos dinheiro para a entrada de um
financiamento de uma casa. Nós já temos 6 anos de casados e ainda moramos em
uma casa alugada, até hoje, porque decidimos que o melhor investimento seria eu
ficar em casa com a Alice. Ele me apoiou mesmo com um pouco de receio no momento, mas hoje concorda que escolhemos o melhor caminho. Temos o resto da vida pra comprar uma casa, tenho o
resto da vida pra trabalhar, mas os primeiros anos da vida das nossas pequenas
não vão voltar.
Os bons
estudos já mostraram que a personalidade da pessoa se forma até os 6-7 anos de
idade. E justamente nessa idade, muitas pessoas acreditam que não há problema
algum em deixá-las sob os cuidados de um terceiro, ou de uma escola, que não
tem com a criança o mesmo vínculo que os pais. Não se trata simplesmente de
encontrar alguém que alimente, dê banho e tome conta dos nossos filhos.
Fiquei em
casa com a Alice, curti cada instante da maternidade, aproveitei pra ficar com
a Fernanda durante a manhã também (ela estuda à tarde), e não me arrependo nem
um pouquinho da decisão que tomei. E dessa vez, pra mim, estive em paz. Minha
cabeça já era outra, e eu sabia que a melhor coisa a fazer neste momento era
ser MÃE, com todas as letras. Acabei nem ganhando a licença maternidade, porque
meu contrato encerrou assim que a Alice nasceu, mas nos organizamos em casa de
forma que não fez falta. Passamos nós mesmos a fazer o serviço da casa, passei
a acordar mais cedo pra lavar roupa, mas não dá pra descrever o sentimento de
realização cada vez que estava com as meninas, dando o que de mais importante
eu poderia dar pra elas: nem brinquedos novos, nem roupas caras, nem uma
festinha de aniversário que me custaria um olho da cara. Estava dando EU MESMA.
Nesse ano
eu avanço um passo nessa minha caminhada. A Alice está com 1 ano e 8 meses, e
eu novamente vou voltar a dar aulas, um período por dia. Acredito que vá
conseguir organizar meus horários na faculdade no início da tarde, quando ela
dorme bastante (umas 3 horas seguidas!), de forma que ela não vai sentir tanto
a minha falta. Continuarei em casa pelas manhãs, tendo tempo pra brincar no
quintal com as duas quando elas acordarem. Sinto meu coração tranquilo, e não,
não estou frustrada profissionalmente. Não “parei” a minha vida para cuidar das
minhas filhas. Minha vida mudou quando elas chegaram, e hoje minha vida são
elas! Minha prioridade são elas.
Dificuldades
Já ouvi
inúmeros comentários no sentido de que a mulher não deve deixar de trabalhar
para não se sentir frustrada, por abandonar sua carreira profissional, e quem
sabe um dia ainda ficar depressiva, pois depois que os filhos crescerem e forem
embora ela ficaria sozinha e sem sentido pra sua vida. Respeito essa opinião,
mas pra mim ela não é verdadeira. Não acho que a mulher deva ABANDONAR sua vida
profissional, mas tenho certeza de que faz toda a diferença se ela REDUZIR seu
ritmo de trabalho, pelo menos nos primeiros anos da criança. A meu ver, seria perfeito
se toda mãe pudesse ficar em casa no primeiro ano de vida de seu filho, e
depois disso pudesse trabalhar em tempo parcial, tendo ainda um tempo pra
dedicar atenção até que a criança já esteja maior (até que idade? Ainda não
sei, não cheguei nessa fase ainda! Minha primogênita só tem 4 anos! Rs!). E,
quando for a hora, a mulher pode voltar ao seu ritmo anterior de trabalho...
Acredito que a realização pessoal da mulher não consiste apenas em ter uma
carreira bem sucedida. Passa por ela, é claro, mas também em saber que ocupou
sua vida para cumprir sua missão primeira, que é a Maternidade.
Tá, eu sei,
pode parecer utópico. Vivemos num país no qual muitas famílias realmente
PRECISAM da renda da mulher, e não há outra escolha. As mães que NÃO TEM outra
opção, certamente serão recompensadas por Deus... Ele há de amparar esses
pequenos que precisam ficar longe das suas mães. Mas nem sempre é assim, às
vezes a mulher tem a escolha de enxugar o orçamento e ficar em casa, mas não o
faz pelo simples fato de nunca ter pensado seriamente a respeito! Outra
situação para a qual eu não tenho uma resposta é quando a mãe é funcionária
concursada, e tem necessariamente que voltar ao trabalho após a licença, para
não perder o emprego. Quem sou eu para dizer que essas mulheres devem deixar
sua estabilidade? Cada mulher deve avaliar sua real necessidade, e fazer o que
está dentro da sua possibilidade.
Aqui cabe
também um comentário sobre o que definimos como “necessidade”. Esse assunto é
uma questão de prioridades: preciso trabalhar para garantir o sustento da casa,
ou porque eu preciso comprar todo mês uma roupa ou um sapato novo? Será que
precisamos mesmo trocar de carro ou de celular todo ano? Será que precisamos
ficar longe das nossas crianças quando são ainda tão pequenas, para ter
dinheiro e poder comprar os brinquedos caros que eles nos pedem, com os quais
nunca teremos tempo pra sentar e brincar com eles? O consumismo da nossa
sociedade nos convenceu de que precisamos sempre de mais alguma coisa, nunca
temos o suficiente. E isso é sério... Será que dinheiro é sinônimo de
felicidade? Meu marido sempre me conta com alegria os fatos da sua infância,
mesmo tendo passado muita necessidade. O pai, que era carpinteiro, trabalhava
sozinho para garantir o sustento da casa, enquanto a mãe ficou em casa para
cuidar dos cinco filhos. Não tinham nada além do essencial para viver, mas
tinham o mais importante... e eram felizes! Não quero dizer com isso que esse é
o modelo correto de família, mas que é possível ajustar o padrão de vida temporariamente
para dedicar-se ao que é mais importante... Você já pensou sobre isso?
Chego hoje
à conclusão de que é muito bom “permitir-se” mudar de ideia. Eu mesma tinha
outros conceitos, outra ideia de como viveria minha vida depois dos filhos, mas
fui aos poucos moldando o que hoje considero como melhor. Quem quiser saber
mais sobre o assunto, um autor que me ajudou muito nesse processo de mudança e
de amadurecimento foi o Dr. José Martins Filho, pediatra que admiro e respeito
como profissional que busca incentivar um novo (será novo?) modelo de família
moderna. Seu livro “Crianças Terceirizadas” é maravilhoso, assim como os
demais, e aqui e aqui você encontra links para duas palestras dele que gosto
muito.
Que cada
uma de nós saiba avaliar com amor e sabedoria as decisões que tomar. Que nossa
Maternidade seja consciente, pensada, e sempre conduzida para o Amor!
Ajudando a mamãe a estender roupas |
Bolinhas de sabão no quintal! |
Princesas da minha vida! |