terça-feira, 16 de agosto de 2011

Relato do Parto da Solaine - Parte II

(continuação desse relato aqui)


A caminho do hospital liguei pra minha amiga, Dra. Taciana, que (coincidentemente) era a obstetra de plantão. Ela disse que a maternidade estava lotada (era pelo SUS), e seria melhor esperar mais um pouco em casa. Se eu tivesse ligado antes de sair de casa teria sido diferente, mas só lembrei quando já estávamos quase chegando. A Taciana disse que daria um jeito de tentar liberar algum quarto pra ela (e ela fez o que pôde, querida!), mas enquanto isso ficaríamos na recepção aguardando. Aguardando na recepção a liberação de uma vaga

Tenho pra mim que a partir daqui o rumo do parto da Sol foi mudando, de acordo com as “condições” a que ela foi submetida. Ficamos mais de uma hora na recepção do hospital aguardando pro internamento, o que não foi NADA bom pra ela. Apesar de ela estar muito tranqüila, quando vinham as contrações ela não podia ficar à vontade, tentava disfarçar pra não chamar atenção das outras pessoas que estavam lá. Quando (finalmente!) ela foi chamada pra consulta de admissão, a Dra. Taciana avaliou e constatou quase 6 cm de dilatação. Ainda estavam higienizando o quarto de uma gestante que tinha tido alta, e a Taci nos encaminhou (eu, a Sol e o marido) pro corredor da maternidade.

Caminhando no corredor com a Sol...

Nesse meio tempo, eu fiquei meio sem ter o que fazer, me senti bem amarrada... e a Sol também. A Taci viu que eu estava sem fazer nada e veio me chamar pra acompanhar uma outra gestante que estava bem desesperada, com 9 cm de dilatação. Estava já há quase 24 horas em trabalho de parto, e o medo e a ansiedade só pioravam a situação e não permitiam que o bebê descesse na pelve. Segurei na mão dela, fiz massagens na lombar durante as contrações, ajudei-a a se sentar, e algum tempo depois a Taci avaliou novamente e disse que a apresentação do bebê já estava bem baixa. Acabei acompanhando o parto dela no centro cirúrgico, segurei a mão dela, e apesar de tudo, no outro dia, ela estava contando vantagem pras outras gestantes, dizendo que se não fosse “um anjo” que apareceu lá ela não teria conseguido (é claro que teria, né?).

Quando voltei do centro cirúrgico, a Sol e o Joce já estavam no quarto, junto com outra gestante e o seu acompanhante. Ela estava visivelmente mais tensa, sentindo mais as contrações, mas ainda no controle da situação.


Presença do pai durante todo o trabalho de parto!

Mas, fazendo uma pequena pausa pra reflexão, o fato de ter ficado junto com outra gestante que já estava quase parindo (que chorava e fazia muitas reclamações) acabou assustando a Sol. Além disso, a presença de estranhos no lugar não dava nenhuma privacidade, ela estava sendo observada a todo instante. E já não bastassem os “companheiros” do quarto, volta e meia aparecia algum profissional da equipe, ou um estagiário (a maternidade é um hospital escola), ou... E esse entra e sai deixaria QUALQUER parturiente com a ocitocina lá embaixo. Essas situações todas foram (hoje eu vejo!) determinantes pro desfecho desse parto.


Depois de muitas massagens, senta, levanta, vai pra bola, vai pro cavalinho... Uma enfermeira veio fazer um novo toque, já eram cerca de 3 horas da tarde. Resultado: 7 cm... Haviam se passado mais de 4 horas, e ela só havia dilatado mais 1 cm. Senti na hora a frustração dela, que instantaneamente “desanimou”. Confesso que, nessa hora, desejei muuuuuuuito que ela já estivesse bem avançada, pois a situação toda que acontecia ali não tinha como ser mudada... o quanto antes ela parisse era melhor. Depois que a enfermeira saiu, sugeri um banho, e a Sol aceitou. Fiquei com ela uma meia hora no chuveiro, massageando a lombar e direcionando o chuveirinho na barriga. Depois que ela saiu do banho foi de novo pra bola, deitou um pouco, sentou de novo, e eu e o Joce alternando nas massagens e abanando ela durante as contrações. Lá pelas 5 horas da tarde, a Dra. Taciana veio novamente fazer toque... 7 cm de novo! Nesse ponto a Taci decidiu romper a bolsa, pra ajudar a acelerar o processo. E, realmente, depois da amniotomia, as contrações aumentaram muuuuuito, e a Sol passou a não saber mais como lidar com elas. A essa altura já sentia o cansaço de não ter dormido nada na noite anterior, sentia um pouco de fraqueza (até ofereceram gelatina e pirulito no hospital, mas não parava nada no estômago, ela havia vomitado algumas vezes)...

Desse ponto em diante eu (olhando de fora) considero que foi o trecho mais difícil da caminhada dela. Vi ali uma mulher determinada, deixando de ser “filha” pra virar MÃE, dando tudo de si pra trazer seu bebê ao mundo. Em alguns momentos eu e o Joce a lembrávamos do porquê de tudo aquilo, que ela precisava resistir ainda mais um pouquinho, e logo teria a princesinha nos braços. Em alguns momentos a abracei, segurei suas mãos, enxuguei sua testa... Mas depois que a bolsa foi rompida o intervalo entre as contrações reduziu muito e ela já não conseguia descansar entre elas. Ela só conseguia ficar deitada, e era visível a tensão no corpo todo. Fomos ainda mais uma vez pro chuveiro, e lembro de ela ter comentado “Mari, você não me disse que ia doer tanto!” Não era só a dor física... era também a "dor" de não poder sentir-se aconchegada em um dos momentos mais importantes da vida dela!

(continua no próximo post, com o final da história!!)

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