"Depois de passado um ano, ponho-me a escrever meu relato de parto. Faz tempo, mas o tenho extremamente vivo na memória, como se fosse ontem. É do tipo de coisa que não se esquece, pois te transforma de tal forma que não há volta.
Quando engravidamos, eu e marido, não pensava
muito no parto em si, aproveitei cada fase: os primeiros exames, saber o sexo,
ler sobre as transformações que meu corpo estava passando, montar o nosso ninho
para recebê-lo. Não pensava muito ainda na via de parto, a única certeza era a
de que queria esperar pelo menos um sinal de que o Felipe estava pronto para
nascer. Cesárea agendada, não.
Conforme a barriga foi crescendo e o tempo
passando, comecei a ler bastante a respeito do parto normal e, assim, me
empoderando. Cada relato de parto que eu lia eu pensava: "Eu não posso
passar pela vida sem viver isso!" Assim, com 28 semanas, estava decidida:
o Felipe viria ao mundo através dele. Claro que não é tão simples assim, teve
muita resistência por parte do médico, o qual meu marido confiava muito,
dificultando trocar. Eu, muito convicta, encarei então convencer o médico e
mostrar que seria do meu jeito. Conversei com a Mari, doula e ex-colega de
faculdade, que me apresentou a Honielly, enfermeira obstétrica. As duas me
acompanhariam e então pronto. Mente tranquila que daria certo dessa forma.
No dia 04 de novembro de 2013 completei as 40
semanas. A ansiedade tomando conta, pois as pessoas próximas sabiam da minha
vontade e começaram a perguntar sobre o nascimento (gestantes, mintam sua idade
gestacional, comprem seu sossego!). A Honi veio em casa, conversamos, ela nos
tranquilizou e pediu um pouquinho mais de paciencia, pois já havia esperado até
agora, faltava pouco.
Nas duas noites seguintes tive cólicas leves, mas
nada que me atrapalhasse o sono. Na noite de quarta para quinta-feira, 06 para
07/11, as cólicas se intensificaram, chegando a me acordar e me obrigando a
virar de lado para acalmar. Mas na minha cabeça ainda não era nada. As 7 da
manhã levantei e fui ao banheiro, quando então saiu o tampão mucoso. Marido
arregala os olhos e pergunta: "O que faço agora?". Me mantive muito
calma e disse que ele fosse trabalhar , que qualquer coisa eu o chamaria. As
contrações começaram e avisei as meninas que me orientaram a anotar os
intervalos e a duração, para confirmar o trabalho de parto.
Assim passei a manhã: arrumando as coisas do
Felipe para levar ao hospital, arrumei minhas coisas, enfim. Pensei que se
continuasse daquela forma, tava fácil! Ao meio dia, novo contato com as
meninas, a Hony me orientou que eu fosse para o chuveiro e ali ficasse por um
tempo, para vermos que rumo as coisas tomavam. Assim o fiz, deitei, tentei
dormir um pouco mas já estava complicado ficar deitada, estava desconfortável.
Lá por três da tarde as meninas chegaram em casa,
marido também. As contrações mais fortes e longas, mas tentava respirar e
relaxar os ombros durante elas. E entre elas a conversa rolava solta. Ao chegar
a Hony quis fazer um toque para ver como estava: 3cm. Mas como o processo
estava bem tolerável, fiquei tranquila.
Cara de contração |
Maridoulo!!! |
Massagem, bola, conversa, tranquilidade, ventinho... =D |
A tarde foi passando, as contrações aumentando e
chega um ponto que era preciso me movimentar, deixar de ficar só sentada, para
que o bebê pudesse descer mais. Andar naquele momento era desconfortável,
muito, mas se era necessário, vamos lá. Na contração, me orientaram que eu
agachasse até passar. Na primeira delas, na garagem de casa, a bolsa estoura.
A partir daí comecei a perder a noção do tempo e
me deixei levar pelo momento. Sabia que estava bem acompanhada e monitorada,
então, nada havia de mal para me acontecer. Fui para o chuveiro e fiquei
deitada sobre a bola, não sei por quanto tempo. Ao sair do banho, já não
controlava minhas pernas e uma vontade de fazer força começa a tomar conta. As
meninas e meu marido foram colocando as coisas no carro para irmos para o
hospital.
Cara de 8 cm, feliz da vida!! (entre as contrações dá pra sorrir, siiiiim!) |
Começando a ficar mais difícil. Apoio, massagem... |
O trajeto até lá foi rápido. Encontramos o
obstetra e subimos para um quarto ao lado de onde o Felipe nasceria. As
contrações já vinham com força e logo em seguida nos transferimos para o outro
quarto. Ali ficamos todos: eu, meu marido, obstetra, doula Mari, enf. Hony e
Heni (irmã da Hony que ela chamou para fazermos um certo volume pra garantir o
nosso parto normal!), aparentemente esperando pelo nascimento rápido... que não
veio! As contrações foram espaçando e ficando mais curtas. Concordamos em usar
ocitocina sintética para ver se as contrações engrenavam novamente. Sem
sucesso. Apesar de ter um relógio enorme na parede, não tenho certeza de quanto
tempo ali ficamos, mas sei que não foi pouco. O cansaço já tomava conta, quando
então decidimos ir para o chuveiro por 15 minutos. Mesmo eu não querendo me
movimentar naquele momento, fomos. Lá fiquei, a Hony sempre me encorajando,
dizendo que faltava pouco, que havia chegado até ali.
Quando voltamos para o quarto, com novo gás, as
contrações engrenaram novamente e exatamente as 3 horas da manhã o Felipe
nasceu! Com 3.250kg e 51cm, veio direto para o meu colo e iniciou a amamentação
logo em seguida. Naquele momento a única frase que me vinha à cabeça era:
"Não acredito que conseguimos!" A dor e o cansaço se foram na mesma hora, dando lugar a uma alegria sem
fim. Não nos separamos em nenhum momento, a não ser para que ele fosse pesado e
os procedimentos com ele fosse feitos (não tenho certeza dos procedimentos que
tomaram com ele, o único que vi foi aspirarem as vias aéreas). Na sequencia ele
já voltou pra mim e comigo ficou por todo o tempo.
(dispensa comentários!!!) |
Momento mais sagrado desse mundo, que não deveria ser roubado de nenhuma mãe e de nenhum bebê! |
Sempre achei a palavra "parir" um tanto
quanto forte, me lembrava bicho tendo seus filhotes. Mas depois que se passa
pelo processo, a gente entende perfeitamente que é isso mesmo: somos mamíferos,
afinal de contas! Parir exige se livrar de todos os pudores, enfrentar o medo
para que a coragem te permita lutar e defender sua cria. E a sensação que se
tem durante o processo é justamente a de um bicho mesmo: só dá vontade de ficar
no seu canto, na posição que a gente escolhe, quietinha (sem ficar ouvindo
asneiras!), porque aquele é o SEU momento! Ninguém deveria ter o direito de
intervir, porque parir é seguir instintos, mas quais instintos sobrevivem a
intervenções desnecessárias, um ambiente frio e controlado como um centro
cirúrgico?
Família completa!! |
Me perguntam muito da dor, o maior medo das
mulheres quando se fala em parto. Sinceramente, a única hora que lembro de ter
sentido dor mesmo foi quando ele coroou, o famoso "círculo de fogo".
Ardia muito e esperar pela próxima contração para que ele nascesse foi
interminável naquele momento. Mas de todo o resto do trabalho de parto em si,
digo pra quem me pergunta que se eu tivesse dez filhos, seriam todos de parto
normal. Comparo-o a um evento agudo: são horas que se arrastam, mas são horas!
Gerar por nove meses para parir em horas, dá pra levar, não dá? Dá! E posso
dizer com todas as letras: vale cada minuto!!!"
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